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:: 22/jul/2024 . 22:01

NAS SALAS DOS PACIENTES

ESSES PROFISSIONAIS DA MEDICINA, RECEPCIONISTAS E DA ÁREA DE SAÚDE EM GERAL DEVERIAM SER CHAMADOS DE PACIENTES, E OS DOENTES DE IMPACIENTES. TEM COISAS QUE NÃO CONSIGO ASSIMILAR.

O termo paciente dado às pessoas que ficam numa sala à espera de uma consulta médica; fazer ou receber os resultados de exames, seja através do SUS ou particular, deveria ser impaciente. Numa clínica ou numa unidade hospitalar, o ambiente é tedioso, sombrio e estressante, para não falar de medo, principalmente nos consultórios odontológicos, ouvindo aquele chiado da máquina de triturar dentes. Pior ainda é uma cirurgia na boca.  Eu que o diga.

Nunca entendi esse negócio de paciente. A impressão é que essa gente da área de saúde que assim nos classifica teve a intenção de tripudiar e gozar com nossas caras. Nessas salas, fica um olhando para o outro com ar de impaciente e na expectativa da sua hora de ser chamado. O tempo parece parar.

O paciente, ou impaciente, fica naquela ansiedade danada da sua vez, principalmente quando é na base das senhas, caso das centrais de marcação do setor público. Os hipocondríacos tocam a falar como matracas, justamente de doenças, ao invés de um papo mais ameno e descontraído. Deveria existir uma lei proibindo conversar sobre esse assunto nas salas de pacientes, ou impacientes.

Você já procurou observar sobre a prosa que mais rola nessas salas de postos de saúde pública, hospitais e nas clínicas privadas, sobretudo entre aqueles (as) de idade mais avançada? Claro que existe grande diferença dos lugares (saúde pública e privada) em termos de atendimento e conforto, mas as conversas são quase todas comuns, tanto num como no outro. Ai, lá vem a questão das classes sociais, tão desiguais em tudo.

No setor privado, o idoso (a) já chega logo distribuindo suas queixas para a recepcionista ou o recepcionista, antes de entrar no consultório. É um rosário de lamúrias, e coisa é com o médico ou a médica lá dentro.

– Oh, minha filha (o) eu não lhe conto, estou aqui com dores em todo corpo. Dói aqui, dói acolá, e ontem não consegui dormir de noite, levantando e me revirando na cama, sempre indo ao banheiro para fazer xixi. Quase não consegui me levantar. Só na madrugada tirei uns cochilos leves.

Tem paciente que o atendente já conhece sua vida toda, de cabo a rabo, e ao entrar pensa logo consigo: “Ih, lá vem aquele chato (a) mala com suas histórias intermináveis! Haja paciência para aturar!”

No SUS não existe muito isso porque os atendentes ficam num balcão ou guichê com um monte de fichas burocráticas na mão e pouco dão atenção aos pobres coitados. Tratam com estupidez e são mal-encarados, com raras exceções.

O médico chega atrasado e é rápido na consulta, coisa de cinco, dez ou quinze minutos. Estou sendo até condescendente. Existem alguns mais conscientes do seu dever, mas são poucos. O papo é entre os pacientes, ou impacientes, mesmo naquelas cadeiras duras, sem ar-condicionado, ao contrário das salas da saúde privada.

Nas salas privadas tem aquela televisão ligada num só canal com aqueles programas horríveis. Uns ficam assistindo e, ao mesmo tempo, falando de doenças. Outro com o celular na mão o tempo todo e ninguém com um livro, só no meu caso quando vou a uma consulta. Confesso que me sinto como um estranho maluco naquele ambiente, fechado até as tampas.

O hipocondríaco sabe de tudo e anda com um monte de remédios na bolsa para todo tipo de dor. Conheci uma mulher que tinha medicação para tudo, de dor de cabeça a do dedo da mão ou do pé. Coitada, morreu entrevada de tanto tomar remédios!

Confesso até que sou um expert nesse negócio de paciente, ou impaciente em salas médicas. Lembro do tempo que estava fazendo tratamento contra a hepatite C e tomava medicações fortes do tipo Interferon na veia (acho que é o nome certo) que deixava a gente nervoso nos finais de semana e até levava a surtos psicóticos.

Sempre levava e ainda levo meu livro para ler, com cara emburrada, para não falar com ninguém, mas escutava e escuto tudo. Cada um com seu problema de sofrimento para narrar.

Lembro de uma mulher contar para os outros ao lado que, por causa dos remédios fortes, deu um surto de nervosa e quebrou tudo dentro de casa. Me achava um esquisito extraterrestre. Aquela conversa me deixava mais nervoso.

Mesmo com o livro na mão, aparecia alguém querendo entabular um papo, talvez por piedade e compaixão em me ver ali isolado, só lendo, sem interagir com os outros pacientes-impacientes.

– E aí, qual vai ser sua hora com o médico? Como está se sentindo com o tratamento? Para mim está sendo uma barra pesada, cara! Você é mesmo daqui de Conquista? E tome perguntas. Respondia monosolabicamente com ar de que não estava a fim de prosa. A pessoa se recolhia e devia me esconjurar todo em sua mente:

– “Que sujeito mal-educado. Deve ser um revoltado, egoísta, antissocial e fica aí se achando melhor que os outros com esse livro e jeito de intelectual metido a merda. Em mim era aquela agonia e tormento, não vendo a hora do médico me chamar na sala de pacientes, ou impacientes.

 

 





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