:: 18/jul/2024 . 23:43
VOCÊ ME EMPRESTA ESSE LIVRO?
(Chico Ribeiro Neto)
“Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos. Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças” (Fabrício Carpinejar).
“Ela nunca me devolveu “O Pequeno Príncipe”. “O essencial é invisível para os olhos”.
A última vez em que vi o grande jornalista baiano Jorginho Ramos (que nos deixou em abril deste ano) foi na saída do Bom Preço do Chame-Chame. Ele, que era diretor da biblioteca do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, me convidou para ir lá. Falei que iria ao IGHB para conhecer os livros raros. Não deu tempo. Falamos também do saudoso historiador Cid Teixeira e Jorginho lembrou uma frase dele: “Burro não é quem empresta o livro; burro é quem devolve”.
– Você me empresta esse livro? Prometo lhe devolver em 15 dias, no máximo. (Já se vão 8 anos).
Um amigo tinha um recibo impresso (tipo de biblioteca) onde constavam nome do livro, de quem pegou emprestado e a data de devolução.
“Livro de empresta
Se vai não volta
Se volta não presta
Triste do livro que se empresta!” (Tarcísio Araújo).
“Quem empresta, nem para si presta” (ditado popular).
Tem gente que não pega o livro emprestado, rouba mesmo. Um colega do Colégio Central, na década de 60, roubava livros na antiga Civilização Brasileira, na Rua da Ajuda, em Salvador. Na hora em que a livraria estava com muito movimento, ele pegava um livro numa mesa que ficava pelo meio, entre as estantes, folheava-o com toda a calma, como quem lê o prefácio, assinava o nome rapidamente na primeira página e colocava o livro na mochila. Caso fosse apanhado no flagra ele reagiria: “O livro é meu, veja que já está assinado!” Nesse dia em que o acompanhei, deu tudo certo, mas fiquei apenas de olheiro. Acho que Deus deve perdoar quem rouba livros para ler.
Outro amigo costumava surrupiar livros da Biblioteca Pública do Estado, mas não sei qual era a tática. Por falar em biblioteca, o jornalista Alberto Oliveira resolveu recentemente doar cerca de mil livros, alguns raros. Diz ele: “Não vi destino melhor que uma biblioteca pública. Fui à Juracy Magalhães, no Rio Vermelho. Fizeram-me uma exigência: enviar, por email, uma lista de todos os livros, fotografando-os um a um, para que pudessem decidir se aceitam a doação. É evidente que não insistirei em levar livros a quem, aparentemente, deles não precisa”.
As pessoas também emprestam dinheiro, mais difícil de devolver do que o livro.
“Antes de emprestar dinheiro a alguém, verifique de qual dos dois você gosta mais” (ditado popular).
“Um banco é um lugar que te empresta dinheiro se conseguires provar que não necessitas dele” (Bob Hope).
Vamos emprestar mais beleza à nossa alma. Tomara que ela não devolva.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
ENTRE A BELEZA E O PERIGO
Nas cidades médias e grandes, as pessoas pouco observam as belezas da natureza. Mesmo saindo de casa ao amanhecer, praticamente ninguém admira o raiar do sol, a aurora, nem tampouco o entardecer do pôr-do-sol quando retorna para seu lar. Muito diferente do homem do campo que ainda eleva seu espírito para a criação e seus mistérios. Na beleza também, como na imagem dos pinheiros ao lado do Centro de Convenções Edivaldo Franco, na Avenida Rosa Cruz, como se fossem torres de catedrais, no alto também está o perigo da fiação entre os postes de energia. É preciso parar e olhar para o invisível visível. Como a imponência dos pinheiros que juntos parecem orar e bendizer, do outro lado, num quintal, está uma velha árvore, cuja copa pendeu-se toda para o passeio da rua. Quem passa sente rapidamente penetrar num túnel de galhos e folhas, mas lá também está o perigo dela tombar em alguém por falta de uma poda por parte da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. O que faz uma cidade bonita não é a engenharia arquitetônica dos seus prédios e de seus casarões, mas a cobertura florestal. Vitória da Conquista, por exemplo, ainda deixa a desejar em termos de arborização, apesar do seu clima ameno. Precisamos de mais beleza como estas clicadas pelas nossas lentes, mas sem o perigo para seus moradores.
SERRA DOS BEM-TE-VIS
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Nasci menino nordestino,
Na Serra dos Bem-te-Vis,
Agreste de pinturas rupestres,
Parente do Neandertal,
Que navegou
Entre águas doce e de sal;
Fui laçado
Pelo existir do destino;
Enfrentei batalhas,
Em meu cavalo a galope,
Sobrevivi ao golpe;
Criei cicatrizes,
Nos fios das navalhas;
Mantive minhas raízes,
Da Serra dos Bem-te-Vis.
Cai e levantei;
Sei o quanto sofri
Nesse sistema brutal,
Quando rasgaram
Minha mente,
Nela colocaram um chips
De lavagem cerebral,
Mas nunca esqueci
Da Serra dos Bem-te-Vis.
No céu embaçado do inverno,
Cambaleando segui em frente;
Imaginei estar no inferno,
Na guerra dessa gente;
Revigorei minha alma,
No amanhecer do sol de verão,
Nos passos firmes
Do meu bastão,
Lá da Serra dos Bem-te-Vis.
Escalei montanhas;
Atravessei oceanos;
Conheci suas entranhas,
Solitário vivi, pedras removi,
Desde a Serra dos Bem-te-vis.
Lá na Serra dos Bem-te-Vis
Não apodrecem os sentimentos,
Nem existem intrigas verbais,
Que vão parar nas redes virtuais;
Não envelhecem
Os corações juvenis,
Lá na Serra dos Bem-te-Vis
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