Estou finalizando a leitura de “Assim Falava Zaratustra”, de Nietzsche, um filósofo ateu, complexo e um ponto fora da curva do século XIX que, para começar, menospreza, deprecia os poetas e as mulheres. Para ele, só as mais velhas são mais sensíveis e maduras que merecem atenção. Quanto aos poetas – por ironia, sua linguagem é quase toda poética entre metáforas e parábolas – são mentirosos e enganadores fúteis.

Bom, vamos a alguns de seus pensamentos, os mais lúcidos e que nos servem de ensinamentos para a vida. No capítulo “DE PASSAGEM”, depois de atravessar muitos povos e cidades, Zaratustra retorna para sua montanha e sua caverna. De passagem, ele se depara com um louco na porta da cidade, que o povo o chamava de “macaco de Zaratustra” porque imitava o próprio em sua linguagem e pensar.

O louco abriu os braços e disse que ali Zaratustra nada tinha a procurar, mas tudo a perder. Ali era um lamaçal! “Isto é um inferno para os pensamentos dos solitários. Aqui se cozinham vivos os grandes pensamentos, aqui se reduzem a papa. Aqui apodrecem todos os grandes sentimentos…”

O “macaco” continuou a falar para Zaratustra: “Não percebes como aqui o espirito se tornou um jogo de palavras? Cospem repugnantes intrigas verbais! E dessas intrigas fazem, os de cá, ainda jornais (hoje poderia ser redes sociais).

“Provocam-se sem saber porquê. Entusiasmam-se e não sabem porquê. Sacodem suas latas, tilintam com seu ouro. Sentem frio e procuram calor na aguardente. Aquecem-se e procuram frescor nos espíritos gelados. Estão todos infectados e contaminados pela opinião pública”.

O “louco macaco” insistiu em lhe aconselhar, afirmando que “eu sirvo, tu serves, nós servimos. Assim rezam ao soberano todas as virtudes hábeis, para que a merecida estrela se prenda afinal ao peito esquálido. A lua, porém, ainda gira em torno de tudo o que é terrestre. Assim também o soberano gira em torno do que há de mais terrestre: O ouro dos lojistas. Aqui corre sangue pútrido, pobre e espumoso, por todas as veias. Cospe sobre a grande cidade, que é o grande depósito onde se acumulam todos os detritos”.

Como se percebe, o diálogo tem sua própria antítese, e Zaratustra manda o “louco” se calar exclamando que ele tem vivido muito tempo à beira do pântano ao ponto de teres convertido em sapo e rã. Por que não te retirastes para o bosque. “Desprezo teu desdém e já que me prevines, porque não te preveniste a ti mesmo?

Zaratustra ficou longo tempo calado e disse: “Também sinto repugnância por esta grande cidade e não só deste “louco”. Aqui e acolá, nada há que melhorar, nada há que piorar”.

“DO ESPÍRITO DO PESO”, na fala de Zaratustra, o Nietzsche ressalta que sua linguagem é do povo. Falo de modo rude e franco para os delicados. “Meu pé é casco de cavalo. Com ele troto e galopo por montes e vales, pelo comprido e de cá para lá, e em toda corrida rápido fico endiabrado de prazer”.

Mais adiante, assinala que aquele que ensinar os homens a voar, destruirá todas as barreiras. “O avestruz corre mais depressa que o mais veloz cavalo, mas também enterra a cabeça na pesada terra. Assim faz o homem que ainda não sabe voar”.

“A terra e a vida parecem-lhe pesadas e é isso o que quer o espírito do peso! Mas aquele que deseja ser leve como uma ave deve amar-se a si mesmo”.

“É preciso aprender a amar-se a si próprio com amor sadio, a fim de aprender a suportar a si mesmo e a não vaguear fora de si mesmo”

“Amor ao próximo”, assim se chama o fato de vaguear fora de si mesmo. É com esta expressão que se tem mantido e fingido mais, especialmente por parte daqueles a quem todo mundo dificilmente suporta”.

“A única coisa pesada, porém, para o homem levar é o próprio homem! É que carrega aos ombros demasiadas coisas estranhas. Como o camelo, ajoelha-se e deixa-se carregar bem”.  Diz que o interior do homem se parece muito com a ostra: Repelente, viscosa e difícil de apanhar.

“Também nos enganamos muito acerca do homem, por haver muita casca pobre e triste de excessiva grossura. Há muita força e bondade ocultas que jamais foram desvendadas…”

“O homem é difícil de descobrir, e ainda mais para si mesmo. A inteligência mente muitas vezes acerca do coração. Isso é o que faz o espírito do peso”.

“Na verdade, também não gosto daqueles para quem todas as coisas são boas e que chamam a este mundo o melhor dos mundos. Chamo-os de oni-satisfeitos”.

“A facilidade de gostar de tudo não é dos melhores gostos. Louvo as línguas delicadas e os estômagos escrupulosos que aprendem a dizer: “Eu” e “Sim” e “Não”.

“Mastigar e digerir tudo, porém, é fazer como os suínos. Dizer sempre sim, isso só os asnos e os de sua espécie aprendem. O que meu gosto deseja é o amarelo intenso e o roxo quente, mistura de sangue com todas as cores. Mas aquele que cai de branco revela ter uma alma caiada de branco”.

“Eu não quero estar ou morar onde toda gente escuta. Este é agora meu gosto: Prefiro viver entre perjuros e ladrões. Ninguém tem boca de ouro. O animal mais repugnante que tenho visto entre os homens chamei-o de parasita. Não queria amar e queria viver de amor”.

“Chamo desgraçados todos aqueles que só podem escolher entre duas coisas: Tornar-se animais ferozes ou ferozes domadores de animais. Não gostaria de erguer minha tenda ao lado deles”