Minha tensão aumenta quando tenho que ir a uma agência bancária para resolver um problema, que seja um simples saque de um dinheirinho. Às vezes, fico adiando o compromisso, mas não tem como se escapar da tortura. Quando chegou no centro, olho para todos os lados da praça e só vejo filas amontoadas no Bradesco, na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil. Aquilo vai me deixando mais desesperado e começo a suar.

Acho que estou com transtorno de pânico e trauma de banco, se esse é o termo correto na psicologia. A primeira batalha é ultrapassar aquela porta giratória que muitas vezes emperra. Depois de vencer a fila, introduzo, meio tremulo, o cartão no caixa eletrônico e recebo uma resposta na tela de que não foi possível fazer a leitura. Passo para outro e acontece o mesmo. Àquela altura, não é mais possível controlar a irritação. Continuo tentando até conseguir. Ufa, que alívio!

Olho para os lados e só vejo filas de pessoas de todas as idades, mais de idosos, naquele curral apertado dos banqueiros. Dia desse fui resolver uns “pipinos” e contei quatro filas, uma para o caixa eletrônico, outra para pagamentos em caixas presenciais, outra para prova de vida (o vivo tem que provar que está vivo) e uma última para pedidos de empréstimos, portabilidades e refinanciamento de dívidas. Ah, ia me esquecendo! Tem ainda a fila da senha.

Quando tenho que ir para essa “guerra de nervos” sempre levo comigo um livro para passar o tempo, mas fixo a atenção na leitura e os ouvidos atentos para as conversas de sofrimentos, queixas, malandragens de gente que quer levar vantagem em tudo (furar a fila) e brigas contra os vigias que ficam ali naqueles currais procurando orientar os clientes, ou pacientes, como queiram.

Ouço coisas estranhas de comadres com comadres, compadres com compadres ou entre um compadre e uma comadre. O papo gira em torno de doenças, de vizinhos chatos, da situação de pobreza no país, fake news sobre determinados fatos, informações deturpadas e outras coisas curiosas que rendem uma boa crônica.

Tem aquele que se faz de “inocente” e vai entrando no meio da fila. Não meu senhor e minha senhora, a fila é lá atrás. Ah sim, desculpe. Uma vez dessa ouvi um diálogo engraçado de um senhor a respeito de uma mulher, dessa “sabida astuciosa” que queria furar a fila.

– Veja só, um dia estou aqui, nesse mesmo lugar, e aí me aparece uma senhora, já meio idosa, não sei de onde, dizendo que estava sentada naquelas poltronas e entrou em minha frente – contava o senhor para uma comadre. Discuti com ela e disse que estava mentindo. A dona não gostou, e ainda me desatacou me chamando de ignorante, que tive uma professora égua. Respondi que realmente era uma égua igual a ela.

Quando chegou minha vez, até que fiquei um pouco mais calmo, mas só estava começando minha cruzada rumo a Jerusalém para combater os turcos, ou os mouros “infiéis”. O atendente mandou que eu procurasse um determinado funcionário do setor específico para meu caso, que me devolveu de volta como se fosse um pacote imprestável para o mesmo lugar.

Afinal de contas quem vai me atender?  Pergunto, já meio alterado. Aguenta coração! Meu pânico e meu trauma se elevam! O cara liga novamente para o colega, e só então, fui recebido. Era quase meio dia, e a barriga já dava sinais de ronco. Era fome mesmo! Só chegando mais gente e os currais mais cheios que antes.

Nesse meio tempo, um moço meio forte, sujeito mulato, tipo com jeito acostumado de passar rasteira nos outros, que queria ser atendido na frente de todos, discutia com o guarda, dizendo que estava passando mal. Meu senhor, se está passando mal, vou chamar o Samu – respondeu o vigia.

Não sei no que deu a conversa. Finalmente, quando já ia embora, naquele sufoco danado de espera, um senhor, visivelmente nervoso, batia na porta de vidro, gritando que queria falar com o gerente. Também não sei no que deu a discussão, ou confusão.

São coisas dos currais feitos pelos banqueiros financistas gananciosos que fecharam agências, demitiram bancários, reduziram o horário de atendimento e espremeram as pessoas numa só unidade. Quando alguém se revolta e parte para a violência – toda paciência e submissão têm o seu limite – chamam a polícia e leva o indivíduo no camburão. É a cara do Brasil, de um povo marcado como gado em curral.