Pela desorganização e bagunça dos nossos governantes, principalmente o federal, pelo negacionismo da ciência, pela falta de consciência do nosso povo, pela falta de uma cultura do distanciamento e isolamento social, por falta de disciplina dos brasileiro e respeito aos outros, mais uma vez vamos ficar sem o nosso encantado e popular São João dos encontros com os amigos e familiares distantes.

É lamentável viver num país sem estratégia, sem planejamento e uma liderança para conduzir seu povo pelo caminho certo. Quando o mau exemplo desce lá de cima, cá embaixo se perde o equilíbrio, a sensatez e a decência. Cada um passa a fazer o que bem entende, com aquele papo furado do direito do ir e do vir, mesmo que se trate de perdas de vidas. É uma imbecilidade. Estamos numa verdadeira nau dos insensatos.

UMA TERAPIA DE VIDA

Tudo indica que mais uma vez vamos ficar nas lembranças das festas juninas da minha querida Piritiba da Bahia, que nos deixam felizes. Pelo menos por uns dias nos sentimos livres de todos os problemas cotidianos da vida corrida. É uma terapia para a mente e o espírito, que supera todas as outras recomendadas por médicos psiquiatras.

Quando lá estou em minha terrinha, me faz lembrar dos tempos do trem cruzando a estação todos os dias, descendo para Iaçu e subindo para Senhor do Bonfim (não propriamente nessa ordem), trazendo e levando passageiros e cargas das mais variadas mercadorias. E o telégrafo com seu tic-tac traduzindo as palavras! As pongas nos vagões e a molecada gritando!

Saudades dos amigos e parentes, como o primo e irmão Roque (já se foi, mas continua entre nós), Leucia, Rossia, Luane e seu marido Dadai, da “diretoria”, Roniere, Diltão, do “dançar pode, fumar não”, Roquinho e sua esposa, Dalmário, João Rico, do poeta, músico e cantor Wilson Aragão, do grande poeta e teatrólogo Carlos Sampaio (meu colega que também se foi), Mirinho, Agamenon, Lane e Margá Barreto e de tantos outros picotando o tempo, jogando conversa fora e tomando umas biritas e geladas.

Minha Piritiba querida onde me fez moleque jogando bola de gude, baba na Praça de terra da “Getúlio Vargas”, esconde-esconde, chicotinho queimado, corridas de cavalo; tomar banho no açude; “furtar” melancia e frutas; andar nos trilhos do trem groteiro; trocar gibis; assistir filme de cowboys; e inventar outras estripulias nas folgas da escola primária da “Almirante Barroso”, ou quando não estava vendendo água em garotes, doces de leite nas ruas e feixes de lenhas nos jumentos. Naquela época ainda era uma Piritiba de terra batida, com luz de motor até às 22 horas, onde poucos tinham o fogão elétrico.

Minha querida Piritiba dos meus pais que possuíam uma terrinha na localidade de “Calderãozinho”, e aos sábados lá íamos nós em tropas para vender a melhor farinha da região na feira. Ela me deu regra e compasso quando fui para outras bandas estudar e ser seminarista, mas sempre lá estava para rever o meu povo; contar os causos; e curtir o melhor São João. Minha querida aldeia da tapioca gostosa de lamber os beiços.

Pois é, tudo leva a crer que mais uma vez (no ano passado não teve festa), essa pandemia da Covid-19 vai adiar nossos encontros memoráveis de muita tranquilidade e curtição, para contar as histórias e as estórias. Não podemos também deixar de citar a pinga catingueira misturada, as corridas de jegues na praça e as quadrilhas que mantém viva a nossa cultura popular.

Alimentam o nosso viver tomar um quentão; comer uma feijoada ou uma carne assada; e até “encher a cara”, sem nenhuma preocupação com o horário de retornar, mesmo andando na fresca do amanhecer. Ah, não posso esquecer da sagrada farofa de Leucia que só ela sabe fazer! Como é bom passar o São João em Piritiba!