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TEM CHEIRO DE ENXOFRE NO AR

Nesse dia de 31 de março de 1964 (na verdade o golpe foi 1º de abril – dia da mentira), o general Olympio Mourão (o outro) desceu a serra de Juiz de Fora (MG) e começou a quebrar com toda ordem constitucional, em nome de uma salvação ilusória de tirar o país das trevas comunistas. Foi o maior atentado à democracia no Brasil que, de início, com uma propaganda midiática dos Estados Unidos de uma Guerra Fria, contou com a adesão de uma camada de civis, da Igreja e até da Imprensa.

Um ano depois, em 1965, esses apoios foram sendo retirados porque a nação se sentiu traída (prometeram eleições livres), e piorou mais ainda com o AI-5, de 13 de dezembro de 1968. Cinquenta e sete anos depois, infelizmente, estamos sentindo esse mesmo cheiro de enxofre no ar, com os generais fazendo Ordem do Dia, negando toda a história, e assegurando que foi um movimento marco da democracia.

OS TORTURADOS POLÍTICOS

Eles poderiam, pelo menos, respeitar a memória dos torturados políticos mortos nos porões fúnebres da ditadura civil-militar (fuzilados e esquartejados) e dos seus familiares que até hoje ainda choram pelos seus entes queridos. Deviam respeitar, pelo menos, esse momento terrível de pandemia da Covid-19 que já matou quase 320 mil brasileiros, uma população inteira de Vitória da Conquista. Eles hoje, que estão encastelados no governo, têm uma grande parcela de culpa por essa mortandade que poderia ter sido evitada.

Monumento na Praça Tancredo Neves, em Vitória da Conquista, em homenagem aos tombados durante a ditadura civil-militar de 1964. Foto do jornalista Jeremias Macário

Eles deveriam respeitar as famílias enlutadas e focar suas energias autoritárias para reparar seus erros, e adquirir vacinas suficientes para imunizar toda nossa população. Não é hora de ficarem ai dividindo e tentando reescrever nossa história, com levianas mentiras. Tudo isso é por conta de uma anistia (1979) que não teve reparação das atrocidades cometidas e deixou as feridas abertas em nossos corações dilacerados.

De lá para cá, o nosso país nunca mais foi o mesmo, vivendo uns altos e baixos em seu desenvolvimento econômico, educacional e social, culminando com esse caos de atraso político ideológico fascista, com cheiro de enxofre no ar. Esse seria o momento de reconciliação, de paz e não de criar mais ódio, intolerância e divisão entre um povo tão sofrido.

Não é momento, e nunca será, senhores generais, de comemorar um passado que só nos deixou más recordações, não importando seus argumentos inconsistentes e não convincentes. Pelo menos, lembrem, senhores generais, que foi um passado de sangue, e mirem nos exemplos dos nossos países vizinhos (Uruguai, Argentina, Chile, principalmente) que puniram os torturadores, e não tentam hoje mudar suas histórias.

É muito estranho a saída de três generais de comando das forças armadas de uma só vez, isto depois do processo de redemocratização há pouco mais de 30 anos. O ministro da Defesa, que foi exonerado, não estava alinhado ao pensamento do capitão-presidente que queria decretar estado de sítio no país, e continua com a maldita ideia de uma intervenção militar, fora os seguidores aloprados que defendem uma reedição do AI-5, ou sei lá, um AI-6.

Infelizmente nossa juventude, que pouco conhece sobre nossa história, e gente inclinada ao autoritarismo, entram na onda da negação de que não houve uma ditadura no Brasil que matou mais de 500 pessoas e torturou milhares que contestaram o regime dos generais dos cincos governos militares.

Não sabem que houve um golpe dentro do golpe, em 1968, com total censura à imprensa, corte dos direitos civis, cassação dos políticos em geral considerados subversivos e fechamento do Congresso Nacional. Naquela época, não se podia nem realizar reuniões, e a ditadura dizia ter o poder de adentrar no pensamento individual.

Hoje, eles falam em movimento e até revolução, argumentando que as forças armadas foram chamadas pelos civis, pela Igreja (pátria, família e tradição) e pela mídia, para manter a ordem ameaçada pelo totalitarismo comunista. No entanto, esquecem de dizer que entre meado e final dos anos 60 para início dos 70, praticamente todos esses setores da sociedade se arrependeram do apoio e se posicionaram contra as barbaridades do estado de exceção.

O CONSUMIDOR SEMPRE LEVA A PIOR

Nesse Brasil, que precisa renascer das cinzas, tem leis e estatutos para tudo, mas são todos faz de conta, como o do consumidor que continua sempre levando a pior. O desrespeito é ainda maior quando se trata de empresa estatal, e olha que nos ensinam que ela é pública e nossa. Vivemos numa mentira.

Primeiro a senhora Embasa aumenta minha conta de água em mais de 100%, com mais de 50,00 reais de taxa de esgoto. Foi uma porrada no meu parco orçamento. Eu e minha esposa passamos quase uma semana tentando ligar para agendar uma reclamação pessoal (pelo menos para saber o motivo da escorcha), mas é aquela velha história que todos já conhecem.

UMA SEMANA

O telefone da empresa quase sempre não atende. Foram várias tentativas durante um dia, que perdemos a conta. Continuamos insistindo até que deu sinal de vida, mas com aquela musiquinha de deixar os nervos à flor da pele. Do lado de lá, a atendente disse que ia colocar nossa reclamação na fila. Esperamos por uma semana e nada de uma resposta positiva. Ao todo, foi uma semana nessa labuta.

Na insistência, começamos todo processo novamente. Pelo site da internet não obtivemos fazer o agendamento. A coisa sempre emperra no final do cadastro quando você começa a se sentir aliviado e contar vitória. Talvez o Brasil seja o único país do mundo onde essa tecnologia virtual para solucionar problemas não passa de uma miragem no deserto.

Voltamos, então, ao sistema do telefone. Outra via cruxis e tome tempo. Depois de muita luta, burocracia de documentos e sofrimento, com a musiquinha nos irritando no ouvido, saiu uma voz de lá do fim do túnel e marcou analisar a reclamação no dia 6 de abril. Sinceramente, não confiamos que a empresa faça uma revisão e venha dar uma satisfação.

Desde o início de março que estamos nessa luta para saber o porquê da senhora Embasa ter elevado a cobrança do nosso consumo de água (duas pessoas e sem vazamentos nas torneiras) em mais de 100%. Estivemos na sede da empresa e apenas nos deram um papelzinho onde está escrito agendamento pelo SAC Digital (aplicativo ou site www.sacdigital.ba.gov.br) telefone 0800 0555 195 whatsapp (71) 99613-2858 site agenciavirtual.embasa.ba.gov.br.

Tente ser atendido e fazer uma agenda por esses meios virtuais. É mais fácil ganhar na loteria. Depois de um tempo, o usuário fica com seu sistema neurológico e psicológico em frangalhos. Se não se controlar, é capaz de baixar no hospital, mas lá não tem mais vagas por causa da Covid-19. Passamos no SAC e nos informaram que, com essa pandemia tinha que fazer o agendamento virtual. Ocorre que você não consegue e não tem a quem apelar.

Além dessa pandemia que deixou mais gente pobre passando fome, o brasileiro está sendo massacrado por todos os lados com os aumentos sucessivos da gasolina, na conta de água e luz, nos preços dos alimentos e até do IPTU municipal de Vitória da Conquista que também sofreu um acréscimo superior a 50%. A situação é cada vez mais crítica e a gente sente um cheiro de enxofre no ar.

Todos os dias temos que acompanhar as notícias de hospitais superlotados, cemitérios em atividades até durante a noite para dar conta dos enterros, vacinas aos tiquinhos, técnicos da saúde simulando imunizações e o Palácio do Planalto com seus generais arquitetando tramas macabras.

O CINISMO AGORA SE RESOLVE COM UMA SIMPLES DESCULPA

Primeiro o cara é cínico, falso, mentiroso e hipócrita e depois é só pedir desculpas que tudo fica numa boa. É uma tremenda cara de pau desses políticos, como a do governador do Rio de Janeiro, que deu uma tremenda festa em seu aniversário, provocando aglomeração, e o pior, todo mundo sem máscara, inclusive os empregados que fizeram os come-bebes.

O cinismo foi tão escancarado que dias antes ele fez um pronunciamento em público recomendando que as pessoas não dessem festas, mantessem o isolamento social e usassem máscaras. Fez o contrário do que mandou e, com a cara mais limpa, deu umas desculpas fajutas e pediu desculpas. Em outro país sério seria imediatamente afastado do cargo, preso e até executado. Aqui não acontece nada.

Entrou na moda a onda das desculpas onde o sujeito fala barbaridades, discrimina os outros, pratica o racismo, a homofobia e depois pede desculpas. Essa nova mania logo vai estar chegando aos ladrões corruptos. Primeiro o cara rouba e depois pede desculpas. Todo mundo esquece.

É mesmo um Brasil que precisa renascer das cinzas, com um novo conquistador para as coisas darem certo. Tudo tem que começar do zero, mas o tempo não volta, meu amigo. Tem que nos contentar com o que temos de pior na política mundial, mas isso é um outro assunto numa outra oportunidade.

Como já estamos nessa linha, vamos dar um pulo até o Planalto, cujo capitão-presidente está agora sendo encurralado pelo “Centrão” do Congresso Nacional. Na pressão pela cabeça do brucutu do Ministério das Relações Exteriores, para enganar os bestas, ele entrou num acordo e mudou seis peças, ou melhor, remanejou-os.

Pelo andar da carruagem, ele insiste na ideia macabra de uma intervenção militar (vivemos um misto de democracia e militarismo), ou uma ditadura mesmo. O afastamento do ministro general da Defesa por outro general não tão legalista, Braga Neto, vai nessa direção. O outro criticava os colegas da ativa em cargos no poder executivo, e condenava qualquer intromissão das forças armadas em questões políticas.

Pelo visto, ainda vivemos com uma espada na cabeça, pois esses conluios com políticos cínicos do troca-troca, do dá lá, dá cá, como do naipe do governador do Rio de Janeiro, nos provocam arrepios, ou calafrios na espinha. Com o encurralamento, na base do tudo tem limites, o capitão, em seu inferno astral da reprovação e dos panelaços, deu um recuo, e até passou a usar máscaras. Disse que ia comprar 500 milhões de vacinas. Não dá para confiar.

Com o novo ministro da Saúde, ele negociou as máscaras e os protocolos pela cloroquina e o não isolamento social, que são suas bárbaras bandeiras negacionistas, tanto que o Queiroga sai pela tangente quando indagado sobre esses assuntos.

Até quando vai perdurar essa sutil mudança do capitão? Não quero ser mais uma vez, como tem gente que assim me trata, um espírito de porco, mas coisa ruim pode vir por aí, quando se trata de um desequilibrado que não tem a mínima competência para governar um país, principalmente nesse quadro de pandemia devastadora.

 

 

OS ASTECAS, OS INCAS E AS DOENÇAS

Depois das três expedições do navegador Cristóvão Colombo, no final do século XV pelas terras das Américas Central e do Sul (Ilha Hispaniola – Haiti e Venezuela), atrás dele vieram os desbravadores espanhóis que penetraram no interior dos reinos dos astecas, maias e dos incas, disseminando as piores doenças (as armas mais letais) que exterminaram metade dessas nações.

Está no livro “Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey, que em 1517, o navegador Grijalva saiu de Cuba e visitou várias cidades portuárias do continente. Na volta trouxe notícias dos rumores do Império de Montezuma II, no México, (em redor de um lago). Era temido e odiado pelos maias, mas o audacioso Hernán Cortés, com 34 anos, não muito preparado em guerras, foi lá enfrentar a fera.

Partiu de Cuba em novembro de 1518, com 530 europeus dentre os quais 30 especialistas em atirar com besta (arma medieval). A maioria de seus soldados tinham mais experiência com arcos e flechas. No navio levava centenas de índios cubanos e escravos africanos. A maior surpresa estava nos 16 cavalos que foram vistos em seu desembarque como se fossem deuses.

Na páscoa de 1519, Cortés passou três semanas na cidade de Potonchán onde foi erguida uma cruz cristã. Nela, como narra o autor da obra, o aventureiro foi presenteado com uma mulher de nome Marina que lhe serviu de intérprete na jornada. A cidade de Montezuma, chamada de Tenochtitlan (México) ficava no caminho entre o Oceano Atlântico e o Pacífico, numa altitude e 2.500 metros.

Conhecer a cidade de cerca de 200 mil habitantes (uma das maiores do mundo) era uma visão extraordinária. Em pleno planalto, um lago, e ao longe umas pirâmides de pedras. Naquela época, somente Constantinopla e Nápoles tinham igual tamanho.

O império abrigava em todo seu território, não muito grande, cerca de oito milhões de nativos que se destacavam nas artes da construção, arquitetura, na agricultura e como ourives. Cultivavam o feijão, o milho e abóbora. Criavam perus e patos-do-mato.

O sacrifício de vidas humanas fazia parte do calendário da cidade asteca, e era mais parecido com uma carnificina do que com um festival religioso. A maioria das vítimas era constituída de homens. Um século anterior, esse ritual tornou-se mais frequente. A vida após a morte era vista como mais importante, e a execução era feita com muita dramaticidade pelos sacerdotes. O ato chegava a ter a acolhida dos pais, na maioria pobres, que entregavam seus filhos. O coração era habilidosamente arrancado do corpo e depois queimado em cerimônia, segundo o historiador Geoffrey.

A invasão de Cortés contou muito com o apoio de povos vizinhos que odiavam os astecas. Ele chegou até mesmo a ganhar ajuda de astecas que estavam no comando e que pensavam, quando o espanhol chegou em 1519, que fosse a reencarnação de um deus por quem a muito eles esperavam. Montezuma humildemente se rendeu, e Cortés assumiu o poder do império.

OS INCAS E AS DOENÇAS

Bem mais ao sul, na região montanhosa dos Andes, havia outro império mais novo, governado por um imperador conhecido como o Inca. Suas cidades contavam com um escudo protetor de montanhas e desfiladeiros. A região começou a se agitar por volta de 3000 a.C. quando domesticou a lhama, a alpaca e o porquinho-da-índia. Mil anos depois, seu povo começou a cultivar milho e batata.

Na época de Cristo, esses nativos de Nazca já cavavam túneis nas encostas dos morros, ao sul do Peru, com a intenção de desviar os lençóis subterrâneos para a irrigação. A construção dos terrenos para a agricultura e os aquedutos era um trabalho admirável.

Por volta de 1400 existia uma profusão de estados separados, muitos dos quais ocupavam os vales e as encostas. A paisagem acidentada facilitava o isolamento entre eles, com 20 línguas distintas e cerca de 100 grupos étnicos.  Nessa época, uma superpotência começou a lutar pela sua supremacia.

Os conflitos entre as nações chegaram a danificar os projetos de irrigação pelos vencedores que levavam mulheres e crianças como prisioneiras. Nessas guerras, os incas chegaram a ser superiores, expandindo seus territórios a partir de 1438.

Originários da região de Cuzco (atual Peru), os incas chegavam a cerca de 40 mil. Depois de uma sucessão de lutas, governaram uma população de mais de 10 milhões de pessoas, isto por volta de 1492. Seus domínios iam da Colômbia e Equador até a região central do Chile. “Hoje, cinco repúblicas independentes ocupam o território um dia governado por eles”.

O império era unido por uma grande rede de estradas, espalhadas por mais de 23 mil quilômetros, até mais notáveis que as do tempo do Império Romano e as construídas pelos chineses. Com pontes seguras, serviam para transportar mercadorias e como vias por onde passavam os soldados para patrulhar alguns pontos estratégicos.

O sol, como fornecedor de calor, era visto como amigo (a vida após a morte era vivida sob seu calor). A lua era tida como outro deus. Como deus masculino, o sol regulava o calendário que começava em dezembro, e tinha sua planta favorita, cujas folhas produziam a coca que possuía qualidades espirituais. Dessa planta vieram a droga cocaína e o aditivo que até 1905 fazia parte da receita do refrigerante Coca-Cola.

Na sociedade inca, as mulheres vinham em primeiro lugar e tinham a lua como a deusa da fertilidade. Seu direito à propriedade era respeitado. O papel econômico era tão honrado quanto ao dos homens. Nos rituais religiosos praticavam o sacrifício de animais (lhama e o porquinho-da-índia) e também o de seres humanos quando se ia à guerra e para pedir chuva em tempos de seca.

Com o tempo, os incas aprenderam a cultivar a batata, o tomate, feijão, o caju, o amendoim, a coca, pimentas, a abóbora e a mandioca. Seu império começou a se desmoronar com a chegada dos espanhóis no início do século XVI. “A maior influência veio na forma de doenças que se alastraram entre os povos”, inclusive vitimou o imperador por volta de 1525 quando retornava de uma guerra.

Com o seu falecimento, as discórdias provocaram uma guerra civil, mesmo antes do verdadeiro inimigo chegar. Os incas lutaram entre si sem saber que um inimigo poderoso, os espanhóis, estava a bater em suas portas. Na verdade, as doenças foram mais letais que as armas. Quando Cristóvão Colombo chegou às Américas, a varíola já era comum na Europa. Em 1519, a doença já havia atingido o Haiti, ou ilha Hispaniola.

“Era uma arma secreta e não intencional dos soldados espanhóis que, sob o comando de Francisco Pizarro, partiram do Panamá para conquistar os incas”. Em novembro de 1532, os espanhóis capturaram o imperador Atahualpa,

Antes disso, em 1530 a varíola já havia feito grandes estragos, desde a Bolívia até os Grandes Lagos, no norte. Em seguida vieram o sarampo e o tifo que eram doenças novas para os espanhóis. Na leva vieram a gripe, observada nas Américas em 1545, a coqueluche, a difteria, a escarlatina, a catapora e a malária .

 

 

NO COMBATE À COVID

Foto de Vandilza Gonçalves

Mesmo sem um comando central do governo federal, que contraria as recomendações da ciência, piorando o quadro de infecção da Covid-19, com hospitais superlotados, os profissionais da saúde estão lá na linha de frente cumprindo o seu dever de salvar vidas, como a técnica enfermeira que prepara a vacina que nos vai dar a esperança de enfrentar essa pandemia. Eles estão lá nas ambulâncias socorristas do trânsito e dentro dos hospitais, tentando fazer o possível e o impossível para reanimar pacientes intubados sem ar. Cada vida recuperada é uma história e uma vitória nunca mais esquecidas. São eles que também choram juntos com os parentes quando, através dos celulares ou sinais, têm que passar uma informação de perda. A correria é grande e o trabalho é estressante. Apesar da falta de insumos, de  equipamentos necessários de socorro e até de oxigênio, eles nunca desistem, e sua política é salvar vidas. Não fossem esses profissionais, talvez já teríamos mais do dobro de mortes no Brasil (mais de 300 mil atualmente). A vacinação está lenta, mas não é por culpa deles. Tenho minhas críticas na condução dessa política por falta de uma liderança, mas eles são os nossos homenageados por representarem a ciência contra os negacionistas. Pelas suas mãos fui vacinado, e rendo aqui toda minha admiração porque eles já fizeram história. Obrigado e que continuem fortes em suas árduas missões.

NA LINHA DE FRENTE

Poema recente do jornalista e escritor Jeremias Macário em homenagem aos profissionais da saúde

Pelas trilhas do curso do tempo,

Como velho curandeiro da mente,

Uma carroça circula lentamente,

No parafuso do trânsito confuso,

Entre o piscar das luzes das sirenes,

Dos socorristas aflitos das pistas,

Com vidas ofegantes não perenes,

Que carecem de sangue na corrente,

Dos salva-vidas da linha de frente.

 

A pandemia acelera a correria,

De macas nas disputas por vagas,

De cilindros divididos de oxigênio,

Em um SUS sem ar onde falta lugar,

E até no particular plano do convênio,

Vale a escolha do menos fraco doente,

Nas divisórias mascaradas dos hospitais,

Onde pacientes choram nos fios dos sinais,

Das mensagens virtuais da linha de frente.

 

Entra o intubado e sai o caixão,

Na dor infinita pela perda da vida,

Como num cenário de filme de ficção,

Na milenar guerra entre ciência e fé,

Tem o Buda, o Cristo e o Maomé,

Também o cego negacionista ignorante,

E os profissionais da linha de frente,

Para dar a ingrata última informação.

 

Quem é essa mortal fera Covid,

Que com tanta intriga nos divide,

Arrasa o pulmão dessa nossa gente,

E também sufoca toda linha de frente?

 

A CULTURA DO LEVAR VANTAGEM EM TUDO

Logo cedo, seis e meia da manhã de ontem (dia 24/03), já estava na fila da vacinação, em frente da Universidade Federal da Bahia. Quando chegamos (eu e minha esposa Vandilza), mais de 40 pessoas em seus carros já estavam ansiosas na espera, o que indica que muitos idosos foram mais adiantados em cerca de meia hora.

Entre oito e meia e nove horas já se podia contar mais de 500 veículos, e os funcionários aos poucos preenchiam os formulários dos cartões para facilitar o processo lá dentro. Pensei comigo que depois de tantos fura-filas, ali estava a minha vez de levar uma agulhada no braço contra a Covid-19, graças à ciência e à fé.

Tudo corria normal e organizado, não fosse o atraso de meia hora para o início da aplicação da vacina pelos prepostos da Secretaria Municipal de Saúde, tendo em vista que o anunciado na programação era para começar às 9 horas. Por que não a partir das 7 horas? Era o que muitos indagavam em conversas na fila. Até ai, tudo bem! O atraso já faz parte da agenda brasileira.

Como forma de fazer passar o tempo, o papo era a questão da pandemia no país em geral, inclusive sobre os critérios de combate da doença onde cada estado e prefeitura adota medidas diferentes, o que tem deixado a população mais confusa. No entanto, o que deixou muitos revoltados na fila foi presenciar a prática danosa e desrespeitosa da cultura do levar vantagem em tudo, ou aquilo do jeitinho brasileiro.

Para surpresa minha e de outros companheiros que estavam ali há mais de três horas, muitos passavam direto e deixavam seus parentes com outros amigos nos veículos que estavam na frente, e depois seguiam seus destinos. Quer queira, que não, são os famosos conhecidos fura-filas, ou individualistas que só pensam em suas comodidades. Os outros que fizeram o sacrifício de acordar mais cedo que se danem.

A partir daquela cena, numa roda de desconhecidos que formaram amizades naquele momento, o comentário passou a ser sobre a índole malandra do brasileiro que já se acostumou a fazer essas coisas como se fossem normais, sem nenhum remorso de consciência, inclusive dormem muito bem quando colocam a cabeça no travesseiro à noite. São justamente essas pessoas que mais xingam os políticos de corruptos.

No quesito da cultura do levar vantagem em tudo, aproveitamos a ocasião de desrespeito às claras contra os outros, para citarmos muitos exemplos de boas condutas, honestidades e pontualidades em países civilizados, principalmente na Europa. Em nosso país, como disse um senhor, o brasileiro só cumpre as leis e se comporta bem quando é vigiado de perto pela polícia.

É uma questão de educação e formação familiar – disse outro, para complementar que é esse conjunto de fatores maléficos e de malfeitos que não tira o nosso Brasil do atraso e do subdesenvolvimento. É claro que existe muita gente boa e consciente dos seus deveres, mas isso hoje é em bem menor quantidade do que há 50 ou 60 anos, o que significa que houve uma deterioração.

A conversa estava fluindo, mas não teve prosseguimento porque cada um entrou em seu veículo para receber a tão esperada vacina, que ainda tem chegado aos tiquinhos. Talvez esse seja o maior motivo das pessoas acordarem bem cedo na fila, com receio de que as doses faltem, como tem acontecido em muitos casos.

 

SÃO TANTAS MENTIRAS!

Contra o monte de mentiras no horário nobre da televisão, boa parte do povo respondeu com panelaços que, em tempos recentes, foi descrito pela esquerda como posição de pequenos burgueses, coisa da elite. O pior pode estar por vir, pois milhões passam fome, e estamos cercados de pandemias por todos os lados. Os panelaços podem ser só avisos.

Ele sempre se mostrou reticente com relação às vacinas, principalmente da chinesa CoronaVac, e falou que não tomaria. Agora diz o contrário, e tirou do bolso a produção de 500 milhões de doses até o final do ano. Vamos ter estoques sobrando, para doar para nossos vizinhos. Não sabia que o Brasil criou uma vacina própria contra a Covid-19. A única verdade na fala do capitão-presidente é que ele se mantém contra o isolamento social e as medidas de restrição.

Todo o resto é um punhado de mentiras e hipocrisias, como se solidarizar com as famílias que já perderam quase 300 mil entes queridos. Em resposta a toda essa mortandade, fez deboches de o tipo de chamar os brasileiros de maricas e chorões. “E daí! O que tenho a ver com isso! Não sou coveiro”. Foi outra tirada tirana quando o vírus havia ceifado a vida de cerca de 10 mil pessoas.

Onde ele achou esse número de que o Brasil é o 5º país do mundo que mais já vacinou sua população? Seria bem mais decente e ganharia pontos dos brasileiros se ele usasse o tempo na rede de televisão para pedir perdão por suas barbaridades proferidas durante seus dois anos de mandato desastroso.

Seria bem mais confortante para a nação, que vive momentos de pânico, aflição e terror, que ele fizesse um mea culpa dos seus erros e que iria parar de nos destruir com a sua negação da ciência, receitando cloroquina e outros procedimentos condenáveis.

Como seria tranquilizador se ele aproveitasse o tempo para anunciar que iria se alinhar com as instituições de saúde, com os governadores e os prefeitos no combate dessa mortal pandemia, visando unicamente salvar vidas. Que ele conclamasse toda a nação a se unir, sem partidarização da política. Que a partir de agora todos os protocolos e normas teriam um comando central, com transparência em comum acordo com os estados e municípios.

Com certeza, essas palavras fariam com que os brasileiros tivessem um sono mais sossegado nessa noite de 23 de março de 2021. Essa atitude reparadora seria um marco na história brasileira nesse período de caos na saúde. Essas mentiras só fazem confundir mais ainda a nossa população, e deixar o vírus mais à vontade para suas mutações em nosso solo. Por que de tantas mentiras que só fazem dividir mais ainda, e criar mais revolta, ódio e intolerância? Tudo isso só pode ser mais uma manifestação de sadismo e psicopatia.

A DISCRIMINAÇÃO SOCIAL É A MAIS CRUEL

Quando um pobre morre como causa da Covid-19, os parentes nem veem o corpo que é levado imediatamente para o cemitério. Das grades, os familiares acompanham o procedimento à distância. Isso é muito cruel. A alegação é a de ser uma maneira de evitar contágio e aglomeração.  A dor é muito grande porque ela já vem do hospital quando o doente é internado e, às vezes, só recebe informações através do celular ou por sinais dos enfermeiros e médicos.

Esse ritual é bem diferente e aberto quando se trata de um político, um poderoso ou rico. Quando falece, fazem velório, translado em carro aberto para o enterro, com aglomeração por parte dos correligionários, parentes, amigos e conhecidos, principalmente agora nesse auge da pandemia. Argumentam outras coisas que não convencem, e a mídia, como sempre, não questiona com receio a interpretações maldosas.

A LEI DOS MAIS FORTES

Enquanto estou fazendo este comentário, sei que estou sendo xingado e visto como insensível, que desejasse algum mal para o morto. Já disse várias vezes e voltou a repetir que a nossa sociedade é hipócrita. Mas, fazer o quê? Seguimos o curso normal da lei natural dos mais fortes no mundo animal. Vejam a questão da vacina que já era previsível. Os mais ricos, como Estados Unidos, Inglaterra e outros países da Europa saíram na frente.

Os pobres e os fracos sempre foram os mais castigados. O exemplo está aí nas catástrofes e tragédias. São os mais submissos, de nível baixo de instrução, que não têm o poder de brigar e impor seus direitos de igualdade que mais sofrerem. Aliás, sem essa de que todos são iguais. Esse anunciado é a maior das mentiras que proclamam, como se fosse verdadeiro.

O enterro do prefeito de Vitória da Conquista acabou tendo aglomeração em todo seu trajeto. Os resultados vão aparecer nos próximos dias. A Prefeitura anunciou que o acesso seria reservado somente aos familiares, mas não foi isso que ocorreu. Primeiro foi reservado um amplo espaço no salão do Mediterrâneo, indicando que muita gente estaria lá. O local ficou superlotado. No caminho para o sepultamento e no cemitério, muita gente, contrariando o toque de recolher.

Para dar o bom exemplo, o poder público, em comum acordo com a família, bem que poderia do aeroporto ir direto para o cemitério, sem essa de programação de translado e reunião num espaço de eventos tão amplo. Era certo que ia haver aglomeração. Na situação atual de colapso nos hospitais, gente morrendo em casa e até na rua por falta de vagas, o mais prudente seria um enterro simples e controlado, mesmo se tratando de uma autoridade. Tudo em respeito à vida que deve estar acima de tudo.

Outra imprudência foi a posse da prefeita ao vivo na Câmara de Vereadores, com muita gente no plenário. Não poderia ter sido feito de forma virtual, para dar o bom exemplo? Todos esses eventos em pouco espaço de tempo constituem insensatez, tendo em vista que os leitos de UTI em Vitória da Conquista já estão com ocupação bem acima dos 90%.

Não tem adiantado muito os apelos emocionantes dos infectologistas, pneumologistas, médicos e especialistas da ciência no sentido de que as pessoas se cuidem usando máscaras; façam a higienização; e, principalmente, não se aglomerem. Vivemos num quadro de total estupidez humana e de bagunça geral onde não existe uma linha central de comando.

Tudo começa pela esfera federal. No momento, temos dois ministros da Saúde, ou nenhum, porque o indicado não tomou posse. O Ministério estabelece uma norma, o secretário de Saúde do Estado formula outra orientação, e cada prefeitura faz seu protocolo, como no caso da vacinação.

O Governo do Estado decreta o toque de recolher e município desobedece.  A covid-19 se alastra em terreno fértil. O povo faz festa e morre aos montes. Nos hospitais faltam vagas, insumos, oxigênio e mais gente tomba. Uns negam a doença, e outros que tudo não passa de politicagem. Agora é a fome que ataca ferozmente.

 

“UMA BREVE HISTÓRIA DO MUNDO”

OS COMERCIANTES E AS RELIGIÕES”

É uma obra do historiador acadêmico britânico Geoffrey Blainey que vale a pena ser lida pela sua didática e fácil compreensão sobre as origens humanas, as subidas das águas dos oceanos, as viagens dos povos entre os continentes, suas evoluções, as tribos nômades, as religiões, os grandes impérios, entre outros temas de importância para o conhecimento geral.

Nessa nossa coluna semanal de “Encontro com os Livros”, vamos aqui focar o capítulo “O Trio Triunfante” que prefiro intitular de “Os Comerciantes e as Religiões”. Nele o autor destaca que num período de tempo pouco superior a mil anos surgiram Buda, Cristo e Maomé, três religiões universais (o judaísmo em parte era também universal) que cruzaram fronteiras para converter uma grande variedade de terras e povos.

A TRANSIÇÃO DO MEDO

Essas religiões refletiam uma transição de que Deus era um símbolo do medo (assim era visto pelo Antigo Testamento) para uma transição do amor divino. Se formos analisar bem, como assinalou o autor da obra, os comerciantes foram os maiores propagadores dessas religiões. Eles precisavam de um clima de afabilidade onde os acordos pudessem ser honrados.

Os primeiros seguidores de Buda (Sidarta Gautama) eram comerciantes, como o próprio Maomé. Como carpinteiro, Cristo também foi, em parte, um comerciante com seu pai José. O cristianismo foi disseminado pelos judeus comerciantes longe de casa. Além dos negociantes, dois grandes imperadores, Asoka, da Índia, e Constantino, de Roma, foram fundamentais parra o sucesso do budismo e do cristianismo.

Por volta dos anos 900, essas três religiões alcançaram a maior parte do mundo. A mais nova, o islã, muito dependeu dos comerciantes árabes. A mais antiga, o budismo, teve sua maior força na população chinesa. Os monges atravessaram fronteiras da Índia até a Coreia, Japão e a Indochina.

O cristianismo contava mais com o nordeste da África e da Ásia Menor. Somente na Europa ele passou a ser dominante da Irlanda até a Grécia.  Fazendo seus negócios, os comerciantes espalhavam as palavras e preparavam os caminhos para os missionários.

No capítulo sobre a Polinésia, o autor fala da Europa e da China que formavam grandes mundos com o tráfego fluindo entre si, enquanto outros povos viviam isolados, principalmente quando eram separados pelo mar. De acordo com ele, em toda história humana houve somente três grandes momentos em que viajantes cruzaram os mares para povoar terras desabitadas.

Um foi há mais de 50 mil anos, da Ásia para a Nova Guiné e Austrália. Outro foi a migração da Ásia para o Alasca, há mais de 20 mil anos, com a lenta ocupação do continente americano devido a obstáculos geográficos. O terceiro momento foi a migração dos povos da Polinésia para uma extensa faixa de ilhas do Oceano Pacífico e Índico.

A CHINA E SEUS INFORTÚNIOS

Quanto as potencialidades da China, que terminou por não aproveitar seus conhecimentos como devia, o historiador destaca a arte da comunicação com a invenção do papel manufaturado e a arte da imprensa, usando sinais gravados em blocos de madeira. Foi o acontecimento mais memorável desde a invenção da escrita.

O livro mais antigo data de 868, o qual serviu para difundir a mensagem do budismo e os preceitos de Confúcio. Todos os candidatos ao serviço público tinham que conhecer. Em 1273 imprimiu-se um livreto para fazendeiros e cultivadores de seda natural. A China possuía os fazendeiros mais capacitados do mundo.

Os chineses eram mestres em projetos de vias marítimas, enquanto os romanos especialistas do aqueduto. A China foi exímia na construção dos canais de embarcações (O Grande Canal da China). Com o enxofre, o salitre e o carvão, descobriu a pólvora, e dominava as técnicas de navegação e construção de navios. Na medicina e na saúde, os chineses foram vigorosos em experimentar novas soluções.

Diz o professor que o maior infortúnio foi que eles, por muito tempo, foram quentes, frios, criativos e letárgicos. Mesmo tendo inventado a bússola, fracassaram no mar porque não tinham o desejo de descobrir o desconhecido. Eram bons cartógrafos, mas seus mapas se resumiam aos seus distritos agrícolas. Os cientistas acreditavam que a terra era plana. Quando eles saiam ao mar, longe de casa, só visitavam portos conhecidos da Ásia e do Oceano Índico.





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