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:: 5/abr/2021 . 22:38

A MISÉRIA E A EXPLORAÇÃO SEXUAL

Demora muito tempo esquecido, mas o tema sempre volta à tona. O discurso continua o mesmo, e assim sempre vai haver exploração sexual de menores no mundo das estradas brasileiras. Entra campanha e sai campanha, sempre focada nos caminhoneiros, como se todos eles fossem tarados sedutores das meninas esmolambadas de pés no chão, ávidas por um prato de comida.

Não quero aqui, de forma alguma, eximir a culpa dos motoristas das cargas pesadas, mas não podemos generalizar. Existe do outro lado das leis do estatuto da criança e das Ongs defensoras da causa, um discurso moralista e até hipócrita, que deixa de reconhecer que a miséria e a fome levam esses menores a praticar a sedução por urgente necessidade de se nutrir, tanto que vendem seus corpos por uma refeição. Claro que ao caminhoneiro cabe ter consciência e recusar.

OS PAIS E AS MENINAS

Nessa miséria profunda de desigualdade social, principalmente a nordestina, que tem origens no cruel passado de exploração dos coronéis do dinheiro e do poder, até os pais mandam suas inocentes e frágeis meninas vagar à noite nas estradas ou nos postos de combustíveis à procura de homens, para matar a fome e sobrar um pouco de comida para os outros irmãos.

A esse povo errante e retirante, há séculos que os governos aventureiros, oportunistas e populistas negaram a educação, dignidade humana, ajuda para manter suas lavouras e um emprego decente. É muito fácil colocar a culpa só nos caminhoneiros e carimbar neles uma imagem de vilões aproveitadores, e não atacar de frente o problema da miséria. Nesse Brasil, costumamos sempre jogar toda sujeira para debaixo do tapete, como se isso fosse resolver as mazelas.

Quem não sabe e conhece as histórias de pais desesperados, inclusive de mães que vendem seus filhos por tostões para ficarem livres de seus rebentos e ainda pegar uma graninha merreca para tirar a barriga da miséria? Em minhas andanças como jornalista, já narrei um caso de um marido vender a mulher e a filha por uns sacos de farinha e feijão.

Por falta de educação, que por séculos é negada ao povo, as famílias pobres são as que mais têm filhos, inclusive nesse período caótico da pandemia, e isso persiste até hoje no campo e nas favelas das cidades grandes. Nelas ainda existe a cultura religiosa de que foi a vontade de Deus que assim quis. O resto, todos sabem o que acontece quando chega o aperto num casebre apertado repleto de crianças que dormem amontoadas com fome.

Logo cedo, as meninas e meninos caem na rua da amargura, e oferecem a única coisa que possuem que é o sexo. Eles estão por todos lugares, não somente nas estradas e postos, mas nas praias nordestinas, nas ruas, nas portas dos hotéis e em bares e restaurantes. Não são as campanhas, nem as leis e estatutos que vão acabar com esse triste quadro.

Com o agravamento da Covid-19, o desemprego, a informalidade e a falta de instrução para arrumar um trabalho, a situação piorou mais ainda, e engrossou esse contingente de menores, principalmente de meninas sendo exploradas sexualmente.

O que não dá é para generalizar e jogar toda culpa no caminhoneiro. Não estou aqui defendendo a categoria, e sei que muitos aproveitam essa fraqueza e comete o crime. Não vamos ser hipócritas para não enxergar que a raiz do problema está na miséria. As políticas públicas são sempre populistas com o sentido de angariar votos para que o sistema perpetue assim.

 

 





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