:: ‘Na Rota da Poesia’
NO AÇOITE DO DIA
Poema de Jeremias Macário
Suor quente da face escorria
Do sol tostado das cinco horas
No poente da nuvem se ia
Para entrar o breu da noite
Com a conta do açoite do dia.
Conspira a noite, açoita o dia,
Pena o corpo e a alma vigia.
Conheci o auge do império,
A explosão e o gelo do inverno,
A Odisseia de Homero e a fera,
Em luta dos mares revoltos da era
Com monstros saídos do inferno.
Fui beato de reza e da bruxaria
Entre a cruz, a foice e o martelo,
Vaqueiro berrante de uma boiada,
Um coronel cruel de papo amarelo
Dono e rei de todo o açoite do dia.
LEMBRO AINDA MENINO
Poema de Jeremias Macário, incluso no CD Sarau e declamado pro Edna
Quando no peito a dor explode
De gente vaga e de pele pálida,
Lembro ainda quando menino
Alegre contente vira-lata latino,
Saído do ventre mãe camponesa,
Da poeira da terra rala e árida
Onde o fruto da chuva eclode.
Mãe senhora, santa piedosa!
Labuta a roça sem temer a hora,
Com sua alma doce e carinhosa,
Que nem o tempo lhe devora.
Nesta patrulha de tanta canga,
Do povo descrente em sua gente,
Lembro ainda moleque menino
O raiar do dia sereno e quente,
Daquele rosto enrugado ofegante,
Com uma enxada e sua capanga,
Clamar ao seu Supremo Divino
Pra forças ter na lida escaldante.
Lembro do meu pai rogar aos céus
Para o Deus de nós compadecer,
Molhar o solo, plantar a semente
Para um dia o alimento colher
E matar a fome de todos os seus.
No algoz capital de várias caras,
De multidões querendo vencer,
Lembro ainda descalço menino
A flor ditosa daquele roxo Ipê
Na matinha ao lado do sol a pino,
Espraiando a seca no chão lunar,
Do Ouricuri, o Sofrer partindo
Do açoite verão das coivaras.
Lembro que vi o aguaceiro bater,
No gravatá pousar o beija-flor,
O canto da Juriti nas matas raras,
As araras acordando o amanhecer,
O voar de arribação das passaradas,
Renovar a vida verde nas caiçaras,
E todo o sertão se derramar em cor.
LÁGRIMAS DE MARIANA
Poema de Jeremias Macário inspirado no desastre ambiental da lama da Samarco em Mariana. A letra foi musicada élo cantor e compositor Dorinho e gravada no CD Sarau, projeto em andamento.
Ave, eterna Mariana!
Mãe santa teu nome!
Chove lágrimas
De lama e sangue
Do Fundão profano
Até o mar do mangue,
Levando sede e fome,
Um monte de usura insana,
De um capital desumano.
Do Doce azul das matas,
agora amarelo amargo,
Chove lágrimas de dor
Dos nativos aos gritos,
Do Bento mano barro,
Escombros de detritos
Que secaram os lares
De Colatina ao Valadares;
Contaminaram as lagoas
E as paisagens de Linhares.
Chove lágrimas de dor
Da igrejinha da praça,
Da terra sem as marés,
Do pescador em pranto,
Que vê no lodo da mina,
Pasta tóxica da Samarco
Até onde se fita a colina
Do índio nação Aimorés,
Senhores da flecha e do arco,
Filhos do Rio Doce e da caça.
Chove lágrimas de dor
Do cristalino da menina,
Da mãe flor Mariana,
Do lendário contador
De histórias de Resplendor;
Chora o São Francisco,
Choram as cordas da viola
Na poesia do cantador,
A triste canção de uma mina
Que um dia no estouro roubou
O sonho junto sonhado
De um povo bravo lutador.
CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO – FILOSOFIAS E SABEDORIAS (parte XIX)
FILIPE E DEMÓSTENES
Quando Filipe subiu ao trono em 338 a.C.,a maior parte dos gregos desconheciam a Macedônia. Ainda menino, Filipe foi estudar em Tebas onde fez amizade com Epaminondas. Quando voltou a Pela (Macedônia) foi considerado sábio pelos pastores. Briguento e corpulento, conseguiu unificar a região e ser reconhecida pelo resto da Grécia.
De maneira rude, sabia mentir como o mais descarado hipócrita, sem escrúpulos. Em pouco tempo, levantou o mais formidável instrumento de guerra, a falange de dez mil homens e se apoderou de vários distritos de Atenas. Por questões de dinheiro, atenienses e espartanos se uniram contra a liga da Beócia e da Tessália. Derrotada, recorreu a Filipe.
Atenas acordou para a situação e recorreu à oratória de Demóstenes para despertar os cidadãos para o perigo que era a Macedônia. Dizem que ele era gago, mas se aperfeiçoou na fala usando pedrinhas na boca e declamava correndo morro. Muitas vezes se fechava numa caverna, barbeando só a metade do rosto, para vencer a tentação de sair.
Não precisando de dinheiro, dedicou-se a processos célebres, em defesa de clientes de alta classe, entre os quais a liberdade. Acusaram de defender a liberdade de Atenas contra Filipe para vendê-la aos persas, que lhe pagavam bem.
ALEXANDRE – Filipe colocou em liberdade os dois mil prisioneiros capturados e mandou para Atenas como mensageiro, seu filho Alexandre, de dezoito anos, que se cobrira de glória como general de cavalaria. Sua mãe Olímpia vivia nos mais desenfreados ritos dionisíacos. Uma vez, Filipe encontrou-a dormindo, na cama, ao lado de uma serpente. Disse que na serpente se encarnava o deus Zeus-Amon, o verdadeiro pai de Alexandre.
O primeiro mestre de Alexandre foi Leônidas para os músculos, Lisímaco para a Literatura e Aristóteles para a filosofia. O aluno era belo, atleta, cheio de entusiasmo e candura. Decorou a Ilíada. Muito orgulhoso como pai, certo dia Filipe disse: Meu filho, a Macedônia é muito pequena para ti. Uma vez, encontrou um leão e enfrentou armado só de punhal. Alexandre tinha um fraco por Atenas e, durante sua invasão, anistiou a todos. Tinha um dever para com ela quando ali estudou filosofia e literatura. Mais tarde, guerreando na Ásia, mandava os tesouros de arte para que ornassem a Acrópole de Atenas.
A Grécia deu a Alexandre vinte mil homens para reforçar seus dez mil de infantaria e cinco mil de cavalaria. Formou, portanto, trinta e cinco mil homens para enfrentar Dario com um milhão. Em 334 a.C., dois anos depois de subir ao trono, partiu para uma outra cruzada com fins de reunir a Ásia e a Europa.
“FOI VERDADEIRA GLÓRIA” – Conta o autor do livro “História dos Gregos”, de Indro Montanelli, que ao ver a multidão de seiscentos mil persas, Alexandre teve um momento de hesitação. Seus soldados gritavam: Anate general! Nenhum inimigo pode resistir ao cheiro do bode que temos. A derrota existiu, e Dario foi morto pela covardia de seus generais. Babilônia entregou-se sem resistência.