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:: ‘Na Rota da Poesia’

QUE FIM LEVARAM NOSSOS SONHOS?

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Que fim levaram nossos sonhos,

Se perderam nas longas marchas,

Das avenidas e praças,

Dos cartazes nas mãos,

Nas letras das eternas canções,

Que ficaram em nossos corações?

 

Que fim levaram nossos sonhos,

Nascidos das revoluções?

Arrancaram as flores do nosso jardim,

Nele plantaram corrupções,

Na base do meio justifica o fim.

 

Que fim levaram nossos sonhos,

De igualdades humanas sociais,

Justiças para nossas oprimidas gentes?

Estão nos cofres dos capitais,

Mas ainda vivem em nossas mentes,

Nessa sociedade de canibais.

 

Que fim levaram nossos sonhos,

De resgatar nossa jovem geração;

Acabar de vez com a fome,

Amparar as desgarradas multidões,

Nas lutas armadas ou pela razão?

 

 

 

 

A DOR FÍSICA E A ESPIRITUAL

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Na essência da vida existencial,

Qual a pior dor,

A física ou a espiritual?

 

Cada uma na sua cada qual:

A matéria acha que é a física,

A filosofia que é a espiritual,

E delas se inspira a poesia,

Na dor de José e Maria.

 

Uma é canibal da outra:

A física aniquila a mente,

A espiritual se fecha como ostra,

E as duas são viscerais da gente.

 

Tem a dor do câncer,

Aquele que não tem cura,

Tem a dor da fome,

Que até o juízo, consome,

Tem a dor da tortura,

Nos porões da ditadura,

A dor de dente, persistente,

Que deixa a alma em chama,

E a terminal no leito da cama.

 

Tem a dor do amor perdido,

Que rasga por dentro o peito,

A dor do luto da perda,

Daquele ente querido,

Do material ao metafísico,

É o espiritual roendo o físico.

 

Entre a física e o espiritual,

Existe aquela enigmática,

Que nem explica a matemática,

É a dor mortal

Daquele suspiro final,

Que nos leva para o além,

E não está no saber de ninguém.

NÃO ESPEREM MAIS POR MIM

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

O velho elefante,

Cansado e ofegante,

Se escora numa frondosa árvore,

Sente ser chegado seu fim;

Manda seu rebanho seguir em frente,

E diz não esperem mais por mim.

 

Quando o zunir do vento

Chicotear minha alma,

Ferir e dilacerar meu passado,

E o passo ficar mais lento,

Trocar o não pelo sim,

Digo que sigam em frente,

E não esperem mais por mim.

 

Quando o futuro encurtar meus planos,

O amanhã anunciar menos anos,

As flores murcharem em meu jardim,

Sigam em frente, gente!

E não esperem mais por mim.

ENSINAMENTOS DE EPICURO

José Fábio da Silva Albuquerque, do seu livro “Retalhos Nordestinos” – poesia popular (Editora Nzamba)

O medo é algo engraçado

Quando de alguém se apodera

Pois deixa geladas as mãos

E o coração acelera

Mostrando cenário terrível

Que outro não é possível

Além de sofrer na espera.

 

Uma pessoa com medo

Perde de todo a razão

Fica sujeito aos conselhos

Que prejudicam a ação

Dos mais primitivos instintos

Parentes da obsessão.

 

Do medo um dia falara

Um homem de nome Epicuro

Chamado por todos filósofo

Do jeito que outro Obscuro

Caráter de muitos dizeres

Um defensor dos prazeres

Mesmo perante o apuro.

 

E dentro do seu ensinar

Está o imbatível dizer

Voltado aos seres humanos:

Que não se deve temer

Sofrer, nem deuses, nem morte

Pois quando se é desta sorte

Já não se está mais no viver.

A todos que sentem medo

AMÉRICAS IBÉRICAS!

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Sou filho das Américas

Do Sul e Central,

De Colombo e Cabral,

Das caravelas ibéricas,

Dos capitães piratas,

Que singraram mares

Atrás do ouro e das pratas,

Que fizeram matanças,

Cativaram nativos,

Deles roubaram seus colares,

Impuseram suas crenças,

Encheram suas panças

Nas Américas Ibéricas,

Américas Ibéricas!

 

Do México a Patagônia,

Terra do fogo,

Do Caribe à Amazônia,

Sou filho dos tupis-guaranis,

Dos Maias, Incas e Astecas,

Dos Tupinambás, Tapuias e Cariris,

Sou das Américas Ibéricas,

Américas Ibéricas!

 

Sou mestiço, caboclo e mameluco,

Até cabra cafuzo maluco,

Branco, pardo e negro,

Árabe-judeu, mouro ibérico,

Nações famélicas

Das Américas Ibéricas.

Américas Ibéricas!

 

Sou fruto do índio-português,

Dos antepassados ancestrais,

Das tribos canibais,

Das Américas Ibéricas,

Américas Ibéricas!

 

Sou filho dos deuses guerreiros,

De Montezuma e Atahalpa,

Dos espanhóis prisioneiros,

Nas Américas Ibéricas,

Américas Ibéricas!

 

Não sou filho norte-americano,

Imperialistas ianques,

Invasores de territórios soberanos,

Com seus foguetes, drones e tanques,

Sou das Américas Ibéricas,

Américas Ibéricas!

 

Sou da África, africano,

Nordestino latino,

Com nossas culturas “bélicas”

Das Américas Ibéricas,

Américas Ibéricas!

PEDAÇOS DE MIM

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Meus sentimentos,

Vagueiam em alto mar,

Como pedaços de mim;

Meu choro rasga minhas entranhas:

São lágrimas internas em meu jardim,

Como pedras que rolam das montanhas.

 

Pedaços cortados de mim,

Amor inculto a dilacerar;

Sou como pássaro solitário,

Na caça da fome a voar.

 

Pedaços entrelaçados de mim,

Tropeço aqui e acolá;

Na estrada que tem seu fim:

Morte, castigo do Alá.

Sou apenas um passageiro,

Vulto, sombra e confusão,

No andar cambaleante da contramão.

 

Pedaços doídos de mim:

Dizem que a vida é canção.

Nas curvas, não vejo assim, não,

Quando bate a melancolia,

Parto para outra estação.

 

Minha alma está inerte,

Nesse cenário teatral;

Navegam pedaços de mim

Pelo mundo sideral.

 

Vem a tempestade e me açoita,

Sem pena e compaixão;

Seguro firme no chão,

Sinto que ela vai me estraçalhar,

Mas sou guerreiro forte,

Sei que vou me salvar.

O CANGAÇO E A VOLANTE

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Revoltam Severino e Maria,

Um vai pro cangaço,

O outro entra na volante

Porque não existe outra via.

 

Pelo espinhaço do sertão

Entre espinhos e garranchos,

No lajedo agreste do Nordeste,

Pobres miseráveis em seus ranhos,

Cortam o cangaço e a volante,

Em seus picados matreiros

Nessa terra de gigante.

 

Lá vão Antônio Silvino,

Lampião, Sinhô Pereira,

Corisco e Jesuíno Brilhante,

Bandos de valentes guerreiros,

Na tora da bagaceira,

Nos rastros de seus coiteiros.

 

O Cangaço chama a volante

De “macaco” bandido,

A volante de salteador bandoleiro,

E o povo se lasca num “partido”.

 

Cabeças decepadas e degoladas,

Gargantas cortadas sangradas,

Corpos esquartejados ferrados,

Como gado magro em manadas,

Sangue a jorrar pelo chão,

De pedregulho, seco estorricado,

Fardas esfarrapadas,

Mulheres escravas estupradas,

O cangaço e a volante

Criados pelo sistema dos coronéis,

Doutores, senhores de engenho,

Com suas afiadas chibatas de anéis.

Ditam suas sentenças,

Impõem seus costumes,

Baseados em suas crenças.

 

O murmúrio se cala no além

Pelas armas do rifle, fuzil e do punhal

Nessa região de ninguém

Onde o choro fica entalado,

Em meio à desgraça e o cabedal.

E o cangaço e a volante

Fazem sua carnificina brutal.

 

O cangaço com sua canga,

No cipó de boi torturador,

Arranca olhos e retalha peles.

Tem até o ferro castrador,

Ferraduras, lapadas de reio cru,

Nesse inferno de fogo e aço,

Crucifica humanos no mandacaru.

 

A volante ainda é mais cruel

Com suas barbaridades medievais

Riscam como raios do céu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POR ESSAS TRILHAS NORDESTINAS

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Sou cavaleiro encantado,

Como um D. Quixote

Por essas trilhas nordestinas:

Terras agrestes milenares,

Milhas de misteriosas ilhas,

De gentes diferentes espartares,

Parando o tempo,

Cortando a lâmina do vento,

Entre torres e placas solares.

 

Por essas trilhas nordestinas,

De culturas únicas no Brasil,

De expressões misturadas divinas,

Região resistente varonil:

Vejo as floras agrestinas,

A caatinga que esgarça na seca,

A chuva que brota na restinga,

Floresce todo aquele mundão,

E o preto velho faz sua mandinga.

 

Vejo o cangaço de aço,

Na ponta do rifle e do punhal,

As matas feras ribanceiras,

O céu que dá o seu sinal,

Rios com suas corredeiras,

Meu prateado luar,

As águas cortando curvas,

Rumo às portas do mar.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vejo os senhores de engenho,

Mirrados meninos e meninas,

Coronéis que perderam seus anéis,

Poetas, trovadores-repentistas,

Os grandes riscados cordelistas,

Dos lajedos, cavernas e grutas,

Nascer a cultura e a literatura,

Desse povo de muitas lutas;

De suas nascentes ainda jorrar,

A tradição rica e popular.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vejo feiras de trabalhadores,

Com suas enxadas e foices,

Machados, cabaças e facões,

Poderosos dando coices,

Asas parar no ar,

O voo dos carcarás e gaviões,

O choro calado em cada lar,

A exploração dos patrões,

O som rasgado de Zé Ramalho,

A fé que não faia do Gil,

O protesto de Vandré,

Na gaita melódica do vinil,

De Caetano o sol bater,

Nas bancas de jornais,

Cantando Alegria, Alegria,

Atrás dos trios dos carnavais.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Cada humano cruzando estradas,

No jumento em suas picadas,

Gado ferrado em manadas,

Do cangaceiro Antônio Silvino,

As dores que perderam o nome,

Nos cantos dos casebres da fome.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vejo a Colônia perversa passar,

O império e a nobreza prometer,

E a oligarquia nos violentar;

Vejo o capitão Virgulino,

O Conselheiro e seus penitentes,

A emboscada do pistoleiro assassino,

O pau de arara comendo poeira,

Mutirões em suas frentes,

A mulher solitária rendeira,

Compositores e escritores,

Que nos deram régua e compasso,

O vaqueiro certeiro no laço,

E assim vou seguindo,

Meu destino no lento passo.

 

Por essas trilhas nordestinas,

De tantas caras e faces,

Umas duras enrugadas,

Outras de semblantes magoadas,

Vejo o alvorecer das madrugadas,

O pôr do sol ensanguentado,

Brilhar nas pinturas rupestres,

Os registros se eternizar,

Nas escrituras dos mestres.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vou voando como pássaro aguerrido,

Neste Nordeste querido,

Único neste universo,

No sangue do meu sentimento,

Como do escravo seu lamento,

Da mãe África a enxugar suas lágrimas,

Nos porões negreiros,

Para ser trono dos estrangeiros.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Do Maranhão a Paraíba,

Do Pernambuco a Piauí,

Sergipe e a velha Bahia,

Das Alagoas e o potiguar,

Nas farturas das frutas e do pequi,

Cada estado em seu lugar,

No imposto de sangue,

Na vindita da canga,

Justiça de armas nas mãos,

Astutos canibais dos matutos,

Vejo muita luz e energia,

Nesses rostos sofridos,

De José e Maria.

 

POESIA, É POESIA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

A poesia encanta e desencanta,

É mágica e trágica,

Nos iludi, engana e confundi,

Nos deixa tonto no amor,

Dilacera nossa alma

Agitada e calma,

É alegria, tormento e dor.

 

Poesia é saudade eterna,

Que nunca se acaba,

É corte de navalha na carne,

Sai da fumaça da erva,

Luz, caos e treva,

Faz o mar secar,

O rio deixar de correr,

O mundo parar de girar.

 

Poesia é como tirar leite de pedra,

É zumbido do vento,

Choro, riso e lamento.

 

Poesia é sentir o sangue correr na veia,

É como nascer, viver e morrer,

É pura Sofia,

Vem do universo, o som,

Não se cria, é dom,

É a madrugada serena,

Pés no orvalho da manhã,

É a cor branca, negra e morena.

 

Poesia é como se estar no cio,

É canção de viola no frio,

Tirar espinho da flor,

Agradar ao diabo,

E orar ao Senhor.

 

Poesia, é poesia

Não é só verso,

É descobrir o visível no invisível,

Poesia, é poesia,

Noite engolindo o dia.

 

 

AQUELA MOÇA DA PENHA

Poeminha de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Eu vi

Aquela moça da Penha,

No arrasto dos joelhos,

Como guia, pela corrente

Sua mente seguia

Pelos quatrocentos degraus,

No segredo da sua senha:

Imaginei ser fé e devoção,

E ela riu pra mim,

Com aceno da sua mão.

 

Eu vi

Aquela moça da Penha,

Adiantei meus passos,

Do alto fiz meus laços,

Na Igreja, o padre

Ministrava um batizado,

Pedia a todos fiéis

Renegar o satanás;

Fotografei todo geral;

Lembrei de Jesus e Caifás,

Entre os bons e os maus.

 

Eu vi

Aquela moça da Penha,

Tão singela e contente,

De alma doce valente

E não mais perdi seu reflexo

Daquele mágico momento

Ao lado do Complexo

Santo e violento.

 

 





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