O LEITOR QUER DO ESCRITOR UMA COISA NOVA QUE O PRENDA E O FAÇA REFLETIR
Como na poesia, onde o poeta busca mostrar o invisível aos olhos dos outros, assim é o escritor que tem que oferecer ao leitor algo novo, criativo e imaginativo que o prenda e o faça refletir. Ele não quer o óbvio ululante, ou aquele texto maçante de um enredo fraco e insosso. Escrever por escrever?
Pode ser um romance, uma crônica, um conto, um artigo, um comentário sobre determinado assunto ou até mesmo uma matéria jornalística, o escritor tem que se virar para cativar a alma do leitor. Não é fácil, e é por isso que escrever é uma grande arte para poucos porque é um jogo de palavras.
É uma arte tão difícil e complicada que você não tem como agradar a todos, daí as críticas contra e a favor. Soa como uma música onde cada um tem seu próprio gosto, seu próprio estilo. O escritor pode ser comparado também a um chefe de cozinha que tem que se esmerar na comida para bem atender o paladar do cliente.
Antes de sentar em frente do meu computador, coisa que eu faço quase que cotidianamente, fiquei a pensar com meus botões: O que vou escrever hoje, mesmo diante de tantos acontecimentos, fatos e notícias que recebemos no dia a dia de nossas vidas? Não faltam assuntos, mas resolvi falar dessa relação complexa entre escritor e leitor, amigável e conflituosa.
Bem, é um tema espinhoso, mas como sempre fui dado a desafios, me atrevi de súbito a tratar dessa questão, sabendo que não devo ir muito longe para não tropeçar num buraco qualquer e quebrar a cara, mesmo porque, já estou idoso para isso. Posso parar num hospital, todo enfaixado, ou, quem sabe, pior que isso.
Acho que meu recado sobre escrever já foi dado no início. Sinceramente, sinto-me mais jornalista que escritor, cada um com suas linguagens e técnicas diferentes, embora alguém possa avaliar que o primeiro facilita muito ser o segundo.
Se mapearmos o mundo literário, vamos descobrir que grandes escritores de obras memoráveis foram jornalistas, mas isso não é necessariamente uma regra padrão. Eu mesmo me considero uma exceção. Escrevo o básico-médio. Estou longe deles. Existem também grandes escritores que não foram jornalistas.
Quando escrevo algo, faço uma prece ao leitor para que me “policie”, pois, vez ou outra, estou fugindo do assunto proposto, no caso nosso específico sobre essa coisa do escrever e prender a atenção do leitor. Apesar do brusco desinteresse pela leitura nos últimos anos, tenho ouvido cochichos por aí que ela está retornando com força, bem como o lançamento de novos livros e, consequentemente, novos autores.
Claro que esse novo fenômeno cultural é bem-vindo, mas precisamos analisar com cuidado quem está atuando bem o seu papel nessa peça artística, porque tem surgido muita gente por aí apenas por pura vaidade, para adocicar o seu ego, como se fosse mais um robe em sua vida profissional.
Escrever não pode ser apenas um robe, ou o desejo fantasioso e romântico de se apresentar para a plateia como escritor, querer ser celebridade. Essa “febre”, por assim dizer, está associada, em grande parte, ao surgimento das feiras literárias em capitais e muitas cidades do interior.
Tem gente que se apressa em realizar uma obra visando apenas lançá-la na próxima feira. Será que este autor tem compromisso com o leitor? Tem qualidade e conteúdo? Está ele no caminho certo, ou faz somente por fazer? Muitas vezes ele está enganando o leitor que, logo nas primeiras páginas, se sente decepcionado e nem termina a leitura.
Só para finalizar, existe escritor e o escritor, poeta e o poeta, como ocorre nas outras linguagens artísticas, como na música e no teatro, só para exemplificar. Uma história ou estória tem que ser bem contada e narrada, de modo que o leitor ou o ouvinte siga os passos do criador até o final. Tem gente que não sabe contar uma piada, mas se atreve e não arranca gargalhadas.











