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CADÊ A PRESENÇA DA CÂMARA NA CULTURA?

Conversei com alguns membros do Conselho Municipal de Cultura sobre a atual situação do colegiado que não está conseguindo se reunir em suas ordinárias por falta de quórum, embora tenha questões importantes para tratar, como a reforma e abertura dos equipamentos culturais de Vitória da Conquista e a criação do Plano Municipal de Cultura.

De acordo com um conselheiro, o legislativo municipal é um dos maiores culpados por esta falta de quórum, pois seus indicados (dois titulares e dois suplentes) pela Mesa Diretora simplesmente não comparecem aos encontros, sempre marcados para toda segunda-feira de cada mês.

Esse problema sempre foi antigo. Na minha gestão, por exemplo, como presidente do Conselho, de 2021 a 2023, uma das minhas maiores lutas era tentar convencer esses representantes a se fazerem presentes às reuniões, mesmo porque a assembleia, conforme seu regimento interno, não tem a prerrogativa de expulsar os faltosos do poder executivo e legislativo.

Somente os chefes desses poderes podem substituir os indicados que não estejam cumprindo com seus compromissos.  No caso dos eleitos que não comparecem às reuniões (três faltas seguidas), a presidência do Conselho só pode decretar a vacância e convocar nova eleição quando se trata de membros da sociedade civil.

Os vereadores foram eleitos pela população e uma de suas principais responsabilidades é justamente representar o povo através das comissões criadas pela Casa (agora mesmo foram instaladas as de Saúde e Assistência Social e de Fiscalização dos Atos do Executivo) e junto aos conselhos, como o da Cultura.

Essa ausência no Conselho Municipal de Cultura já é uma prática que se repete há anos, tendo em vista que já escutei as mesmas queixas de outros presidentes. Será que a Câmara Municipal de Vereadores de Conquista detesta cultura? Existe alguma discriminação às artes e aos artistas e às suas diversas linguagens?

No momento em que a nossa cultura está atravessando um dos momentos mais difíceis e de abandono em toda sua história, é a ocasião mais do que oportuna da Câmara de Vereadores, representante da nossa sociedade, vir dar seu total apoio e contribuição a este setor, mas parece que ninguém liga para isso porque, como muitos entendem, não dá voto.

Não preciso aqui elencar os inúmeros problemas que praticamente paralisaram a nossa cultura (só está sendo tocada pelos abnegados por conta própria), destacando o fechamento do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal e da Casa Glauber Rocha, cujos imóveis estão sendo destruídos pelo tempo.

Outra questão é a criação de um Plano Municipal de Cultura, de forma que Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia, tenha uma política pública que norteie as atividades culturais. Existem outras inúmeras demandas, mas vamos ficar somente nestes pontos cruciais para começar o processo de revitalização da cultura.

A Câmara Municipal de Vereadores vai continuar em silêncio sobre este assunto? Os indicados ao Conselho não vão participar das reuniões mensais? O legislativo não vai convocar, por exemplo, os artistas, intelectuais, as entidades, as academias e tantos outros interessados para discutir o problema, no sentido de encontrar uma solução ou saída para ressuscitar a nossa cultura do túmulo em que se encontra?  Com a palavra os vereadores.

O MUNDO ESTÁ CAPOTANDO

Está difícil falar de coisas boas – disse para mim um amigo meu lá das bandas do Ceará. Tem até avião capotando em pista de gelo, coisa inédita que aconteceu no aeroporto de Toronto, no Canadá – completou, para logo elencar uma série de fatos que nos dá arrepios e até vontade de ficar longe dos noticiários.

– É, meu camarada, o mundo está mesmo capotando, principalmente agora com esse maluco do Trump que quer invadir o Canal do Panamá, anexar o Canadá, comprar a Groelândia e transformar a Faixa de Gaza num balneário do Oriente. O ruivo está agora fazendo uma aliança com o Putin, da Rússia, o que nos faz lembrar o acordo de Hitler com Stalin, no início da II Guerra Mundial. Deu no que deu!

– Agora é cada um por si no mercado internacional com as taxações das transações comerciais. Estão dizendo que é o trilionário Elom Musk que está governando os Estados Unidos. O próprio filho dele, uma criança de quatro ou cinco anos, (o que ele estava fazendo na Casa Branca?) mandou o Trump calar a boca enquanto o pai soltava o verbo num monte de besteiras.

Até me juntei a ele em suas catilinárias. Parece que o mundo está capotando mesmo com as altas temperaturas batendo recordes. O pior é que muita gente ainda não acredita que estamos em pleno aquecimento global. Até os aparelhos de ar condicionado não estão aguentando o calor de 50 graus. Do jeito que está, não adianta fazer piscina de gelo.

Mesmo com o mundo pegando fogo, os caras só querem saber de perfurar petróleo nas profundezas da terra e dos mares, inclusive o Brasil. – Ora, se a Guiana, nossa vizinha ali do lado pode, nós também podemos e queremos ganhar dinheiro – berrou o presidente da República, que se tornou coisa privada. O Congresso Nacional é o nosso calcanhar de Aquiles, ou um cancro. As emendas parlamentares são as maiores fontes de corrupção.

Por falar em Brasil, meu amigo espírito de porco não contou conversa e mandou sua pesada catapulta para derrubar muralha feita com óleo de baleia. – Porra, o nosso país já está capotado há séculos. É tanto tempo, meu caro, que os brasileiros nem sentem mais que vivem de cabeça para baixo. O sangue corre certinho e ninguém fica asfixiado. Somos os mais resistentes paus-de-arara e povo nenhum ganha para a gente numa olimpíada. Fomos feitos à prova de tortura – esbravejou.

Não seja tão exagerado assim! Tentei contemporizar falando das riquezas naturais, das lindas praias, das belas paisagens das nossas chapadas, sobretudo a nossa aqui da Bahia, a Diamantina, o espírito de solidariedade nas doações, da criatividade que a nossa gente tem para se virar e sair dos maiores perrengues, mas ele não quis conversa e mandou mais torpedo de lá.

– Não me venha com seu blábláblá, com seu palavreado tipo vaselina, graxa de motor ou de parafuso de roda de carro. Vocês ficam ai o tempo todo falando de paz e amor enquanto o planeta arde em ódio, intolerância e ganância. É cada um querendo lascar com o outro. O inferno é aqui mesmo, sem purgatório!

O cara estava mesmo virado no moi de centro ou nos seiscentos que me fez lembrar do filme “Dia de Cão”, que muita gente deve conhecer. Ele afirmou não acreditar mais nesse papo de certos filósofos de que ainda vamos viver numa sociedade humanística e solidária.

Para ele, o mundo está mesmo capotando, e numa ribanceira. Não quis mais alimentar essa prosa cavernosa com cara de funeral. Trocamos umas ideias sobre futebol, música, literatura e poesia. Nem pensar em religião, porque ainda ia ser mais complicado e desgastante. Na certa ia dizer que ela é uma das principais causas do mundo estar capotando.

 

DO ANALÓGICO AO VIRTUAL

Ninguém quer mais saber da época do pilão de café ou fazer uma omelete num prato batendo os ovos com uma colher até ficar no ponto. Era gostoso e dava satisfação. Vivíamos no tempo do analógico onde o telefone fixo e aquela velha televisão de duas cores preto e branco eram nossas maiores invenções, sem contar o antigo rádio a pilha que levavam pancadas quando davam interferências e ruídos. Às vezes, voltavam ao normal.

Como diz um dos ditados mais populares: Éramos felizes e não sabíamos, como nas brincadeiras de criança. Pouco se falava de angústias existenciais, estresses, sintomas de pânicos, traumas diversos e outros problemas psicológicos.

Depressão tinha o nome de fossa e nem se ouvia falar em psicanálise. A sabedoria estava nos mais velhos. Eles hoje nem são mais consultados. Um conselho ao pé do ouvido nos tirava das enrascadas. Atualmente respondemos que se conselho fosse bom, não se dava, se vendia.

Hoje tudo é elétrico e tecnológico, da cozinha ao quarto de dormir e somos vigiados dia e noite pelas câmaras. Vivemos em plena era virtual onde as pessoas passam a maior parte de suas vidas agarrados num celular que lhe enche de informações, umas corretas e milhares de falsas, sem falar que este aparelho conseguiu colocar os bandidos dentro da sua casa para lhe infernizar com seus ardilosos golpes.

É claro que existem as vantagens e as facilidades, principalmente quando se trata de ganhar mais dinheiro, mas reclamamos da correria e de que o tempo passa bem mais rápido, o que é uma tremenda ilusão. O tempo é o mesmo, nós é que não somos mais os mesmos.

Aliás, por mais que sejam os problemas e os aperreios, sempre temos na ponta da língua palavras e expressões de otimismo, de que a vida é bela e que tudo vai melhorar, em nome de Deus. Para as doenças físicas, da alma ou do espírito, como queiram, nos apegamos a todo tipo de autossugestões, seitas e religiões.

Os vídeos virtuais nos mostram que dançar nos acalma, alivia nossas tensões e nos dá paz espiritual. Ter bons sentimentos serve até de remédio no tratamento do câncer. Os programas de televisão estão sempre ditando normas de como devemos agir diante das adversidades e querem nos ensinar como devemos fazer as coisas certas, como se existisse um padrão que valesse para todos, quando, na verdade, cada caso é um caso.

Mesmo com todas essas dicas e antídotos contra o baixo astral e as contrariedades, não podemos esquecer que depois de uma dança relaxante, de uma festa de porre com os amigos, de passar horas ouvindo boas músicas ou cuidando de nossas plantas e hortas, a realidade volta a ser o nosso carrasco, embora sejam meios de revigoramento das forças.

Sem ser saudosista, e sendo, na era analógica éramos mais humanos e solidários uns com os outros. Confiámos bem mais nas pessoas e as amizades eram mais sinceras e calorosas. O virtual já diz tudo. Ah, meu amigo, não seja tão duro assim com a vida – estará a esta altura alguém me dando essa repreensão e até me esconjurando. Vai de retro satanás! Será que deve ser a idade?

Hoje somos mais fake news e nem percebemos, ou simulamos que fazer belas e líricas poesias de amor é mais politicamente correto do que falar, por exemplo, do sofrimento, da exploração dos poderosos, da exclusão, da miséria e das desigualdades sociais. Temos mais medos e evitamos discutir ou expor nossas entranhas por receio de sermos excluídos das rodas de bate-papos.

FONTES ANTIGAS DE “A MORTE DE CÉSAR”

O escritor e historiador Barry Strauss, de “A Morte de César” nos apresenta no final da sua eloquente obra as fontes antigas em que ele se baseou para realizar seu estudo acadêmico. Barry cita Plutarco, Apiano, Nicolaus de Damasco, Cassius Dio, Suetônio, dentre outros que podem ser pesquisados.

De acordo com ele, a moderna e a mais influente pesquisa sobre a transição da República Tardia para o Império Primordial é o livro de Sir Ronald Syme (A Revolução Romana, de 1939). O foco principal do trabalho é Augustus, mas o livro contém capítulos sobre os últimos anos de César e a conspiração contra ele.

Alguns dos temas abordados por Syme são o uso personalístico da política para a obtenção do poder, o papel chave desempenhado por Otávio na incitação das tropas contra o Senado em 44 e 43 a.C., e a realidade da monarquia por trás da retórica de Augustus quanto a restauração da República.

“O que podemos compreender da conspiração que matou César depende, em larga medida, do que podemos depreender das fontes antigas”. Robert Etienne traz este ponto à baila em seu excelente livro “Les Ides de Mars: La Fin de César ou de la dictature?” – “Os idos de Março: O Fim de César ou da Ditadura? ”

Plutarco, que foi a principal fonte de Shakespeare, enfatiza o papel desempenhado por Brutus e seu idealismo – ressalta Barry, ao acrescentar que Nicolaus, a quem o dramaturgo inglês não leu, acentua o sangue frio e mesmo as motivações cínicas dos conspiradores e ele também faz de Decimus um personagem chave.

Na análise do autor de “A Morte de César”, acadêmicos antigos tendem a desprezar as opiniões de Nicolaus porque ele trabalhou para Augustus. “Recentemente, os trabalhos de acadêmicos como Malitz e Toher reabilitaram Nicolaus como uma fonte contemporânea a sagaz…” Nicolaus foi um estudioso dos escritos de Aristóteles e Trucidides, duas mentes brilhantes quando se trata de política.

A vida de César é uma fonte inspiradora para muitos livros. “Para um homem de poucas palavras é difícil encontrar um pequeno volume melhor do que o excelente trabalho de J.P.V.D. Balsdon, intitulado Julius Caesar”.

Para alguns historiadores e pesquisadores, os assassinos de César (15 de março de 44 a.C.) eram aristocratas arrogantes, enquanto César seguia as regras da lei e contava com o apoio do povo romano. O tribuno Cícero disse que Decimus almejava fama e grandeza. Outros que os conspiradores tinham ciúmes mesquinhos.

Sobre o que César teria dito a Brutus, veja-se o artigo de P. Arnaud, “Toi  aussi, mon fils, tu mangeras ta part de notre pouvoir – Brutos le Tyrani? (“Tu Também, Meu Filho, Comerás a Tua Parte do Nosso Poder – Brutus, o Tirano?”)

Quando César foi apunhalado (mais de vinte vezes) pelos conspiradores, na versão de Shakespeare, quando ele viu Brutus, teria dito “Et tu, Brute? ou “Até tu, Brutus”. Suetônio já escreve que ele falou em grego : Kai su, Teknon, que significa “Tu também, filho”.

A MELANCIA DO CONDOMÍNIO

(Chico Ribeiro Neto)

A empregada me deu a notícia: estava nascendo um pé de melancia no canteiro do prédio que dá para o “hall”. Foi ela quem – num instante de saudade do interior – plantou num dia em que estava a chupar uma talhada e, displicentemente, jogou uns caroços ali. Pois não é que a planta vingou?!

Comecei a matutar de quem seria essa melancia brotada na chamada área de uso comum. Achei bom iniciar as consultas – talvez até propor uma assembleia geral do condomínio – enquanto ela está pequenininha. Seria cortada em 50 talhadas, proporcionais aos apartamentos do condomínio? Quem jogou as sementes tem direito a uma talhada maior? Quem molhou todo dia também não deve receber mais?

Procurei o Regimento Interno. Tal disposição não figura em nenhuma de suas cláusulas. Pensei, então, em incluir um artigo mais ou menos assim:

Artigo 248 – As frutas ou quaisquer hortigranjeiros plantados em áreas comuns do prédio serão de propriedade do condomínio, a quem compete decidir pelo destino final dos produtos: se serão vendidos ou consumidos pelos próprios condôminos.

Sendo melancia, a segunda hipótese é melhor. Nada como um pedaço de melancia gelada contra uma ressaca domingo de noite. Pelo que sei, o pessoal do prédio ia fazer fila para receber seu quinhão comedidamente repartido pelo síndico.

Outra decisão a ser tomada também em assembleia: iria se limitar as áreas de plantio? Iria se determinar os tipos de hortigranjeiros que poderiam ser plantados? Já pensou se alguém resolver plantar milho, como está se fazendo agora no Terminal da França, graças à leseira total que se abateu sobe a Prefeitura de Salvador? Ou plantar cana, mamão, abacate ou jaca?

Um vizinho levantou outro problema: depois da reforma agrária e da nova Constituição, era preciso se ficar muito atento com relação à posse e uso da terra. A empregada que lançou os caroços da melancia poderia, com o tempo, ficar com direito a uma parte do canteiro, principalmente depois que o usucapião urbano ficou definido a partir de cinco anos.

Para resolver isso, o lançamento das sementes, também conhecido como plantio, somente poderia ser feito por empregado do condomínio ou alguém expressamente autorizado pelo Conselho de Administração para esse fim. Senão, ia se correr o risco de ter que enfrentar uma manifestação, na porta do prédio e com a televisão filmando, com o pessoal gritando palavras de ordem: “Já cheguei/ E não vou/ A melancia é/ De quem plantou”.

Outro assunto a ser discutido é a despesa com adubos e herbicidas, sem contar o salário do agrônomo. Primeiro, ia se verificar se haveria algum agrônomo no prédio pra assumir a assistência técnica dos hortifrúti, ficando dispensado do pagamento do condomínio.

Mais um tributo seria acrescido aos já pagos pelo Condomínio: O Imposto Territorial Rural (ITR), cobrado pelo Incra, que não sei mais se ainda existe, mas, se acabou, já criaram outro órgão para a coisa que esse governo gosta mais de fazer: cobrar.

Faço votos de que, enquanto dure essa discussão, o vigia lance mão de uma amolada faca, numa dessas noites de lua em que o verde da melancia chega a brilhar, e passe no canteiro rapidamente, sorvendo-a em rápidas talhadas, contando com a preciosa ajuda do porteiro, por sinal o autor da ideia de jogar as cascas na lixeira do prédio vizinho.

(Crônica publicada no jornal “A Tarde” em 12/7/1989)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

VEM AÍ O NOSSO REGISTRO

Flagrante do nosso último sarau, realizado no dia 08/02/2025, onde as portas estão abertas a qualquer interessado. Fotos de D´Almeida

Estamos quase chegando lá. Vem aí o registro oficial do nosso Sarau A Estrada, justamente nos seus 15 anos de existência a serem comemorados agora em julho quando, em 2010, um grupo de amigos (Jeremias Macário, Mano Di Souza e José Carlos d´Almeida) decidiu criar o “Vinho Vinil” que logo depois transformou-se no formato de sarau. A comissão organizadora, formada por Cleo Flor, Dal Farias, Alex Baducha e Eduardo Morais está cuidando do processo. Segundo informações de Morais, mais de 90% do projeto já está concluído. A partir dessa etapa, teremos diretoria e conselho fiscal, além de um regimento interno que irá conduzir melhor nossos trabalhos culturais. O registro está sendo viabilizado graças à colaboração voluntária mensal dos participantes do sarau através da criação de um fundo financeiro. É bom deixar claro que a contribuição não é obrigatória e qualquer interessado pode participar dos nossos eventos bimensais, sem nenhum impedimento. Com o registro, o Sarau A Estrada passará a ser uma entidade cultural de utilidade pública sem fins lucrativos, com seu corpo de associados. Essa formalização poderá ser concedida em ato de lei pela Câmara de Vereadores, o que possibilitará o Sarau celebrar parcerias com outros órgãos e empresas na arrecadação de recursos visando a realização de atividades artísticas em Vitória da Conquista. A comissão também está idealizando os meios necessários para uma comemoração dos seus 15 anos. Outra ideia é realizar um documentário sobre a história do sarau mais longevo de Conquista.

MENINO MOLEQUE

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Quando menino traquino,

Franzino nordestino,

De pai roceiro e carpinteiro,

Cresci na labuta da mandioca,

Que da terra saia

Como se fosse minhoca.

Depois fui para cidade pequena,

Da minha querida Piritiba,

Enfrentar outra cena:

Como menino moleque,

Paquerei uma morena,

Onde fiz o primário,

E de lá fui para o seminário,

Para ser padre vigário.

Estudei o latim e o grego,

Até o português e o francês;

Larguei a batina,

Porque não era minha sina,

E rumei pra capital,

Só com meu embornal.

Ainda aprendiz,

A rua era o meu lar,

Passei no vestibular

Para o curso de jornalismo,

Onde aprendi tanto ismo;

Duelei com a sorte

Como sertanejo forte;

Inventei ser escritor

Menino moleque,

Que nunca sonhou ser doutor,

Apenas um respeitado senhor,

Lá do interior.

VIDA SEM VÍCIO NÃO É VIDA

Conheci um amigo colega de trabalho na Assessoria de Comunicação da Federação das Indústrias da Bahia que era viciado em sexo. Eram os velhos tempos das décadas de 70 e 80. Nunca vi um negócio daquele, tanto que servia de piadas e gozações na boca de outros companheiros.

Às vezes ele chegava agoniado pela manhã e lá pelas 10 horas me pedia para segurar as pontas no setor que ia dar uma. Era casado e já havia feito sexo com a mulher. Coisa de louco que me deixava intrigado com aquilo! Todo vicio exagerado como o dele precisa ser controlado e tratado. Não é fácil!

O vício não é apenas um privilégio dos homens. As mulheres também, inclusive por sexo. Um amigo me disse uma vez que não estava mais aguentando com a esposa que queria dar mais de uma por dia. – Bicho , que vez que fico com as pernas bambas e ela numa boa. Tem aquelas que tomam um porre daqueles! Falam as más línguas que um dos vícios principais da mulher é a fofoca. E quando se juntam duas ou mais mulheres! Não me chamem de machista.

Na verdade, todo mundo tem seu vício, uns bons e outros ruins, mas até os virtuosos passam do limite como passar o tempo rezando ou meditando. O nosso amigo professor Itamar Aguiar, que me despertou para o assunto, disse que a pessoa que não tem vício é viciada em não ter vício. Quando é demais, não é nada bom para o espírito e para o corpo.

Nos nossos tempos atuais dos avanços tecnológicos, um dos maiores vícios da humanidade é o uso contínuo do celular, isto é, ficar navegando na internet, horas e horas até ficar doente da cuca, principalmente nossos jovens.

Do outro lado, temos os mais raros e saudáveis que são os vícios da leitura, do estudar e o do conhecer. Sem esses vícios, nossa alma fica sem vida e entra em decadência. Talvez seja o mal do século.

Os vícios podem se tornar compulsivos e existem os coletivos e culturais. No Brasil, por exemplo, a falta de pontualidade nos eventos e o ímpeto pela corrupção estão em nós impregnados desde a época colonial, herdada, principalmente, dos portugueses.

Vamos, então, elencar aqui um montão de vícios que cada um traz consigo, e muitos não percebem quer carregam eles consigo na cacunda, e não adianta dizer que têm porque negam e até ficam aporrinhados e contrariados. Poderiam ser chamados de vícios inconscientes, não perceptíveis pelos seus próprios donos?

Existem vícios para todos os gostos e prazeres do freguês. Morei com um amigo numa república, José Gomes, onde ele tinha mania de limpeza, de não deixar dobras nos lençóis das camas e colocar as toalhas de rostos uma rente com a outra, milimetricamente.

– Porra, caralho, alguém aqui usou a toalha e não deixou no lugar certo – gritava ele de lá do banheiro, dando aquele esporro. Um colega fazia a bagunça de sacanagem só para ver a reação dele. Qualquer cisco que ele via na sala ou na cozinha tocava a reclamar. Era um tormento conviver com ele.

Aquele comportamento me fazia lembrar de um filme norte-americano onde o personagem principal tinha esse vício e sempre estava no banheiro olhando se as toalhinhas estavam com as pontas corretas, todas em seus devidos lugares. Não podia uma mudar de posição com a outra.

Fumar e beber são vícios comuns do nosso cotidiano, como o meu, mas existem as drogas pesadas, como crack, cocaína, anfetaminas que fazem um estrago danado na mente e no organismo. Em demasia, a chamada overdose, mata. Estes são difíceis de serem extintos pelos usuários, só com um longo tratamento.

O fanático religioso e político também é um viciado perigoso e pode até se transformar num criminoso. A maioria é contaminada por uma lavagem cerebral de anos ouvindo pregações. Outros por conta do reacionarismo e até por interpretar os fatos de maneira errada.

Tem aquele de ficar o dia todo ou uma tarde jogando dominó na esquina. Existe o noveleiro e o que fica o tempo todo em frente de uma televisão. A maioria é de idosos aposentados que, por um motivo ou outro de oportunidades, vive sem uma atividade para ocupar o tempo que não para.

Ao longo da minha vida já tive vários vícios, dentre os quais muitos cortei e outros os maneirei por questão de idade. Quem não tem vício na vida que levante a primeira pedra. Uns, como dita as leis da sociedade, são lícitos, outros ilícitos que podem dar cadeia, mas a vida sem vício não é vida.

IPHAN É O MAIOR RESPONSÁVEL PELA QUEDA DO TETO DO SÃO FRANCISCO

Um amigo meu compadre e ex-colega de seminário me ligou de Salvador lamentando a queda do teto da Igreja da Ordem Primeira de São Francisco onde me abriguei com sua ajuda por um certo   período de forma clandestina. Foi um tempo de sofrer onde me refugiei para aliviar minhas dores.

Ele trabalhava na portaria e relembramos antigas histórias. Ficava praticamente escondido e isolado no quarto, mas conheci por dentro boa parte desse grandioso monumento secular. Uma das coisas que mais me chamava a atenção eram os painéis de azulejos, sem falar das pinturas e esculturas de artistas famosos.

Bem, essas lembranças são irrelevantes diante da tragédia anunciada (aliás, no Brasil quase todas são) que aconteceu recentemente com a queda do teto do convento que vitimou uma pessoa e feriu outras cinco. O pior de tudo é a impunidade.

Não temos dúvidas de que o maior responsável por esse desabamento foi o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por incompetência do seu presidente e desleixo com relação à nossa memória. Coisas dessa natureza sempre estão ocorrendo em Salvador e em todo Brasil, um dos países do mundo que menos preserva sua história.

Infelizmente, somos um povo sem memória. Aqui em Vitória da Conquista, por exemplo, nossos equipamentos culturais estão fechados e o tempo se encarregando de corroê-los. O poder executivo já deveria ter sido criminalizado pelo Justiça. O tempo passa e tudo continua no mesmo estado. Os artistas, os intelectuais e toda sociedade também têm sua parcela de culpa.

Quanto a Igreja do São Francisco, construída pelos portugueses entre os séculos XVII e XVIII, cujo teto veio abaixo, em minha opinião, o presidente do Iphan deveria ter sido demitido sumariamente pela ministra da Cultura Margaret Menezes, mas lhe falta pulso e também competência para dirigir nossa cultura.

Uma das funções do Iphan é justamente proteger nossos bens culturais. Sobre a situação precária do teto, o órgão foi avisado com antecedência e não deu a devida atenção de urgência. Depois o presidente fica com a cara de tacho diante da imprensa e saiu pela tangente querendo culpar os frades da ordem franciscana. Falou das obras de recuperação dos azulejos. O que tem a ver uma coisa com a outra?

Penso que o Iphan, criado em 1937, com seus técnicos – se é que existem – deveria por obrigação fazer uma vistoria quinzenalmente ou mensalmente em todos os equipamentos históricos sob sua responsabilidade, como forma de prevenção para evitar tais desastres.  As agências e institutos no Brasil têm sido utilizados como cabide de empregos e, muitas vezes, colocam um diretor à frente que nada entende do riscado.

A Igreja do Ouro (tem 800 quilos) como é conhecida a do São Francisco é uma das maiores expressões do barroco no Brasil e está entre as sete maravilhas de origem portuguesa no mundo. Por essa grande importância e significado cultural, não era para acontecer essa tragédia que nos deixa envergonhados perante o mundo, como um país do improviso e sem planejamento. Não é um país sério.

No Brasil, as maiores maravilhas históricas patrimoniais são Ouro Preto, o Centro de Olinda, o Pelourinho, em Salvador – a igreja de São Francisco está em seu entorno – A Estação da Luz, em São Paulo, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro e o Teatro Amazonas.

Conheci muito bem o velho Pelourinho na época em que seus casarões e monumentos estavam caindo aos pedaços. Ainda bem que deram um socorro a tempo, mas ainda deixa muito a desejar em termos de proteção e segurança. Nas outras maravilhas, vez ou outra, acontecem desabamentos e até incêndios por falta de preservação.

 

SARAU DEBATE NEANDERTAL ÀS GRANDES CIVILIZAÇÕES HUMANAS

Foi uma noite de intensos debates culturais, proposições, pronunciamentos emocionantes, declamação de poemas e contação de causos durante mais um Sarau A Estrada, realizado no último sábado (dia 08/02), no Espaço Cultural do mesmo nome. Podemos dizer que todos participantes respiraram cultura numa interação cordial na troca de ideias, conhecimento e saber.

Os trabalhos foram abertos pelo membro da comissão diretora Dall Farias, seguidos de vários informes, com destaque para o andamento do registro oficial do sarau, que está completando 15 anos de existência agora em julho. O companheiro Eduardo Morais nos informou que o processo está em seus detalhes finais de conclusão.

Na ocasião, Carlos Maia nos chamou à atenção para o movimento dos artistas e intelectuais em geral em prol da abertura dos equipamentos culturais do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal e da Casa Glauber Rocha. O Sarau A Estrada se colocou como parte integrante dessa mobilização e até assinou um documento que pede providências urgentes e prioridade do poder executivo para que essa reivindicação seja logo atendida.

Da Casa da Cultura, Rose e Odete falaram da atual situação da entidade e do tremendo esforço para continuar fazendo cultura e nos convidou para participarmos de seus eventos. O professor Itamar Aguiar nos deu uma boa notícia de que em breve estará lançando seu mais novo livro, mas não adiantou o assunto.

Logo após as informações dos presentes, o tema “Do Neandertal às Grandes Civilizações Humanas” foi abordado pelo jornalista e escritor Jeremias Macário, destacando os povos sumérios e egípcios.  Ele procurou fazer uma síntese levando em consideração que o assunto e vasto e carecia de um bom tempo para ser explanado. Eduardo até brincou de que o tema vale um seminário.

Sobre o homem neandertal, o jornalista assinalou que viveu há cerca de três milhões de anos e sobrevivia da caça, da pesca e da colheita de frutos nas florestas. Era ainda um ser que vivia feliz e tinha como sentido o viver a vida, sem preocupações com o passado e o futuro.

Naquela época ele nem sabia que era um reprodutor e achava que a mulher ficava grávida por picadas de insetos e por causa da lua cheia. Fazia sexo grupal, por simples prazer, e não por culpa. Com o passar do tempo, a mulher, que domesticou o homem e passava o dia em sua caverna, foi observando o comportamento dos animais e descobriu o porquê da fêmea ficar grávida.

Com as sementes dos frutos que o homem trazia das matas, ela ensinou o companheiro a plantar e assim foi criada a agricultura que gerou mais tarde o poder de ter uma propriedade. Com as demarcações das terras vieram os conflitos. Por causa da herança familiar, o homem criou a monogamia, exigindo que a mulher ficasse somente com ele para evitar partilhar seus bens com outros herdeiros.

De nômades a sedentários, o homem foi se tornando sapiens (150 a 130 mil anos) criador da “civitas”, do latim que significa cidade e civilização. Dentre as maiores civilizações, o palestrante destacou os sumérios (oito a cinco mil anos a.C.) e os egípcios que vieram logo depois, embora existam controvérsias de historiadores quanto a esta ordem.

Os egípcios, que tiveram três mil anos de faraós, chegaram a acreditar que eles fossem os pioneiros da civilização. O faraó Psamético resolveu fazer um experimento com crianças e até se pensou que os frígios fossem os primeiros, mas não foi bem assim.

Os sumérios, da cidade de Sumer (outros descrevem que foram bárbaros vindos das montanhas do Cáucaso e dos Balcãs) viveram na região do Crescente Fértil chamada de Jardim do Éden pela Bíblia, uma longa faixa de terra da Mesopotâmia (Iraque) entre os rios Tigres e Eufrates. Meso (meio) e tâmia (rios).

Com terra fértil e dois rios, os sumérios puderam criar uma grande civilização de reis, religiões, deuses, prosperidade e até impérios. Se organizaram em comunidades em forma de cooperativas e inventaram a técnica da irrigação, da roda, da medição de lotes, a matemática; observou o fluxo das águas para conter as enchentes; criaram a forma de impostos, o comércio, a contabilidade e a escrita cuneiforme que controlou todo processo de plantio e produção.

Com essa ordem empreendedora, os sumérios passaram a ter mais tempo para outros inventos e conquistar tribos diferentes. O rei Sargão I, por exemplo, criou o primeiro império da Mesopotâmia. Com a ascendência, tivemos o esplendor da Babilônia, do rei Nabucodonosor que chegou a escravizar os judeus, povos de Israel. Outro grande rei foi o Ciro, da Pérsia (Irã), que libertou os judeus. Ao longo do tempo houve também reis sanguinários.

Quanto aos egípcios, Macário fez uma viagem pelos faraós que reinaram por três mil anos. Citou o faraó Akenaton, o primeiro a estabelecer o monoteísmo, do deus único Aton. Além disso, foi um rei que se dedicou à cultura e às artes de uma forma geral, como a poesia, artes plásticas e outras linguagens. Dizem os historiadores que Moisés, fundador do judaísmo, foi seu sacerdote que, mais tarde, guiou os hebreus pelo deserto até a terra prometida de Jericó, uma das cidades mais antigas do mundo ainda existente, na Palestina.

No bate-papo, também foram citadas as construções das pirâmides Quepes, Quéfren e Miquerinos, as maiores entre muitas outras. Por volta de 160 a 150 anos a.C., os reis deixaram de construir essas pirâmides por causa dos ladrões de túmulos que saqueavam esses locais para ficar com os tesouros e vender clandestinamente para turistas do exterior.

Os corpos passaram a ser enterrados nos areais e em rochedos, numa área que a denominaram de Vale dos Reis. A civilização egípcia passou a ser mais conhecida no ocidente a partir da invasão de Napoleão e seus sábios quando descobriram a Pedra de Roseta.

Também o livro de Domique Vivant, “Descrição do Egito”, proporcionou ainda mais essa abertura para a vinda de arqueólogos ingleses, alemães e norte-americanos ao Cairo, por volta do século XIX, quando descobriram os túmulos e as múmias dos faraós Tutucâmon, final de 1922, Amosis I, Tumés III e Ramsés II, o grande e todo poderoso, aquele que teve um embate com os hebreus.

Logo após essa conversa interativa e proveitosa, várias pessoas declamaram seus poemas autorais, como Itamar Aguiar, Regina, Carlos Maia, Dall Farias, Macário e Vandilza Gonçalves, a anfitriã da casa que nos brindou com um delicioso cozido de carneiro, Aurelício Amorim e tantos outros. Tivemos ainda os parabéns aos aniversariantes do mês nas pessoas de Jeremias Macário, Regina, José Carlos d ´Almeida, Maria José e Cleu Flôr.

 





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