Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Noite clara de lua cheia,

No cio da terra,

A aranha tece sua teia,

Ouve-se o ronco das águas,

Corredeiras de lágrimas,

Lá fora rondam as feras,

E eu aqui em minha caverna,

De milhões de eras,

Com meu coração de pedra.

 

Meu coração,

Tem a idade da pedra,

Do neandertal,

Do pescar, caçar e colher,

Sentido do existir pra viver,

Do sexo animal,

Feliz como sempre quis,

Sem sentimento de culpa,

Nem angústia existencial,

Do seu deus que me julga,

Para a fogueira mortal.

 

Meu coração é de pedra,

Como do homem sapiens,

Que se debate atormentado,

Na cadeia do tempo,

Levado pelo destino do vento,

Por essa tecnologia, atado,

Que nos roubou a ideologia,

E nos fez idiotas,

Céticos patriotas,

De uma rasa sabedoria,

Ainda numa mistura

Turva e escura,

Do ancestral neandertal.