NÃO É FÁCIL, NÃO!
(Chico Ribeiro Neto)
Não é fácil, não, cidadão, ter que saltar do caminhão, abrir o coração e aguentar a corrupção.
Não é mole, não, resistir ao desespero, a esse seu tempero e a tanto esmero.
Estender a mão, morar em pensão, conviver com a solidão e ver assombração.
É difícil, irmão, passar no vestibular, esse cara devagar e não chorar no luar.
Mudar de moradia, sofrer de azia e essa vida vazia.
Não é fácil, não, espinho no pé, cair o picolé e a cara de Seu Zé.
Filho doente, cerveja quente e a cara da gente.
Pular daquele rochedo, engolir calado e sentir que tem medo.
Ter que dizer Não, ver uma agressão e o resultado da eleição.
Não é mole, não, irmão, sentir saudade, ver tanta maldade e violência na cidade.
A viagem de volta, segurar a revolta e abrir a comporta.
Pedir guarida, a viagem de ida e essa vida.
Café frio, olhar absorto e passarinho morto.
Lidar com o “cidadão de bem”, com o desdém e ter que dizer Amém.
É difícil, irmão engolir o óbvio, dispensar o necessário e entender o vário.
Televisão quebrada, entupiram a privada e o silêncio da madrugada.
Não é fácil, não, já dizia minha tia, engolir problema é soprar poesia.
Joelho inchado, o vizinho do lado, carro quebrado e IPVA vencido.
Não é mole, não, dor de barriga no meio da rua, aposta ganha não foi a sua e a verdade nua e crua.
Peido no Elevador Lacerda lotado, sanitário de barzinho e ver destruído um ninho.
Não é fácil, não, irmão: acreditar que Maria vai voltar, que aquela coisa vai mudar, que esse mundo tem jeito, que vai imperar o respeito, que vamos melhorar cantando Belchior e que iremos desta para melhor.
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