:: 25/jan/2024 . 12:55
CONTINUE REMANDO!
(Chico Ribeiro Neto)
Naveguei nas águas da praia do Unhão, em Salvador, com uns 14 anos, na catraia construída junto com o amigo Zoinho, com uma placa de Madeirit roubada na construção da Avenida Contorno para servir de casco da embarcação, depois batizada por meu irmão Cleomar de “Minas Gerais”, o velho porta-aviões que o governo brasileiro comprou da Inglaterra em 1956.
Foi uma felicidade ter um barco, toda a meninada queria passear nele. Os remos dormiam em casa, para não roubarem, e a catraia (também chamada de “quadrada”) dormia ancorada nas serenas águas do Unhão.
Sempre gostei dos nomes dos barcos e de saveiros. Revelam muita poesia, a sintonia com as águas, o sol e a lua.
Em sua página no Facebook o grupo “Velas de Içar – Saveiros da Bahia” revela uma pesquisa feita com nomes de saveiros de Bom Jesus dos Pobres – um dos portos de saveiros mais dinâmicos da Baía de Todos os Santos – nas décadas de 50, 60 e 70, que catalogou 46 nomes de saveiros de vela de içar que levavam mercadorias do Recôncavo para Salvador.
Destaco alguns nomes de saveiro: “Admirado”, “Amigo Fiel”, “Aurora”, “Chamêgo”, “Considerado”, “Deus Que Me Deu”, “Educado do Norte”, “Dois Amigos”, “Luar de Bom Jesus”, “Piolho de Cobra”, “Respeitado”, “Riso do Amor”, “Sonho Feliz” e “Sombra da Lua”.
Lá vem o “Minas Gerais”, cortando água. Pega aquele caminho que o sol traça no mar às 5 e meia da tarde quando se prepara pra dormir.
No barquinho só cabem dois tripulantes: Chico e Zoinho. Outros meninos seguram na catraia, deixando o resto do corpo no mar: Atum, Biúca, Tristeza, Cobra D’Água, Cascavel, Pé de Valsa e Mondrongo.
Zoinho dá o comando:
– Vamos remar!
– Para onde?
– Não sei, continue remando!
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
“RISCADOS ÁRIDOS DA INFÂNCIA”
Com fotografias do meu amigo fotógrafo, Evandro Teixeira, reconhecido internacionalmente pelas suas imagens da ditadura militar no Brasil e na América do Sul, de Canudos, dentre outras cenas inéditas, do artista plástico Silvio Jessé, que retrata a vida do sertão e dos sertanejos, foi lançado no início deste mês de janeiro, no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, o livro “Riscados Áridos da Infância”, da professora Ester Maria Figueiredo, que tem como cenário a cidade de Canudos. Além do deputado federal Waldenor Pereira e do estadual José Raimundo Fontes, estiveram presentes escritores e intelectuais. O evento contou com uma apresentação musical do maestro João Omar. No final, Evandro Teixeira fez uma explanação de seus trabalhos, destacando as fotos emblemáticas da ditadura civil-militar de 1964 no Brasil, com destaque para a marcha dos 100 mil e dos principais personagens que participaram das manifestações contra o regime, cujo golpe está completando 60 anos e merece ser lembrado para que este episódio nunca mais se repita em nosso país. Na ocasião, Teixeira lançou seu livro de 100 estudantes e militantes que estiveram presentes nos protestos do “Abaixa a Ditadura. “Riscados Áridos da Infância” fala do cotidiano da nossa gente sertaneja, seus costumes e hábitos. É, na verdade, uma obra de memória, com a riqueza das pinturas de Silvio e fotos de Evandro.
TANTAS COISAS
Versos de autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário
“Uma coisa é uma coisa,
Outra coisa é outra coisa”.
Tudo que se faz,
É inspirado noutra coisa,
Como esta “Tantas Coisas”.
Coisa pode ser
Masculino ou feminino,
Substantivo, verbo e advérbio,
Adjetivo e tanta coisa.
Tem o coisa ruim,
Que é o capeta belzebu;
A coisa boa divina azul,
Tanta coisa assim.
Vou lhe contar uma coisa:
Você não pode revelar.
Então, não me conte sua coisa.
Bate aí nessa viola,
Uma canção, samba ou forró,
E não me deixe aqui tão só.
Rapaz, me deu aqui
Uma coisa na espinhela.
Não seria na costela?
Ou outra coisa?
Tenho uma coisa por ela,
Que não sei explicar essa coisa.
Não me venha com mais coisa,
Que já estou cheio de tanta coisa.
Mostre sua coisa,
Que mostro minha coisa.
Me dê sua coisa de pitada,
Pra eu dar uma tragada,
E ficar doidão nessa coisa.
Vá pra lá com sua coisa,
Que fico com minha coisa,
E quem quiser e vier,
Que acrescente outra coisa.
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