:: 8/jan/2024 . 23:49
MEU SERTÃO DE DORES E SABORES
Vou aqui falar do meu peculiar sertão catingueiro, de dores, seco e cinzento, verde colorido cheio de cheiros e sabores quando bate o aguaceiro com trovoadas e relâmpagos, como nos últimos dias aqui no nosso sudoeste, ou sudeste, na região de Vitória da Conquista.
Depois das dores da sequidão, as águas trazem bonança; a terra fica forte e viçosa; e o sertanejo sai alegre com sua foice e enxada para as plantações. O calango risca o chão do bagaço molhado e as aves cantarolam para glorificar a fartura. É tempo do sorrir depois de um tempo do sofrer. As flores começam a brotar dos galhos e se abrem em cores.
São duas paisagens que se diferem, uma entre os engaços, do chão rachado, gado morrendo de fome, os bichos cambaleando, carros-pipas cortando estradas poeirentas, rezas e procissão para chover, retirantes partindo tristes para outras bandas, sertanejos que ficam na resistência da fé e da esperança, cacimbas, açudes e tanques vazios.
A outra se completa com o ciclo da renovação quando o homem e a mulher com seus filhos acordam cedo para irem à roça plantar as sementes de suas subsistências alimentar. É o momento de abençoar e agradecer pelo milagre da natureza, porque os governantes políticos da terra só fazem prometer, principalmente em épocas de eleições. É tudo espera do que vem lá do alto.
A seca e a chuva são dores e sabores para o campo, especialmente do semiárido, como no caso do baiano onde mais de oitenta municípios estavam em estado de emergência sem o precioso líquido da vida que dá sustentação ao lavrador e ao criador de seus animais. É também dores e sabores para a zona urbana.
Entra governo e sai governo e há séculos que essas cenas de sofrimento devido às longas estiagens se repetem. Os planos e os projetos políticos de convívio com a seca, na sua maioria, ficam, apenas no papel, muitas vezes porque este fenômeno se tornou em indústria do voto. Fizeram até transposições do Rio São Francisco, mas as irrigações caem sempre nas mãos daquele menos necessitados. O sistema de distribuição de cisternas e outras medidas não passam de paliativos.
As cidades também são atingidas, tanto nos períodos secos como nos chuvosos. A falta de água provoca racionamentos e aumento nos preços dos produtos agrícolas. São sempre os pobres os mais castigados porque não dispõem de recursos para adquirir os alimentos básicos. São sabores nas chuvas porque elas fazem baixar o custo dos mantimentos, dos hortifrutigranjeiros e até das carnes.
Quando chega o aguaceiro, ruas são alagadas e invadem casas, sobretudo nas periferias onde mora a pobreza, tudo em razão da ausência de infraestrutura de canais de escoamento. Algumas obras, muitas das quais superfaturadas e incompletas, são feitas, exclusivamente, de olho no eleitor.
Um outro fator que agrava mais ainda a situação é a depredação do meio ambiente pelo próprio ser humano. Com o lixo e os desmatamentos, sem falar nas habitações em locais inadequados, as enxurradas causam entupimentos de bueiros, deslizamentos de terras e destruição de casas, com centenas e milhares de mortes.
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