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:: 26/out/2023 . 23:27

O TEMPO TEM O SEU TAMANHO

(Chico Ribeiro Neto)

A velhice tem o tamanho exato. Do prato e do ato. A velhice sabe o tamanho do mar e deixa de pensar. Sente a grandeza do mistério e percebe o tamanho de Deus.

O velho é desconfiado. Perde em paciência o que ganha em sabedoria. Sabe onde as cobras dormem, mas não conta pra ninguém.

O velho gosta de sonhar, e isso sempre é muito bom. Será um ensaio para a morte? A velhice é somar os azuis e lembrar dos verdes. A velhice é uma ressurreição.

A velhice mora longe. Tem que saber chegar lá numa velha canoa em noite de lua. Ela mora numa ilha verde.

Ficar velho é saber demais. Somos feitos de histórias e cada dia tem uma melhor. Pode sentar na cadeira de balanço. Não precisa se mexer, ela balança por si, como um tic-tac.

Tem aquela luz azul que só o velho vê. Catarata ou poesia, ela é bonita.

Minha mãe Cleonice, depois de ouvir três vezes seguidas a música “Roda Viva”, revelou para meu irmão Cleomar: “Agora eu já sei o que é curtir”.

Ele gosta de juntar coisas velhas, mas também adora plantas. Bonito ver uma planta crescer, sinal de vida. Tinha um idoso numa cidade do interior baiano que cultivava uma pequena horta no quintal de casa. Aos 100 anos, já não aguentava mais se abaixar para plantar ou colher. Resultado: arranjou uns caixotes de maçã, encheu de terra e os prendeu à sua altura, seguros por grandes forquilhas de madeira. Em pé, continuou seu plantio e a enviar alface, coentro e cebolinha para os parentes. Os sonhos mudam de lugar com o tempo.

Minha tia Nina dizia que velho dentro de casa é problema. Reclama de tudo: que a TV tá escura, que o vizinho de cima faz zuada e que tem uma semana que não varrem a escada do prédio. E ainda quer almoçar às 11 horas, vive futucando as panelas.

Velho é imburrento, imbirrento, manhoso, dengoso, cismado, treiteiro, falastrão, avexado, enganjento, teimoso, peidão, chato, enjoado, mas eu te amo, meu velho Chico.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

VIVA O NOSSO CORDEL!

Pouco  prestigiado pelos acadêmicos das universidades que ainda criticam a sua forma de escrita poética, argumentando ser fora do padrão literário (tem cabimento!), o nosso querido cordel, vindo lá dos tempos medievais da Península Ibérica, se enraizou no Pouco Nordeste e tornou-se símbolo dos nossos nordestinos sertanejos, como se fosse nosso cartão postal.  É uma pena que um Patativa do Assaré (Triste Partida), por exemplo, seja pouco estudado por esses acadêmicos que escrevem suas teses para eles mesmos, a maioria no intuito de obter títulos válidos no balcão das promoções salariais. No entanto, não quero falar nisso. Meu intuito é homenagear aqui os nossos grandes cordelistas nordestinos que fazem história contando suas estórias e causos de grandes personagens da vida, sobre a seca, Lampião, Antônio Conselheiro, os cangaceiros, a nossa terra árida, costumes, hábitos, o forró e até sobre famosos escritores. Com uma pegada nordestina (Casa de José de Alencar, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, dentre outros), a II Feira Literária e Gastronômica de Belo Campo, também lembrou do nosso tão popular cordel, embora o evento tivesse dado pouco espaço para os escritores locais e da região, como de Vitória da Conquista. A crítica geral foi de que de literária só tinha o nome. Na verdade, o foco maior foi para o setor da educação, com apresentações de atividades escolares para a criançada e os jovens. Esperamos que a próxima feira abra mais estandes para os nossos escritores, inclusive com mesas temáticas sobre literatura, inclusive o estudo do cordel. Ainda bem que lembraram do nosso cordel através de uma tenda reservada exclusivamente para os autores desse gênero que tanto admiro e valorizo.

SEGREDO

Poema de autoria de Paulo Henrique Cardoso Medrado, formado em filosofia pela Universidade Católica de Salvador, professor concursado do estado da Bahia, com experiência no ensino superior (FTC, Fainor, dentre outros), tendo os primeiros livros em 2019 – O Banquete de Palavras I e II, A Caverna de Jomapawi e várias antologias no decorrer de anos. Atualmente é membro da Academia Barreirense de Letras.

Sei agora o poder do instante

Transformador que chega dá medo

Quando ele aparece na mesma hora.

 

Instante único que já passou, agora

Mais não demora nada e já se foi

Não deixa rastro e nem pegada afora.

 

Quase não se vê, mas sabe que apareceu

Que levou algo de modo ligeiro

Mas que o presente continua, amanhã, em segredo.

 

 





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