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:: 16/out/2023 . 21:44

VIZINHOS NÃO SE CONHECEM MAIS

Foi-se o tempo em que os vizinhos e moradores da mesma rua numa cidade se conheciam e tinham intimidades. Uns frequentavam as casas dos outros e se ajudavam nos momentos de maior aperto. Colocavam suas cadeiras nos passeios em final de tarde para prosear.

As amizades eram sinceras e sempre havia uma fofoqueira ou fofoqueiro, mas sem muitas maldades e o ambiente era até engraçado. A fofoca fazia parte das conversas e tinha que ter um do tipo repórter social. Havia aquela (ele) que dizia que sua boca era um túmulo, mas soltava tudo que ouvia. Se você tivesse algum segredo, guardasse, mas se queria espalhar era só contar sua notícia no pé do ouvido do fofoqueiro (a).

Os mais velhos lembram bem quando uma comadre batia na porta da outra comadre pedindo uma xícara de açúcar, um pouco de sal, uns ovos para fazer uma omelete, um pó de café, uma porção de farinha ou feijão porque a situação não estava boa. O compadre recorria ao outro solicitando um dinheirinho emprestado.

Hoje, principalmente nas grandes cidades, o vizinho nem sabe quem mora ao lado, e quando se batem de frente na vida de correria, não passam de um bom dia. Tem casos que nem isso. São sinais de quanto o progresso desumanizou as pessoas e acabou com os bons relacionamentos.

Às vezes o funcionário dos Correios ou de uma empresa qualquer de entregas confunde-se com o endereço e bate na porta errada quando a encomenda, na verdade, é do vizinho ao lado. Mesmo citando o nome, de Daniel, Mateus ou seu José, o cara que atende diz desconhecer. Certifica-se que a rua está correta, mas não conhece a pessoa.

O mesmo ocorre com os motoqueiros entregadores de comida, com agentes de saúde e outros prestadores de serviços quando existe uma troca no número da casa. Na maioria das vezes, o pedido foi feito pelo vizinho ao lado que o outro afirma desconhecer, mesmo citando o nome. “Não é aqui a casa de dona Dalva”? A rua é esta, mas não sei quem é esta Dalva – responde o vizinho. A Dalva é a vizinha.

Nos tempos de hoje, o vizinho desconhece a existência do outro que mora ao lado, divididos apenas por uma parede. Pior ainda são moradores de uma mesma rua que se cruzam para o trabalho ou seus afazeres do dia a dia e um não sabe o nome do outro.

Quando alguém morre ou acontece uma tragédia e começa a juntar gente na porta, o cara do outro lado, no meio ou na ponta da rua começa a indagar o que está ocorrendo e quem é a vítima que mora naquela casa. Quando descobre por outras bocas, apenas diz que sempre passava pela pessoa, quase que diariamente.

Não adianta pedir informações a um morador sobre outro que reside na mesma artéria. Vivemos na mesma aldeia, na mesma rua, travessa, praça ou avenida com problemas parecidos, cada um com suas dores e sofrimentos, mas todos são desconhecidos.

Ainda se encontra um calor humano quem vive no campo, na zona rural onde o tempo do progresso e da tecnologia ainda não acelerou tanto como nas cidades. Nos distritos e povoados, mesmo onde uma moradia é distante da outra, as pessoas se conhecem. Qualquer problema, especialmente se for grave, é só gritar por socorro. Ah, ainda tem os adjutórios nas roças, os chamados mutirões.

Ainda existe aquele hábito do compadre ou da comadre correr até o vizinho (nem tanto) para solicitar uma ajuda quando está necessitado, quer seja na forma de comida, dinheiro e em caso de doença.

Ainda bem que vivem mais distantes dessa loucura que se tornou nosso mundo, todo fragmentado, cheio de guerras, ódio e intolerância. No entanto, lá já chegou o celular, o rádio e a televisão (nem em todos lugares), mas as pessoas ainda preservam o sentimento humano e o respeito de um para com o outro.

 





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