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:: 7/mar/2025 . 0:23

O METAL VIL MOVE MONTANHAS

– Os idealistas e filósofos costumam dizer que a palavra move ou remove montanhas. Este milenar pensar, além de ser metafórico e figurativo, é abstrato, relativo e subjetivo. O que move montanhas neste mundo capitalista é o dinheiro, meu caro amigo. Quando brindamos, pedimos saúde, pensando no vil metal.

– Pelo visto, você hoje está amargo, aperreado e revoltado com a vida, mas as palavras têm forças de realizar sonhos e fazer mudanças, inclusive nas cabeças das pessoas. Grandes líderes da humanidade fizeram revoluções e movimentos bons e ruins através das palavras.

Essa dialética, ou embate entre o material e o espiritual, existe desde a origem do homem sapiens quando começou a se organizar, saindo da caça, da pesca e da colheita para a agricultura e a propriedade privada. A partir daí tudo passou a girar em torno do dinheiro. O ser humano começou, então, a conhecer a infelicidade.

– A palavra pode até ter o poder de convencimento e concretizar sonhos, mas depende do dinheiro – retrucou o amigo, afirmando que quando a pessoa se vê sem dinheiro, ela entra em desespero e depressão; fica irritado com tudo; não consegue raciocinar direito; e até adoece física e mentalmente. Palavra pode até mover montanhas, mas o dinheiro está em tudo – desabafou.

– Em parte, meu camarada, você tem razão e até compreendo a sua situação e sua agonia, mas seu estado de espírito está mais para confundir. Com este sentimento atrasado, as coisas só tendem a piorar. É quando o urubu debaixo caga no de cima.

– Que nada, vamos ser realistas! Observe uma pessoa endividada e sem dinheiro que olha para todos os lados e não enxerga uma saída. Ela fica macambúzia, banza e mal-humorada, tornando-se até estúpida e bruta. Imagine um pai de família com três ou quatro filhos chorando num canto com fome e ele não tem uma grana no bolso, nem para comprar um pão?

Realmente é um papo complicado e até arrasta energias negativas. Como diz o poeta cancioneiro Raul Seixas, “o ponto de vista é o ponto da questão”. Às vezes julgamos determinadas atitudes de pessoas do nosso convívio de amizades sem procurar saber o que elas estão passando. Muitas vezes, o errado para um, pode ser o certo para o outro.

A velha experiência nos ensina que nem sempre devemos falar tudo o que pensamos, como essa coisa de que só o dinheiro move literalmente montanhas. Do outro lado, existem profissões onde o indivíduo só ganha dinheiro com palavras e muita “lábia”.

A grande maioria não concorda com isso e ainda lhe condena. As naturezas humanas são diferentes. Tem gente que vive alegre e sorrindo, mesmo sem dinheiro. Outros ficam acabrunhados.

Quando um empresário tem recursos, por exemplo, ele derruba uma montanha de minérios e ainda faz um estrago no meio ambiente, vencendo mil palavras contrárias.

Se não me engano, o poeta Fernando Pessoa disparou que a morte é uma confusão. Eu, particularmente, colocaria também a vida nesse rol. Para se nascer é aquela confusão, principalmente para quem não tem dinheiro. A mesma coisa acontece quando se morre.

Trocamos ideias sobre este assunto tão complexo, sem um convencer o outro, mas, num certo momento, achamos por bem falarmos de futebol e amenidades porque religião e política são outros entreveros controversos que, às vezes, terminam em inimizades.

Quando alguém lamenta a falta de dinheiro, o outro do lado rebate prontamente que é o problema de todo mundo, talvez até seja uma indireta com receio de que o queixoso possa se atrever a lhe pedir um empréstimo.

Sabe do caso do moço que foi pedir uma grana ao “amigo” e este contou tanta miséria e desgraça em sua vida que o primeiro chorou e ainda lhe deu o pouco que restava? Ficou sem nada.

Aliás, para o banqueiro, só o dinheiro move montanhas. Para um monge ou um religioso de um convento, são as palavras que movem e removem montanhas através da fé e da esperança.  Fé é mistério e dinheiro é como ciência exata.

“FOI O XAMPU, BEM”!

( Chico Ribeiro Neto)

O cara viajou. Disse à mulher que ia voltar quinta-feira, mas chegou quarta à noite.

Estava sem chave. Morava num conjunto habitacional en Salvador, com paredes de cobogós. Resolveu escalar os cobogós até o segundo andar e fazer uma surpresa à mulher. Surpreso ficou ele ao ver o Ricardão ao lado da mulher, de cueca cheia de girassóis. O Ricardão se picou em desabalada correria enquanto ele exigia explicações da mulher.

O caso se espalhou pelo bairro todo e o cara teve que se mudar, pois não aguentava mais ouvir a rua toda gritar seu novo apelido: “Corno Aranha!”

Vamos a outro caso onde quem viajou foi a mulher. Aconteceu num município baiano onde morava “Maciste”, apelido dado porque ele era magro de fazer dó, parecia um palito. O que tinha de baixinho e magrelo sobrava em ousadia. Era só dona Lindaura viajar e “Maciste”, já da Rodoviária, se mandava pra “zona”, onde amanhecia

Ele tinha uma.lanchonete embaixo da casa onde morava, onde se chegava através de uma escada apertadinha.

“Maciste” nunca pensou em levar mulher pra dentro de casa – “tá maluco?” – mas acabou que vai uma cervejinha, vem outra  já tava beijando a moça na praça, pra todo mundo ver.

“Faz assim: eu vou na frente, fico na lanchonete distraindo a moça do caixa e você sobe com uma encomenda na mão, qualquer embrulho serve, e logo depois eu subo também”.

O coração de “Maciste” batia como nunca. A cerveja deu pra criar aquela coragem toda, até para abrir a geladeira, cortar rapidinho um tira-gosto de queijo, guardar o porta-retrato dos meninos no guarda-roupa e esconder  ligeirinho o chambrão estampado de dona Lindaura.

“Não se preocupe, ela só vai chegar amanhã” – dizia “Maciste”, já de cueca na sala e sem camisa, aparecendo aquela ossada toda, dava pra contar as costelas.

Ele tava animado como nunca, ensaiou uns passos de dança  leu poesia de Castro Alves pra ela e chegou até a pensar em fugir pra Salvador um dia desse, agarrado com ela num ônibus-leito que saía meia-noite.

Amaram-se às três da tarde, e “Maciste”, com aquela coragem do mundo todo que a cerveja continuava a dar, foi tomar banho junto com a namorada.

Estava tudo um paraíso se dona Lindaura, que estava pra chegar de viagem na quinta, não chegasse na quarta. “Maciste” ouviu a porta bater e logo depois a voz de dona Lindaura na sala:

“Benhê, você tá aí? Já cheguei”.

Pingavam do corpo de “Maciste” água e suor, numa tremedeira só. Não tinha nada a fazer a não ser sair correndo, já que descer pelo ralo era impossível. E foi isso que “Maciste” fez. Antes de chegar no banheiro, que estava com a porta escancarada, dona Lindaura foi surpreendida com a passagem de “Maciste”, a mais de 100 por hora, molhado e nu, a cabeça branca de xampu.

“Tô cego, tô cego, meu Deus do céu, tô cego, não vejo nada” – berrava “Maciste”, já ganhando a escada e a rua. Dona Lindaura desceu a toda, corria, gritava e chorava.

Quase um quarteirão depois – quando a namorada já ganhara o mundo – conseguiram segurar “Maciste” e enrolá-lo numa toalha, enquanto dona Lindaura chegava esbaforida: “O que foi, meu amor, o que foi que aconteceu com você?”

“Não sei, acho que foi o xampu. Comecei a lavar a cabeça, escorreu pros olhos, parecia que tinha brasa viva nos meus olhos e fiquei sem ver nada, justo na hora que você chegou.

Dona Lindaura mandou trazer uma bacia d’água ligeiro e depois conseguiu um carro pra levar “Maciste” na melhor clínica da cidade. Duas horas depois, depois de muita lavagem nos olhos com soro fisiológico e farta aplicação de colírios especiais, “Maciste” voltava a enxergar lentamente e dona Lindaura perguntava:

“Tá me vendo, bem, tá bem vendo?”

“Tô vendo tudo nublado  mas tá melhorando, acho que vou voltar a enxergar”.

“Aquele xampu nunca mais entra lá em casa. Vamos mandar carta pros jornais, vou levar o vidro pra televisão, isso é um crime se vender um xampu desses.

E depois daquele dia  o xampu “Havaí del Sol” nunca mais entrou na casa de “Maciste”.

(Crônica publicada  no jornal A Tarde em 5/7/1989)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

ADAGAS AFIADAS

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Oh, deuses gregos-romanos!

Cada um com sua saga ancestral,

Seu feroz instinto animal:

Alianças e tramas atadas,

Com suas adagas afiadas,

Montaram cruel assassinato,

Num trágico secreto ato.

 

Da Gália Italiana,

Gauleses da terra parisiana

Com seu exército treinado,

Homens bravos mercenários,

Júlio César contrariou o Senado,

Cruzou o Rio Rubicão,

Como um deus furacão,

Em Roma imperial,

Foi louvado e amado

Em sua carruagem triunfal.

 

Uma guerra civil romana,

Em quarenta e nove

Antes da era cristã,

Fez-se uma carnificina humana,

Brandiram as espadas tiranas,

Nas batalhas sanguinárias,

Que se tornaram lendárias.

 

No Egito como um tufão

Encurralou o general Catão

Que preferiu se sacrificar,

Ao invés de se entregar;

Renegou a clemência,

Para não ser um prisioneiro

Do seu senhor no cativeiro.

 

Com suas legiões seguiu avante,

Pois na frente tinha mais gente;

Negociou com a rainha Cleópatra,

Dela fez sua amante,

E do seu ovário

Gerou o bastardo Cesário.

 

Em Alexandria,

Admirou todo seu esplendor;

Rendeu vênias ao seu criador:

Alexandre, o Grande,

Vindo do rei Filipe da Macedônia,

Que o mundo desbravou,

Como maior conquistador.

 

Nas Colinas da Anatólia

Praticou sua oratória:

Vim, Vi e Venci,

No aqui e no agora,

Pontuou sua hora,

Consagrou mais uma vitória,

Como guerreiro da história.

 

Depois de tanto inverno infernal,

Num inferno sem igual,

Destronou o vingador Pompeu,

Que já era pelo povo odiado,

Depois fugiu e foi assassinado,

Para não mais voltar ao reinado.

 

Em Roma assentou os colonos,

O plebeu apoiou seus comandos;

Deu terras aos seus veteranos;

Ajustou o planeta em seu astral;

Reformulou o calendário anual;

Recebeu mil honrarias:

De rei, deus imperador

Coroado até como ditador;

Expandiu todo vasto império

Do Oriente ao Ocidente.

 

Ciúmes, invejas e ódio,

Intrigas ambiciosas palacianas,

Brutus virou conspirador,

Com Cassius e Decimus,

A conspiração se espalhou;

Transformaram tudo em terror,

Nas noites cálidas romanas.

 

Com suas adagas afiadas,

Escondidas em suas togas,

Como feras em manadas,

A César apunhalaram,

Em nome das ideias republicanas,

Senadores enganaram,

Com suas ganâncias espartanas.

 

Conspiradores traidores,

Nas armações planejadas,

Mais de vinte adagas afiadas,

De mortais ciladas,

Dilaceram suas carnes,

Até costelas quebraram,

E o sangue jorrou no plenário,

Num um aterrorizante cenário,

Na Casa de Pompeu do Senado

Seu maior inimigo,

Onde imaginava ser seu abrigo:

Tudo estava pelos adivinhos previsto,

Em quarenta e quatro antes de Cristo.

 

Depois os assassinos se refugiaram,

No forte da Colina Capitolina,

Com seus seguranças gladiadores,

E toda Roma chorou suas dores,

Até a sua deusa protetora divina.

 

No funeral de quatro dias,

Os céus se abriram,

Caíram tempestades e ventanias,

Que lhe fizeram imortal,

Como filho de Vênus e Júpiter,

Na Roma de Rômulo ancestral.

 

Sua pessoa foi deificada;

Deu nome a outros imperadores,

Que em Roma dinastia reinou,

Depois das adagas afiadas,

Que deixaram mentes revoltadas.

 

O tribuno Cícero das catilinárias,

Bradou com suas catilinárias,

Marco Antônio hábil negociou,

Um armistício de trégua,

Mas a vingança não tardou.

 

Outra guerra civil começou,

Da Gália Otávio César Augusto,

Que de Júlio herdeiro se tornou,

Um criou julho e o outro agosto,

O moço ergueu sua espada,

Carregando também sua adaga,

Formou até um triunvirato,

Todos caíram em seu prato,

Não sobrou um conspirador,

Teve até oficial desleal,

Que só queria fazer bacanal,

Que de tanto medo se suicidou.

 

Por quarenta e um anos,

Augusto César governou,

Jesus ainda era um adolescente,

Com sua filosofia envolvente,

Encantava toda mente,

Pregando paz e amor,

Quando o sucessor Tiberius

A Judéia massacrou

Pilatos lavou suas mãos,

Os sacerdotes insanos,

O filho Deus na cruz crucificou.





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