:: 13/mar/2025 . 0:55
A ANISTIA E OS ANISTIADOS
Esses do fundo musical emotivo sentimentalista, “oh, meu amado”, das mãos acorrentadas, usando a imagem do Cristo Redentor, com bandeiras verde-amarelo antipatriotas esfumaçadas, pedindo anistia para aqueles que tentaram um golpe de Estado em oito de janeiro de 2023, são os mesmos que apoiam a anistia geral e irrestrita de 1979, imposta pelos generais do regime da ditadura de 1964, que beneficiou os torturadores que mataram e desapareceram com corpos de presos políticos.
Nesta plateia atual temos gerações diferentes, inclusive jovens manipulados por falta de educação e cultura. Essas pessoas acreditam em seus chefes que negam que houve tortura e uma ditadura no Brasil naquela época. São os mesmo que foram para as ruas com cartazes e faixas defendendo uma intervenção militar no país, ou seja, uma nova ditadura para amordaçar a liberdade de expressão.
Será que essa turma é uma reencarnação do passado de trevas? Lá atrás foram a Igreja Católica, a classe média burguesa e os generais que criaram um golpe contra um governo constitucionalmente eleito pelo voto popular, com o argumento de que os comunistas iriam tomar o poder nos tempos de uma “Guerra Fria” entre Estados Unidos e a Rússia.
Atualmente temos um outro cenário um pouco diferente encabeçado por extremistas fascistas, mas também com o envolvimento de alguns generais que mancharam suas fardas, muitas delas de pijama. A derrapada na casca de banana aconteceu porque eles não encontraram respaldo total das forças armadas.
Numa coisa existe uma certa semelhança: Esse bando de hoje, como o da década de 1960, continua chamando o outro lado de comunistas subversivos de esquerda. O atual se apega no princípio de que a eleição foi fraudada. Todos cometeram um atentado e um assassinato contra a democracia.
O grito de anistia de hoje vai para aqueles que tramaram um golpe e não deu resultado. Os anistiados de ontem foram para os torturadores. Esses beneficiários deixaram muitas feridas abertas no país. Como não houve cicatrização, abriu-se espaços para que um grupo agressivo criasse uma baderna e desordem visando a intervenção dos militares para um novo golpe contra a democracia.
Lamentavelmente, tivemos 10 anos de governos de esquerda que quase nada fizeram para punir os torturadores, como ocorreu em governos dos nossos países vizinhos da América do Sul, a exemplo do Uruguai, Argentina e Chile.
Essa bravata de anistia, com imagens apelativas para comover os brasileiros, é justamente porque a anistia de 1979 deixou feridas abertas. Centenas de familiares ainda choram a perda de seus entes queridos, muitos dos quais tiveram seus corpos esquartejados, prensados em usinas de açúcar e outros jogados em rios e no mar.
O que o Estado tem que fazer para reparar essas dores é não anistiar os presos que invadiram os três poderes em oito de janeiro de 2023, com intuito claro de dar um golpe no governo eleito pelo povo. A outra atitude é revogar a anistia de 1979 e prender os vivos que cometeram bárbaras torturas durante a ditadura civil-militar de 1964.
Não é possível que o país repita a mesma história do passado. Caso isso aconteça, a democracia, ainda frágil e relativa que temos, sempre será ameaçada porque a impunidade vai abrir caminhos para novos golpistas.
O Supremo Tribunal Federal tem uma grande parcela de culpa nesse processo porque carimbou a anistia do passado. Não deixa de ser verdade quando se diz que o brasileiro não tem memória porque sempre está se passando uma borracha em nossa história de sangue, ou negando ela, por ignorância do nosso povo e pelas ideias extremistas, odiosas e intolerantes.
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