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:: 10/mar/2025 . 23:23

AS CADERNETAS DE MERCADINHOS

Nem a revolução tecnológica, a internet, o celular, os cartões de crédito, o pix e até a inteligência artificial conseguiram apagar certos hábitos antigos das pessoas, como, por exemplo, as cadernetas dos mercadinhos, armazéns e pequenos negócios familiares.

Dia desses estava observando a caixa de um mercadinho do meu bairro anotando numa caderneta as compras feitas por uma senhora onde ela também tem a sua e assina a outra que fica no estabelecimento para ser conferida no início de cada mês, ou na data combinada por ambas as partes.

Numa época onde o dinheiro em espécie está desaparecendo e quase não existe mais o cheque, esta é uma das tradições, talvez milenar, que nunca se acaba. É uma forma de fiado e confiança no cliente onde dono e consumidor são beneficiados na transação comercial.

Quando aquela mulher estava conferindo as compras na caderneta, veio-me a recordação dos tempos de menino quando meu pai mandava eu e minha irmã comprar sal, açúcar, café, feijão, arroz e outros ingredientes numa vendinha próxima da nossa casa.

Ele nos entregava as mercadorias e anotava tudo no lápis naquela velha e surrada caderneta. A honestidade falava mais alto. Não havia risco do bodegueiro ou quitandeiro fazer alguma alteração no sentido de ganhar mais dinheiro.

No final do mês, ou num dia acertado, meu velho passava lá e quitava sua dívida. Muitas vezes não pagava tudo e deixava um restante para depois. Isso, no entanto, não incidia em juros ou virava uma bola de neve como ocorre com o cartão de crédito parcelado.

Havia um laço de confiabilidade que não podia ser quebrado. Ninguém passava a rasteira no outro. Estou citando o caso da caderneta, mas existem outros costumes que ainda resistem, mesmo com o avanço da tecnologia. São coisas que nunca se acabam.

O mesmo acontece quando se trata de cultura popular, como o forró, os ternos de reis, o maracatu, o bumba meu boi. Nos pequenos interiores, principalmente na roça e em comunidades pequenas ainda persiste aquele “oi de casa”, ou a batida de palmas, quando um vizinho e até um desconhecido precisa falar com os donos da casa.

Quanto ao caso das cadernetas, fiquei a pensar que aquela senhora do mercadinho deve ter conta em banco, ou talvez um cartão de crédito (Pix tenho minhas dúvidas), mas utiliza também dessa modalidade e consegue conciliar suas finanças.

Por sua vez, o pequeno empresário sai ganhando porque é mais um cliente que se soma a outros que compram com dinheiro, cartão e pix. Não indaguei, mas percebi que ele não embute nenhuma taxa no produto pelo prazo que ele deu para receber o pagamento através da caderneta.

Como em muitas outras profissões, como as de relojoeiro, sapateiro, ferreiro, alfaiate, amolador de facas e tesouras, as cadernetas de mercadinhos ainda existem. Também sobrevivem o câmbio (trocas) nas feiras de rolos, a permuta de serviços e mercadorias que são negociadas entre os sertanejos do campo.





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