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:: 15/out/2024 . 22:46

O HOMEM PROCURA VIDA NO ESPAÇO ENQUANTO EXTERMINA A DA TERRA

NÃO É HILÁRIO PROCURAR VIDA LÁ FORA NO ESPAÇO SIDERAL, QUEIMANDO BILHÕES DE DÓLARES, ENQUANTO A NOSSA AQUI É SÓ DECADÊNCIA, CHORO E RANGER DE DENTES? ESSES “FOGUETEIROS” DE NAVES POLUÍRAM NOSSO PLANETA E AGORA QUEREM SUJAR O UNIVERSO. O SER HUMANO É UMA PIADA.

Como se diz no popular, só rindo para não chorar. São ironias, para não dizer contradições e absurdos. A terra em ebulição e vítima de tantas tragédias advindas do aquecimento global (sem essa de mudanças climáticas) e o homem à procura de vida em outros planetas e satélites, quando a nossa aqui está se acabando pelos flagelos da fome, das secas, das enchentes, dos tufões, do fogo e das guerras genocidas.

Estou ficando doidão, meu amigo, e o melhor é botar uma na cuca e sair por aí navegando nas estrelas da noite, como astronauta viajante do tempo, e viva a poesia! Não tente entender as coisas, senão você vai pirar. Melhor pegar uma praia e tomar banho de chapéu, como na “Sociedade Alternativa” do nosso Raul Seixas, “Faz o que tu queres”! O problema é que o sistema tem regras proibitivas que dão cadeia, só para os pobres.

Pois é, agora a NASA está gastando cerca de cinco bilhões de dólares enviando um foguete para descobrir vida lá na “Lua Europa”, quando já temos um continente aqui com o mesmo nome cheio de extremistas e refugiados vivendo na pobreza, que fugiram das bombas e da miséria em seus países de origem. Eles ainda são objetos do imperialismo colonizador que cometeu massacres e extermínios humanos.

Temos aqui na terra uma casa repleta de rachaduras, condenada a desabar por causa de líderes tiranos e responsáveis pela emissão de gazes tóxicos em nosso ar, sem falar na decadência humana que eles nos proporcionaram. Quase um bilhão vive em estado de pobreza extrema, principalmente na África e na América Latina, comendo restos do lixo.

Diante de todas as catástrofes humanas, o negócio agora é comemorar as viagens espaciais dos bilionários que vão fazer xixi e cagar em nossas cabeças lá do alto. Pelo menos suas bostas não chegam aqui. Os cientistas aplaudem os feitos dos “fogueteiros” e ainda nos dizem que vão trazer muitos benefícios futuros para esta merda de humanidade deprimente e decadente que se odeia, estripa e mata uns aos outros.

Ainda falam que o homem é um ser racional evoluído que criou a tecnologia da morte, do genocídio humano, como está fazendo o judeu chamado de “Bibi” contra os palestinos e líbios. Esses carniceiros ergueram muralhas para separar as fronteiras; e fabricaram armas de destruição em massa.

O que é ser racional no mundo de hoje, sobretudo em nosso Brasil da corrupção pandêmica, do fura fila, da política safada do sistema eleitoral que permite a compra de votos, do desrespeito às diferenças das pessoas, da discriminação racial, do individualismo, das babaquices nas redes sociais, das cruéis injustiças sociais e do levar vantagem em tudo?

Melhor, meu camarada, falar das coisas leves como da fina lã do algodão; do desabrochar das flores; ouvir umas boas músicas e não esse lixo nojento; fazer poesia de amor, mesmo que o poeta seja um fingidor; rir das piadas inteligentes porque se for para procurar vida fora daqui, melhor você ir olhar se me vê lá no botequim da esquina tomando uma pinga e jogando conversa fora.

Não esquente seus neurônios, cara! Melhor ficar calminho e fazer de conta que tudo é maravilhoso; que a vida é bela; que não existem intolerâncias ideológicas; que o diabo foi pros “cafundós do Juda”, onde o vento faz a curva; que nosso país é só evolução e justiça. É só fechar os olhos serenamente e imaginar um paraíso de rosas, como manda um analista amigo meu. Voe em seu foguete estrelar.

A PROFESSORA NINA QUE EU TIVE

(EM HOMENAGEM A TODOS OS PROFESSORES)

Este texto foi publicado no livro “Andanças”, de autoria do jornalista, escritor e poeta Jeremias Macário. A obra pode ser encontrada na Banca Central, ou diretamente através do autor pelo e-mail macariojeremias@yahoo.com.br e pelo tel 77 98818-2902. 

O homem sem instrução é um homem iludido. Em minha vida nunca imaginei que uma profissão tão linda e nobre fosse se transformar em medo, angústia e pesadelo. O orvalho da manhã está cada vez mais escasso, e a relva e a grama da minha casa estão secas. O prazer de ensinar e levar conhecimento aos rebentos virou uma obrigação. Sem o riso de antes, muitos estão partindo para outras atividades enfadonhas e chatas, seguindo a lei da sobrevivência a qualquer custo.

Aprendi as primeiras letras e a entoar a tabuada para fazer umas continhas de somar, diminuir e multiplicar com a real professora leiga dona Nina, não aquela personagem título de livros, de peças teatrais, crônicas e contos como símbolo da nossa imaginação para identificar a profissão. Como tudo que acontece pela primeira vez na vida, nunca me esqueci daquela frágil, terna e carente mulher. Mas, o que mais me marcou foi a sua extrema pobreza e como arranjava forças para ensinar.

Era meado dos anos 50 do século passado quando tive minha primeira professora Nina. A infância na roça da fazenda Queimadinha, isolada de tudo, não me dava nenhuma noção do porquê tinha que caminhar com minha irmã dois, três quilômetros dentro de um matagal todos os dias para encontrar com a professora, para ler soletrados os textos de uns livros e ouvir o clamor, choros e brigas de uma família de mais de dez pessoas por causa de um prato de comida nas horas do almoço.

A professora Nina morava como agregada de um vasto latifundiário que mais lembrava os condes e duques franceses da pré-revolução. A fazenda de quilômetros e mais quilômetros de capim e gado se situava num território pertencente ao município de Mundo-Novo e depois Piritiba e Tapiramutá. Como meeira, ela dividia com o patrão usurário e opressor os poucos pés de cafés que tinha no quintal da velha casa. O quadro não mudou. O capitalismo se alimenta de carne humana.

Todos definhavam de fome. Um rapaz anêmico vivia chorando pelos cantos da casa e o velho pai era um alcóolatra à beira da morte que pegava vísceras de bois em matadouros da vizinhança para cozinhá-las numa aguada panela de feijão. Meu pai, também pobre, pagava seus préstimos de professora com um pouco de dinheiro e farinha da terra donde colhia a mandioca do roçado. Eram tempos de muita dureza e o homem trabalhava como escravo, sem direitos a nada. Não mudou muito. A fome batia quase todos os dias na nossa porta e nos olhava com aquela careta de monstro.

O velho e o rapaz morreram e, como já viviam na miséria, nem foram notados. Eram lixos deteriorados ocupando o espaço. Como observou Shakespeare, “Quando morre um mendigo nenhum cometa é visto, mas os céus cospem fogo quando morre um príncipe”.

A professora Nina e o restante dos seus filhos pegaram um pau-de-arara e tomaram o rumo de São Paulo. Meu pai vendeu a terrinha e fomos para outro local onde pelo menos tinha um tanque d´água. Passei anos longe das minhas primeiras letras e só depois fiz, com muito sacrifício, o primário em Piritiba. Mais algum tempo parado e somente em 1962 ingressei no Seminário Nossa Senhora do Bom Conselho, em Amargosa. Bons tempos de estudos e aprendizagem, com professores de qualidade. Ensino puxado!

Passaram-se quase 65 anos e a educação teve suas reviravoltas de altas e baixas, mais que baixas, para cair numa vala lamentável de decadência e menosprezo, numa cruzada de greves, paralizações, ocupações, protestos, desespero, revolta, lamentos e violência nas salas de aulas onde existem mais discórdias que harmonias.

Até o final dos anos 70 e início dos 80, a educação pública era uma referência de qualidade e conteúdo. O professor era o verdadeiro mestre respeitado na sala e os alunos o reverenciavam como um pai, somente abaixo do Eterno. De lá pra cá foi entrando em degradação de promiscuidade total, diferente da missão primordial de transmitir sabedoria e conhecimento.

Aquela imagem da professora Nina e sua família continua viva em mim através de cenas reportadas nos dias atuais de professores comendo bolachas num reservado escondido de uma sala para matar a fome e outros vendendo seus livros de literatura nas ruas para sobreviver, sem contar as agressões sofridas no exercício de suas atividades.

Uma professora chora quando lembra que um dia um aluno colocou um revólver em sua cabeça e lhe intimou que desse uma nota máxima em sua prova para passar de ano. Perdeu, professora! Para não morrer, teve de ceder, mas, traumatizada, nunca mais retornou à sala de aula. Para sobreviver foi ser doceira. Igual a ela, tantos outros se afastaram do ministério de ensinar. De amigo e conselheiro, o professor é visto hoje pelos seus estudantes como um inimigo que merece ser castigado porque escolheu ensinar e formar crianças e adolescentes rebeldes de um lar, cujos pais se ausentaram de suas obrigações, valorizando mais o capital que o humano.

Pelo nível a que chegamos, de baixos índices de aproveitamento escolar que envergonham a nação, com imagem tão negativa lá fora, a pátria como mãe biológica ou adotiva, carece parar com todas suas obras, pontes, estradas, viadutos e projetos de portos e aeroportos, para só cuidar da educação. Esta filha desamparada de mãe desnaturada caiu em desgraça na prostituição das ruas e das drogas.

A figura de um professor qualificado e motivado é o fator mais importante para o sucesso do aluno na escola e na vida, conforme estudos realizados em vários países. No Brasil, quem tira maiores notas nas escolas prefere fazer outros cursos universitários ao invés de pedagogia, isto porque a profissão oferece pouca atratividade, devido à baixa remuneração e más condições de trabalho. O próprio Ministério da Educação constatou que o curso de pedagogia tem sido o destino dos alunos com as piores notas nos exames do ensino médio.

Chegamos ao ponto crucial de que a educação não é mais apenas uma questão de prioridade, mas de salvação de vidas. Milhões são vitimados antes do tempo no Brasil por falta de educação. A professora Nina foi a primeira a me dar régua e compasso para escrever este texto. Outros mestres vieram depois fazendo o demorado processo de lapidação





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