:: 8/out/2024 . 23:41
ÔXENTE, DIA DO NORDESTINO!
– Olha, eu sou nordestino com muito orgulho, lá do sertão catingueiro onde a nambu e a juriti piam no final da tarde, o vaqueiro rasga os engaços e bagaços para pegar a novilha desgarrada e levar o gado para o curral. Sou nordestino das veredas e encruzilhadas, de Antônio Conselheiro, dos penitentes, rezadeiras, benzedores, do cangaço de Lampião, da Coluna Prestes e do Padim Cícero.
– Eu sou nordestino aperreado lá do Maranhão do São Luis, capital dos azulejos portugueses, do maracatu, do bumba meu boi, dos escritores Josué Montello, que publicou “Cais da Sagração”, Gonçalves Dias, Arthur Azevedo, Graça Aranha e do reggae jamaicano, de praias paradisíacas e de seus lençóis de lagoas azuis.
– Sou nordestino da alpercata de couro, retirante da seca e da fome no pau-de-arara, comendo poeira nas estradas rumo a São Paulo em busca de sobrevivência, esperando as chuvas baterem no chão rachado para retornar ao torrão natal.
– Neste Dia do Nordestino arretado, sou o “Luar do Sertão”, de Catulo Cearense, que não é cearense, mas prateia meu terreiro do adjutório com minha gente na batida do feijão. Sou nordestino do mutirão e do aboio do cantador.
– Ôxente, sou o nordestino avexado lá de Natal do Rio Grande do Norte, de Câmara Cascudo, que escreveu e nos ensinou sobre todos os folclores da região, ricos em seus hábitos e únicos no Brasil. Sou das dunas das areias brancas beijando as ondas do mar.
– Sou nordestino arrochado de Zé Ramalho, Elba, Amelinha, José Lins do Rego, Patativa do Assaré e Geraldo Vandré contestador da ditadura, lá da Paraíba de João Pessoa e Campina Grande do forrobodó autêntico arrasta-pé, que sempre fizeram uma arenga com seus poemas, cantorias e romances.
– Sou Nordestino receoso e cismado de Exú, de Luiz Gonzaga, o rei do baião, que fez a Asa Branca cantar para o mundo com sua sanfona de doze baixos. Sou forrozeiro Zé Dantas e Humberto Teixeira que nos encantaram com seus versos sobre a vida e os costumes nordestinos.
– Sou o nordestino de Teresina, lá do Piauí, de São Raimundo Nonato, das terras das pinturas rupestres onde viveram nossos ancestrais vindos do outro lado do mar em jangadas ou sobre os gelos do Alasca.
– Sou o nordestino do Ceará – Fortaleza, de Iracema dos olhos da graúna e dos lábios de mel, de José de Alencar, que nos prendeu com suas belas histórias dos nativos da terra. Sou da terra dos humoristas de cabeça chata.
– Sou nordestino do tô na bruxa pernambucano do Recife, de Mocambos, da Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, que nos conta em detalhes a saga dos negros escravizados nos canaviais da cana-de-açúcar.
– Sou nordestino afeiçoado das Alagoas do Maceió, de Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, que fala do homem do Nordeste de alma agreste, explorado pelo coronel tirano e impiedoso.
– Sou nordestino do raio sergipano, lá do Aracaju, terra de Tobias Barreto, do marechal que proclamou a República e destronou o imperador.
-Sou o nordestino baiano, lá de São Salvador, a primeira capital do Brasil, a mais negra africana, que gosta de sombra e água fresca e não é agoniado; adora um bom papo, de um bom samba no pé e de uma lavagem no Senhor do Bonfim, ouvindo a musicalidade e a poesia de Gilberto Gil, Caetano e tantos outros compositores. Sou da terra de Ruy Barbosa, o Águia de Haia, o jurista dos juristas que nos deu régua e compasso.
– Sou nordestino barril, das gírias, poeta, cordelista, repentista, trovador, como o Cuíca de Santo Amaro, mas não um bajulador. Sou a pátria das artes, da imaginação, da criatividade e que aprendeu a se virar diante das adversidades e intempéries. Me batizei no Rio São Francisco, ou Opará, rio-mar, para os nossos índios.
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