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:: 14/out/2024 . 22:24

USO CONDENÁVEL DAS EMENDAS

Carlos González – jornalista

Tenho plena certeza, amigo e colega Jeremias Macário, que a ferida causada pela punhalada nas costas que você recebeu no domingo (6) não iniciou ainda o processo de cicatrização, porque não existe um medicamento para a cura de uma traição. Você carregará essa cicatriz, infelizmente, para o resto da vida, mesmo que vá residir, como pretende, no meio do mato, trocando a companhia dos “civilizados” pelos bichos.

Sem recursos, mas com um discurso objetivo, mostrando o porquê de querer ampliar sua ajuda ao município, você colocou os pés nas ruas sem calçamento da periferia, a cata dos votos de uma parcela da população esquecida pelo poder público de Vitória da Conquista. Você recebeu tapas nas costas, junto com promessas e pedidos de ajuda, mas também foi alvo da revolta dos menos favorecidos contra a classe política.

Você partiu para essa luta desigual, consciente de que ia enfrentar uma corja que briga sujo, usando o dinheiro como arma. Foi sua estreia e, ao mesmo tempo, sua despedida da política. Na verdade, a convite da sociedade civil conquistense você já deveria estar ocupando uma cadeira na Câmara de Vereadores, ou numa outra casa parlamentar de maior projeção, logo após se aposentar.

Sem um mandato, salvo a indicação do jornal “A Tarde”, Jeremias dedicou mais de 30 anos de vida a serviço de Conquista, sem obedecer a horário. Na condição de chefe de uma sucursal de um grande periódico, o jornalista é um plantonista 24 horas. Líder de um poder virtual, – a Imprensa -, na época, o quarto da República, Jeremias fez mais por este município do que muitos prefeitos e vereadores.

Há 50 anos, quando “A Tarde” deixou a Praça Castro Alves, no Centro de Salvador, mudando-se para a Avenida Tancredo Neves, seu único vizinho era, na margem esquerda, a sede e a pista de corridas do Jóquei Clube. Hoje, a avenida, com seus prédios, restaurantes, bancos e escritórios luxuosos, e o maior shopping da Capital, é considerada como o centro financeiro da cidade.

A Sucursal de “A Tarde” foi um polo de desenvolvimento, não só de Conquista, como de todo o Sudoeste. Exerceu aqui a mesma função que a sede do jornal empreendeu nas regiões do Iguatemi, Caminho das Árvores e Pituba. Pessoas e instituições procuravam o jornalista quando precisavam da divulgação de um evento, de uma ajuda ou de uma denúncia contra o poder público. Hoje, Jeré, essa gente nem lhe cumprimenta com um “bom dia”.

Assistimos a uma das mais vergonhosas eleições neste país, onde o dinheiro correu solto, sem o menor rubor no rosto dos políticos, que usaram as emendas parlamentares – cerca de 70 bi este ano -, para eleger ou reeleger seus afilhados. Veículos carregados com maços de notas de 50 e 100 reais foram apreendidos pela Polícia Federal (PF) em estradas carroçáveis, para serem usadas na compra de votos nas periferias das cidades, onde a fome é um dos maiores flagelos.

Essas emendas, objeto da pressão do Congresso sobre o presidente Lula, distorcem a disputa eleitoral. Um exemplo é Campo Formoso (71 mil habitantes), no norte da Bahia, governado por Elmo Nascimento (União), irmão do deputado federal e presidente do União Brasil, Elmar Nascimento.

Campo Formoso recebeu este ano 53 mi “derramados” pelo filho dileto, que usou de sua influência política na estatal Codevasf para presentear seu mano com máquinas, tratores e caixas-d’água. Conquista, com quase 400 mil habitantes, obteve 23 mi em emendas. E o Elmo, que aqui teve 7.189 votos nas eleições de 2022, com o apoio declarado da prefeita Sheila Lemos (União), não nos reservou nem uma caixa–d’água.

 

 

 

AS FORMIGUINHAS E A LAGARTA

O mundo animal tem suas especificidades e cada um age à sua maneira na luta pela sobrevivência, como o homem que o chamam de racional. Este mata por matar e não para se alimentar do outro. As hienas, os lobos e raposas, por exemplo, atacam os animais mais fortes, como a onça e o leão, em bandos e têm suas próprias estratégias e técnicas para dominá-los e saciar sua fome.

Neste final de semana estava em meu quintal e observei por horas o ataque das formiguinhas chatas miúdas, que surgiram das mínimas frestas e gretas, contra uma lagarta daquela grande de coqueiro. Notei que ela estava parada e enfraquecida no chão porque cortei o coqueiro de tanto elas terem roído as palhas. Foi a única saída para eliminar a praga diante do desperdício de colocar veneno. Essas formiguinhas têm um faro inacreditável.

De repente apareceu um batalhão delas e foram para cima da lagarta. Ela se estrebuchava, se virava, se enrolava em forma de caracol e se arrastava lentamente, mas as formigas não desistiam das picadas, não davam trégua. Dei uma de cientista biólogo e fiquei acompanhando aquele embate infernal.

De certo ponto fui até masoquista, pois poderia muito bem ter separado a lagarta das formigas e lá estaria eu como salvador herói e benfeitor, mas resolvi ver até onde ia a resistência do bicho. Na tentativa de desvencilhar das miudinhas, ela se arrastou por um metro toda ferida das picadas, mas nada de falecer.

Caramba, pensei comigo, ela tem sete vidas dos gatos e é mais dura na queda do que as baratas que resistem até a bomba nuclear! Imaginei um bando de formigas ou abelhas de ferrão me atacando. Ficaria desesperado de tanta dor e poderia parar no hospital.

Tão miúdas contra uma gigante! No entanto, o que estava contando ali era a união de dezenas delas e a persistência para conseguirem seu objetivo final. Já era final de tarde esfriando e as formiguinhas sumiram. Avaliei que elas detestam a frieza da noite.

Depois dessa luta, lá ficou a lagarta inerte, mas ainda com um resto de vida, como um ser em estado terminal. Deixei em seu mesmo lugar. No outro dia, já no ambiente mais quente, apareceram as mesmas formiguinhas e aí foram só fazer a refeição.

Existe aquele ditado na política, no setor empresarial e na vida social de “trabalho de formiguinhas” quando a situação ou o quadro está difícil de se reverter, como o avanço da extrema direita no Brasil. A esquerda, por exemplo, esqueceu desse trabalho das “formiguinhas” para manter e ampliar seu espaço de conscientização política do povo.

Contra um monstro dragão, um só não tem condições de combater, mas um conjunto unido e determinado pode fazer a diferença e a tarefa de eliminá-lo. O mal é que nos tempos atuais, principalmente, a humanidade se tornou mais ainda individualista e egoísta, do cada um que se vire e o resto que se dane.

Por onde andam as manifestações e as mobilizações populares para reverter essa decadência e comodismo? A banda está tocando desafinada, meu amigo! Uma formiguinha só jamais iria paralisar a lagarta, mas o bando, sim, cada uma fazendo a sua parte. Isso poderia ser uma fábula e dela tirarmos as lições, no bom sentido.





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