:: 4/out/2024 . 23:32
QUE NEGÓCIO É ESSE DE DIZER QUE O SÃO FRANCISCO TEM 523 ANOS?
Quando Américo Vespúcio e seus viajantes, um deles André Gonçalves, chegaram à foz do rio Opará, que significa rio-mar pelos índios, em 4 de outubro de 1501, esse rio já existia há milênios e foi denominado pelos desbravadores de São Francisco, hoje popularmente de “Velho Chico”, em homenagem ao santo do dia.
Ora, não consigo entender como os historiadores e a própria mídia afirmam que o Rio São Francisco está completando 523 anos! Até parece que quando eles chegaram em sua foz ele teria nascido naquele ano! Pelo menos não poderia dizer que ele foi descoberto pelos invasores em 1501? É um tanto hilário, para não falar irônico e contraditório esse negócio de aniversário de 523 anos.
Alguém pode até retrucar que é uma data simbólica, mas vamos ser mais coerentes para que as nossas crianças e jovens não confundam uma coisa com a outra, como aprenderam na escola que o Brasil foi descoberto em 1500. O mesmo fazem com a Baía de Todos os Santos, a Baía Guanabara, do Camamu, rios, montanhas e outros pontos do nosso Brasil que já existiam há milhares e milhões de anos.
No entanto, pegando aí o gancho do “aniversário” do nosso gigante São Francisco, das enigmáticas carrancas, podemos confirmar que foi a partir dali, em 1501, que o nosso “Velho Chico” começou a ser explorado pelos novos habitantes intrusos de forma desordenada, ao ponto de estar hoje degradado com suas margens devastadas, sobretudo devido a ação destruidora do ser humano.
Foi durante, por exemplo, os anos de 2011 a 2017 que a nascente do São Francisco, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, chegou a secar. Suas águas baixaram tanto ao ponto do rio se tornar inavegável em quase todo seu leito. Muitas ilhas se tornaram bancos de areia e houve uma mortandade de peixes, sem contar as perdas de lavouras por falta de irrigação. Os ribeirinhos foram os que mais sofreram e passaram fome. O prenúncio era que o rio ia desaparecer.
Ao invés da revitalização, em decorrência do assoreamento em suas margens, o governo federal inventou de fazer a transposição de suas águas para outros estados nordestinos, que até hoje só beneficiou os mais ricos, ou seja, os empresários do agronegócio.
Depois da grande seca que deixou praticamente as barragens, como a de Sobradinho, sem vazão, São Pedro mandou chuva e ninguém mais falou em revitalização do “Velho Chico” com o plantio de árvores em suas margens. Continuam retirando água de maneira descontrolada para a irrigação de frutas para exportação.
Naquela época, entre 2011 a 2017, o mar adentrou boa parte do São Francisco em sua foz, entre Sergipe e Alagoas, e suas águas ficaram salobras. Pela sua história e importância, o São Francisco pode ser considerado o Nilo do Nordeste, mas, devido as agressões humanas, ele pode deixar de existir, ou se tornar temporário, ao invés de perene, basta sofrer outra grande seca.
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