Os mais antigos, principalmente do interior, quando nem se pensava que um dia iam inventar a internet e as redes sociais, lembram muito bem das brincadeiras de moleque, e como era tudo divertido. Quem não se recorda da chegada do circo e do palhaço perna de pau que a meninada acompanhava e depois recebia um carimbo no braço com direito a ir ao espetáculo à noite? Não dava para tomar banho senão tirava a marca.

Hoje, veio-me à mente o homem da bicicleta que rodava as cidades e ficava 24 horas pedalando na magricela (não era bem equipada como atualmente) em redor da praça principal. Esse resistente ciclista passou pela cidadezinha de Piritiba, na região de Mundo Novo e Miguel Calmon, onde cursei meu primário no Colégio Almirante Barroso.

Fiquei tão encantado com aquela proeza que no dia “matei” algumas aulas e a banca de estudos para ver o homem da bicicleta e terminei entrando pela madrugada. Não sei bem se eram mesmo 24 horas de show do moço que pedalava de forma cadenciada durante todo aquele tempo.

O que me chamava mais atenção era como ele conseguia fazer tudo aquilo sem se alimentar e ir ao sanitário, mas depois me disseram que o cara fazia uma paradinha de uns cinco minutos para se hidratar e retornar ao batente.

Isso foi no final dos anos 50 para o início dos 60 e tudo indicava que era uma apresentação patrocinada por alguma fábrica visando incentivar e uso da bicicleta. Pouca gente tinha uma. Tudo era feito no jumento. Diziam também que a Prefeitura Municipal entrava com alguma ajuda ou apoio. Muita gente ficava em torno da praça, especialmente a molecada, para apreciar o feito inédito do homem da bicicleta.

A vida naquele tempo no interior era só alegria e diversão. Não ouvia se falar em ladrão – aparecia algum de galinha, frutas e mantimentos nas roças – e a cadeia passava o maior parte do tempo vazia. Coisa rara um assassinato. A cidade tinha no máximo dois soldados e um delegado chamado calça-curta que tinham pouco trabalho, a não ser apaziguar algumas brigas de vizinhos que eram logo resolvidas. As pessoas podiam dormir de portas abertas.

Meus pais viviam na roça para cuidar das lavouras e eu morava na casa de um casal de amigos. Meu pai pagava as despesas para eu estudar na escola municipal através de um pouco de dinheiro e outra parte com farinha, feijão e milho. Para ter alguns trocados para comprar bolas de gude e revistas de gibis era agueiro, maleiro na estação de trem e vendia lenha nas casas (não havia fogão elétrico).

Fora o homem da bicicleta, nunca deixei de esquecer do circo e dos pequenos parques, com o sistema de autofalante, que passava aquelas músicas saudosas oferecidas aos namorados. A música mais pedida era “Diana” (não sei se esses era o título), bem romântica. João oferece essa música para Maria, com muito amor e carinho. Bons tempos aqueles que não voltam mais.