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:: 23/jun/2022 . 13:58

O “VELHO CHICO” E O MEU SERTÃO

Mais uma vez peguei estrada para Senhor do Bonfim, Jacobina e Juazeiro, e aqui nessa terra de João Gilberto, pedi minha benção ao “Velho Chico”, como sempre faço, e fiz minha oração para que o homem se regenere e pare de tanto maltratá-lo. Agora ele está até robusto porque São Pedro mandou chuvas, mas basta uma estiagem para aparecer as pequenas ilhas rodeadas de areias. Suas margens se estendem até longe, e as embarcações têm dificuldades de navegar. Nada de revitalizá-lo, e os especialistas, pesquisadores e ambientalistas dão suas sentenças de que o “Velho Chico continua morrendo. Um dia, ele vai deixar de existir, e os ribeirinhos dele vão dar suas despedidas, com saudades das épocas de muitos alimentos.

Para mais distante, adentrei na paisagem do meu sertão das juremas, dos espinheiros, umburuçus, umbuzeiros, xique-xiques, dos cactos e mandacarus onde usei minhas lentes para extrair imagens da sua beleza, inclusive do pôr-do-sol diferente do que qualquer outro local. Aqui, tudo é diferenciado e só existe no Brasil da caatinga. As cabas vagueiam soltas entre a vegetação e, às vezes, o cabritinho se perde da mãe. Ele berra quando se sente só, mas a natureza é sábia para proporcionar o encontro com seus irmãos. O sol bate forte e os calangos cortam com destreza os espinhos.

Nos distritos de Maçaroca e Carnaíba, onde o trem cortava o sertão transportando passageiros e cargas, a velha linha férrea está abandonada há anos. Os vagões viraram sucatas que estão sendo roubadas para seus diversos usos e vendidas para receptadores. A linha com dormentes apodrecidos e as pequenas estações caindo aos pedaços (muitas deixaram de existir) me fazem lembrar dos tempos de menino quando saia de Piritiba para passear em Senhor do Bonfim. Bons tempos que já se foram dos telégrafos, dos movimentos dos passageiros com suas bugigangas e malas e dos cobradores de fardas alinhadas com seus quepes para furar os tiques das viagens. Das janelas ia apreciando a paisagem e o trem roncando nas curvas como cobra, apitando para avisar sua próxima chegada. Tudo era festa e algazarras!

O PEQUENO PRODUTOR RURAL SÓ LEVA “FERRO” NA MÃO DO ATRAVESSADOR

Em visita ao meu sertão de Juazeiro conheci uma roça de um pequeno produtor rural na labuta da terra para tirar o pão de cada dia e, mais uma vez, constatei nesse gigante do meu país que ele trabalha para sustentar o atravessador. O governo faz sua propaganda que ajuda a todos com água e outros meios para sua evolução, mas nem todos têm acesso por causa da burocracia.

Tive uma prosa em sua plantação de pimentão e criação de umas cabrinhas, e ele, o nosso Jorge Rodrigues Lima contou as suas dificuldades para manter a sua lavoura. No momento, ele e mais um ajudante estavam fazendo sua colheita e esperando o caminhão para pegar a produção.

Várias caixas (engradados) já estavam cheias e perguntei quanto custava cada embalagem daquela com mais de cem pimentões e, quando respondeu entre 10 a 12 reais, sinceramente não acreditei ao memorizar que no supermercado, na base do peso, quatro ou cinco unidades custam seis a sete reais.

E por quanto o atravessador vende no Ceasa? Em torno de 25 reais, meu senhor. O pimentão ou outros hortifrutigranjeiros rodam o Nordeste, e quando chegam ao consumidor, está na “hora da morte”. Este esquema de exploração persiste há anos e nunca se acaba porque é assim que funciona o sistema capitalista perverso.

Além do aumento absurdo dos combustíveis, essa rotação de mão em mão contribui também para alimentar a perversa inflação em nosso país. Tem o ditado de que o rio só corre para o mar. O grande produtor de alimentos em geral tem sua estrutura e é quem mais recebe subsídios do Tesouro Nacional, que é nosso.

São esses pequenos sofridos que mais alimentam o povo, e não esses empresários que mandam seus produtos para o exterior e comercializam em dólar. Esses nem estão aí para os milhões de brasileiros que passam fome. Com suas bancadas no Congresso Nacional, recebem polpudas verbas com baixas taxas de juros para quitar o débito em cinco ou mais anos.

O nosso simples pequeno produtor com quem conversei, fez seu poço artesiano por conta própria para irrigar sua terra, além de outros benefícios e compra de agrotóxicos para combater as pragas, sem nenhuma assistência.

Disse não ter procurado os órgãos do governo por causa da burocracia infernal, sem falar na demora para ser atendido. Sua produção mal dá para a sobrevivência da sua família, mas não cresce para ampliar sua roça.

Essa é a realidade de milhares, enquanto a propaganda bonita de muita água e fartura mostra programas que só atinge o médio e o grande que possuem outro poder para ser beneficiado. É a imagem da concentração de renda nas mãos de poucos em o aprofundamento das desigualdades sociais, também no campo agrícola.





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