Mais uma vez peguei estrada para Senhor do Bonfim, Jacobina e Juazeiro, e aqui nessa terra de João Gilberto, pedi minha benção ao “Velho Chico”, como sempre faço, e fiz minha oração para que o homem se regenere e pare de tanto maltratá-lo. Agora ele está até robusto porque São Pedro mandou chuvas, mas basta uma estiagem para aparecer as pequenas ilhas rodeadas de areias. Suas margens se estendem até longe, e as embarcações têm dificuldades de navegar. Nada de revitalizá-lo, e os especialistas, pesquisadores e ambientalistas dão suas sentenças de que o “Velho Chico continua morrendo. Um dia, ele vai deixar de existir, e os ribeirinhos dele vão dar suas despedidas, com saudades das épocas de muitos alimentos.

Para mais distante, adentrei na paisagem do meu sertão das juremas, dos espinheiros, umburuçus, umbuzeiros, xique-xiques, dos cactos e mandacarus onde usei minhas lentes para extrair imagens da sua beleza, inclusive do pôr-do-sol diferente do que qualquer outro local. Aqui, tudo é diferenciado e só existe no Brasil da caatinga. As cabas vagueiam soltas entre a vegetação e, às vezes, o cabritinho se perde da mãe. Ele berra quando se sente só, mas a natureza é sábia para proporcionar o encontro com seus irmãos. O sol bate forte e os calangos cortam com destreza os espinhos.

Nos distritos de Maçaroca e Carnaíba, onde o trem cortava o sertão transportando passageiros e cargas, a velha linha férrea está abandonada há anos. Os vagões viraram sucatas que estão sendo roubadas para seus diversos usos e vendidas para receptadores. A linha com dormentes apodrecidos e as pequenas estações caindo aos pedaços (muitas deixaram de existir) me fazem lembrar dos tempos de menino quando saia de Piritiba para passear em Senhor do Bonfim. Bons tempos que já se foram dos telégrafos, dos movimentos dos passageiros com suas bugigangas e malas e dos cobradores de fardas alinhadas com seus quepes para furar os tiques das viagens. Das janelas ia apreciando a paisagem e o trem roncando nas curvas como cobra, apitando para avisar sua próxima chegada. Tudo era festa e algazarras!