junho 2022
D S T Q Q S S
 1234
567891011
12131415161718
19202122232425
2627282930  

:: 10/jun/2022 . 22:45

OS PARDOS, OS CRIOULOS E OS MULATOS

A própria discriminação racial adotada pelos conquistadores (portugueses, ingleses, espanhóis e franceses, principalmente) serviu para introduzir rivalidades entre os próprios negros escravizados a partir das cores da pele entre “pardos”, “mulatos” e “crioulos”.

Essa situação constrangedora ficou bem explícita na trilogia “Escravidão”, escrita pelo jornalista Laurentino Gomes no capítulo que fala sobre “Áfricas Brasileiras”. Isso deu, inclusive, na criação das irmandades, todas com nomes de santos e Nossa Senhora (a Virgem Maria), bastante difundidas na Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro.

“No século XVIII, por exemplo, havia no Rio de Janeiro, o segmento dos “pardos”, pessoas afrodescendentes mais bem posicionados socialmente, organizados em confrarias religiosas de grande prestígio, que procuravam se distanciar dos negros, em especial os recém-chegados da África, e se aproximar dos brancos, dos libertos ou mesmo dos escravos “crioulos”, ou seja, nascidos no Brasil”.

Segundo Laurentino, a expressão “pardo” (classificação até hoje feita pelo IBGE), teve diferentes significados no Brasil colonial. No século XVII era usado em São Paulo para designar indígenas escravizados ilegalmente. Nas regiões produtoras de açúcar do Nordeste, era sinônimo de “mulato”, descendente de brancos e negros. Em Minas Gerais equivalia a escravo alforriado ou homem liberto nascido no Brasil.

“Os “pardos” não escravos no Rio de Janeiro eram também chamados de “mulatos de capote” e gozavam de importância social superior aos negros e cativos, entre outras razões por se vestirem como os europeus. Muitos deles eram ourives, profissão de grande valor na época da corrida do ouro no Brasil”.

Foram os ourives os organizadores da primeira irmandade de padres do Rio de Janeiro em meados do século XVII, sob a proteção de São Brás e os auspícios do Mosteiro Beneditino. Nas décadas seguintes criaram mais três irmandades, a de Nossa Senhora do Amparo, Nossa Senhora da Boa Morte e Nossa Senhora da Conceição.

O autor da trilogia destaca que todo escravo descendente de homem branco era chamado de “pardo”. Assim como todo negro nascido livre, fosse negro ou não. “Havia filhos de africanos negros que eram registrados como “pardos”.

“Portanto, chamar alguém de “pardo” era o registro de uma diferenciação na hierarquia da sociedade colonial, assim como “crioulo” designava escravos negros nascidos no Brasil, enquanto “preto” se referia aos africanos”.

De acordo com Laurentino, “nas irmandades religiosas do Rio de Janeiro, dava-se preferência ao uso do termo “pardo” em detrimento de “mulato”, qualificativo, conforme observam alguns historiadores, associado a atributos como preguiça, desonestidade, astúcia, arrogância e falta de credibilidade, em resumo, moralmente inferior”.

O escritor Laurentino cita o professor Luiz dos Santos Vilhena que afirmava que “quase todos os mulatos ricos querem ser fidalgos, muito fofos e soberbos, e pouco amigo dos brancos e dos negros, sendo diferentes as causas”. O jesuíta padre André João Antonil dizia que os mulatos são soberbos e viçosos…

Esses conceitos refletiam-se no universo da escravidão, e entre os próprios negros e mestiços, cativos ou libertos – um dos estigmas mais profundos e antigos da cultura portuguesa, o da “impureza” de sangue. As leis canônicas exigiam que candidatos a determinadas funções públicas, títulos ou cargos honoríficos, fossem submetidos a uma demorada e detalhada investigação para comprovar que tinham “sangue limpo”.





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia