Em toda a minha vida, que eu me lembre, nunca vi tantos acidentes no ar e em terra de helicópteros e aviões de pequeno e grande porte.  A impressão é que a bruxa está solta no ar, ou seria mais algum fenômeno das mudanças climáticas do aquecimento global? Ainda ontem o avião do presidente teve que arremessar.

Se já tinha, agora tenho mais “medo de avião”, segurando sua mão, como escreveu o poeta cancioneiro nordestino Belchior. Não sou especialista no assunto, mas algo está acontecendo de anormal.

Entendo que a melhor explicação vem da redução de custos das empresas de aviação no que pese à manutenção de suas aeronaves e diminuição no contingente de seus pilotos, forçando o excesso de trabalho daqueles que estão na atividade. Bate o estresse por carga demasiada de serviço.

Outra questão para tantos acidentes – dizem que o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo – é o confuso controle do espaço aéreo, também excesso de trabalho dos técnicos e, no caso específico do Brasil, a má gestão da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) que relaxa no quesito da inspeção mais rígida sobre as empresas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, recentemente um helicóptero do exército se chocou com um avião comercial. Em outros países também vem ocorrendo acidentes graves com centenas de mortes. Entrar num avião hoje já é motivo de pânico. Eu mesmo, confesso que se for obrigado a fazer uma viagem, vou entrar com as pernas bambas, calafrios na barriga e arritmias no coração.

Então, o problema não está somente no Brasil, um país onde a estrutura e infraestrutura dos portos, aeroportos e transportes terrestres deixam muito a desejar porque aqui temos a cultura do se fazer vistas grossas para os erros, sem contar aquele tal jeitinho brasileiro do suborno.

Não nego que sempre tive medo de avião por causa das alturas, mas já rodei quase todo Brasil pelo ar e atravessei o Atlântico por duas vezes. Na primeira foi em 1982 para Alemanha. Meu maior sufoco – parecia que o coração ia pular fora – foi de Munique para Berlim nos tempos da Guerra Fria.

Como a aeronave era obrigada a voar baixo para não ser abatida pelas forças dos Estados Unidos, França e Inglaterra, o troço balançava e se jogava de um lado para o outro mais que montanha russa. O silêncio era total e bateu o medo de morrer em todos passageiros. A maioria pegava na mão do outro. Olhava para os Alpes e pensava que iria ficar enterrado ali naquela geleira.

Quando menino, meus primeiros meios de transporte eram os pés (longas caminhas da roça para Piritiba), jumento, a carroça, o trem e o carro-de-boi. Eram os mais seguros de todos, se bem que nos tempos atuais ser pedestre é um risco nas grandes cidades. O trem, vez por outra, descarrilhava.

Inventaram os carros e depois o avião, o mais “assombroso” por causa das alturas em temperaturas congelantes e da alta velocidade. O japonês criou o trem bala deslizando ou levitando em trilhos modernos e elétricos, controlado por painéis sofisticados de última geração, talvez o mais seguro.

A população cresceu (são mais de sete bilhões de almas) e junto com ela a demanda. Era lógico que os acidentes iam aumentar, inclusive os terrestres que ainda mais matam pela imprudência e falha humana.

Temos mais aviões cruzando os céus e agora estão construindo uns tipos de drones voadores chamados de taxis aéreos ou aplicativos de Uber. Aliado aos fatores já mencionados acima, pode ser também um motivo para tantos acidentes fatais. A tecnologia avançada hoje mata muito mais do que antes quando ela não existia. Até celulares explodem em nossas mãos.