AS ENCHENTES E A REPETIÇÃO DE CENAS ONDE O POVO DERRAMA SUAS LÁGRIMAS
As pontes provisórias feitas de barro e paus são levadas pelas enchentes das chuvas, os morros se derretem e moradores são soterrados, as casas são invadidas pelas águas e lamas, o pessoal da defesa civil aparece para condenar habitações e barracos, os assistentes sociais surgem com planilhas nas mãos para cadastrar as vítimas, os desabrigados ocupam escolas interrompendo aulas, os prefeitos decretam calamidade pública e, por fim, a mídia entra para fazer sua média e pedir doações.
Estas cenas, como filmes velhos arranhados, são repetidas praticamente todos os anos, e o povo derrama suas lágrimas pelas perdas de seus entes queridos e bens materiais. Os governantes apenas dão umas cestas básicas e pagam alguns aluguéis temporários de moradia. Quando bate a estiagem, todos retornam aos mesmos lugares para reconstruir suas vidas e esquecem que podem viver o mesmo drama quando a próxima enchente vier.
Este roteiro de repetição é uma prova irracional e cruel de quanto os nossos governos municipal, estadual e federal são sádicos e cínicos, até corruptos, porque quase nada fazem em termos de saneamento e obras de contenção para que as cheias de riachos e rios não provoquem as mesmas tragédias e desastres, evitando, inclusive, gastos maiores. Os desabrigados sempre são levados para as escolas, cujas aulas são interrompidas em prejuízo dos alunos. Sempre prevalecem o emocional e a irracionalidade.
Um exemplo mais próximo de nós, destas cenas repetidas, aconteceu nesta semana em Itambé quando uma pesada chuva de menos de uma hora desabou sobre a cidade. Os rios Verruga e Pardo transbordaram e inundaram as mesmas ruas e bairros onde há uns dois anos, se não me engano, foram alvos das mesmas enchentes. Os próprios moradores testemunharam seus sofrimentos contínuos.
Apenas citei Itambé aqui bem perto de Vitória da Conquista como exemplo, mas as cenas trágicas que estamos acompanhando nos noticiários são repetições que ocorrem há anos em toda Bahia e em todo Brasil, como no Rio Grande do Sul, que recebeu milhões ou bilhões de reais em doações dos brasileiros e o quadro permaneceu o mesmo. Esses governos não têm o mínimo de vergonha na cara!
A impressão que se tem, e isso é um fato, é que todos gestores públicos são incompetentes, ou adotam de forma premeditada esse procedimento de repetição das cenas de calamidade porque gastando mais, existem mais chances de desvios de recursos. Os decretos de calamidade pública abrem mais espaço para os atos de corrupção. É uma malvadeza com o ser humano que vota nesses mesmos algozes.
Outra explicação seria a intenção de aproveitar mais tempo de exposição na mídia colocando seus prepostos em campo para dizer que estão “resolvendo” os problemas da população. Assim, nessas ocasiões, eles aparecem nas portas dos pobres atingidos dando entrevistas com falsas promessas de obras, e que estão ali para se solidarizar com a miséria.
O mais lógico não seria em definitivo investir mais verbas de uma só vez, no sentido de realizar obras estruturantes de contenção de encostas, abertura de canais para escoar as águas ou construir habitações populares relocando moradores das áreas de risco? A política é a de remediar, de tapar os buracos com borras de café, ao invés de gastar mais e solucionar a situação. Parece que eles se sentem bem com as catástrofes humanas!