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:: 7/jan/2025 . 23:58

PRAIAS SUPERLOTADAS, DOENÇAS E MUITA CONFUSÃO NAS FÉRIAS DE ANO

Mesmo quando era mais jovem, farrista de primeira e vivia minhas boemias, nunca suportei frequentar uma praia superlotada onde cada pessoa não tem direito nem a um metro quadrado de areia. Imagina agora com essa minha idade! Só de ver as imagens, me deixa irritado e estressado. Acho até que sou um anormal, um antissocial de primeira que tem medo de gente.

Sempre procurei praias mais distantes, calmas e menos badaladas para curtir minhas cachaças e dar aquele mergulho tranquilo no mar com minha família e meus amigos. Mesmo quando não tinha carro, saia de casa mais cedo de ônibus e retornava no final da tarde, ao escurecer, quando o movimento esvaziava.

Nessa época do ano quando a maioria viaja de férias, a impressão é que os paulistas, como rebanhos em manada, resolvem pegar a estrada para a Baixada Santista e aí é aquele tormento, a começar pelos engarrafamentos e, quando chegam lá, têm que disputar uma nesga de praia, muitas delas contaminadas pelos esgotos. E os restaurantes? Nem se fala! Pega-se fila para tudo. Que agonia!

Não consigo entender essa preferência em se tornar fermento em bolo de multidões onde uns ficam se batendo com os outros, respirando o mesmo ar boca a boca. Para levantar e ir dar uma refrescada na água é aquela loucura, e o pior é tomar banho em conjunto onde gente mija e caga no bater das ondas!

Esse surto de virose, por exemplo, na Baixada Santista, não é nenhuma novidade. Esse “terror” de gente num mesmo lugar é comum no Rio de Janeiro, em Copacabana, Leblon e no Piscinão de Ramos, o ponto mais popular dos pobres. Em Salvador nós temos como referência de lotação, do tipo freio de arrumação, a Barra, Barra Avenida, Boa Viagem, Ribeira e Boca do Rio.

Na Barra, em Salvador, nesse período de férias, finais de semana e nos feriadões, você olha lá do cais ou de algum apartamento próximo e só enxerga sombreiros e as águas coalhadas de turistas e moradores da capital. Dizem que é chique ir para a Barra porque, às vezes, de forma hisporádica, Caetano Veloso aparece por lá com mais alguns famosos amigos.

Não sou nada famoso, mas quando estudante lascado sem dinheiro, era um grande frequentador da Barra, isso porque ia na paleta da Residência Universitária, no Corredor da Vitória, até a Barra dar uns mergulhos e nadar. Caminhava um pouco mais de dois quilômetros. Não era nenhum exercício físico. Era falta de grana mesmo. Veja bem, isso só ocorria em dias da semana.

Nesses locais tão cheios e espremidos, os casais são obrigados a evitar brigas e discussões, senão chama a atenção da praia toda, embora existam os barraqueiros e barraqueiras que quebram o pau. O papo tem que ser maneirado porque ali tem de idoso a criança. Não dá muito para estirar as pernas e nem pensar naquele namoro mais erótico.

Quando trabalhava e ganhava um salário razoável só tirava minhas férias fora dessa época do ano quando a cancela estava mais livre, sem essa de boiada em disparada, principalmente quando se trata de viajar para esses litorais congestionados, como no Nordeste. Tá louco, meu! Tô fora dessa parada, mas tem gente que adora!

ENERGIAS POSITIVAS E OS BORDÕES

Existem entrevistas na mídia sobre determinados assuntos onde os personagens sempre soltam aqueles bordões que já se transformaram em marca registrada, inclusive por parte do entrevistador que, muitas vezes, faz aquela pergunta imbecil de deixar qualquer um de queixo caído.

Muitas falas saem da boca de turistas endinheirados que estão passeando numa boa, sem tantas preocupações como a maioria do trabalhador brasileiro que recebe um salário mínimo e faz milagres para atravessar o mês, com uma feira regrada e ainda pagar as contas. Trata-se de uma dura realidade da nossa profunda desigualdade social.

– Aqui é uma maravilha de beleza. Essa gente é acolhedora e hospitaleira. Sinto fortes energias positivas nesse lugar – diz o turista ou a turista para o repórter. É claro que tudo é muito bonito porque a pessoa já chega com um pacote ou uma lista na mão para visitar os centros históricos e os lugares mais aprazíveis da natureza.

Turista não pega ônibus lotado, trânsito engarrafado no horário do rush e nem chega perto das periferias para ver barracos pendurados nos morros, ruas sujas de lixo e esburacadas. Em Salvador, por exemplo, com tantas festanças e exotismos, o visitante de fora fica deslumbrado e tome “energia positiva”.

É claro que o vendedor ambulante, o guia e até o morador têm que ser receptivos porque estão de olho na grana do gringo ou do visitante de outro estado, daí essa coisa de energia positiva, sem falar que o turista está ali curtindo o seu luxo.

De pau para cassete, quando a questão é violência brutal, bárbara e fútil com mortes, seja do lado militar ou civil, o que mais se ouve dos membros familiares mais próximos da vítima, com olhos lacrimejantes de tanto chorar, são as frases “que a justiça seja feita” ou “queremos justiça”, que nunca chega ou tarda a chegar a passos de cágado.

Por sua vez, as autoridades soltam aqueles bordões de que tudo será apurado e investigado o mais rápido possível, doa a quem doer. Isso acontece muito quando um policial comete um desatino, um desvio de conduta e abuso de autoridade. Muitas vezes incriminam um inocente para ficarem livre do caso.

– Uma delícia de sabor, um manjar dos deuses. Esses termos com gestos nos olhos e nos lábios de saboridade e deleite são de repórteres quando provam uma receita alimentar feita por um chefe de cozinha. Já ouviu alguém dizer que o bolo, o pudim ou um prato qualquer estão sem sal, gosto diferente e o tempero está forte? O paladar sempre está na ponta da língua.

E entrevista com jogador de futebol? Ele sempre passa o dedo no rosto, a mão no pescoço ou na cabeça e fala um monte de besteiras repetitivas desconexas. Quando ganha o jogo ou faz o gol, foi Deus quem fez ou foi a mão de Deus. Só falta dizer que foi o pé Dele. Até parece que Deus é torcedor do tipo “folha seca” que está sempre mudando de lado.

Por falar em futebol, também existem aquelas perguntas idiotas por parte de “profissionais” da mídia esportiva. Certa vez um coleguinha perguntou para o técnico como ele está vendo o jogo. Como estava perdendo e irritado, de pronto o cara respondeu: Estou vendo daqui do outro lado das quatro linhas. “E aí Baiaco, sem você, como o Bahia vai ficar? Comigo ou sem migo, meu time vai ganhar.

Existem outros bordões que não falham nunca em reportagens que mostram a natureza do lugar, tais como: É uma paisagem deslumbrante, de tirar o fôlego. Têm ainda aquelas entrevistas onde o repórter diz tudo que o entrevistado ia falar. Não faz uma pergunta.

São tantos outros bordões que as pessoas falam maquinalmente, inclusive nas festas de final de ano, que não vou ficar aqui enchendo o saco de vocês, sem falar em perguntas cretinas, como indagar para um presidiário lascado numa cadeia suja fedorenta se ele vai bem.  “Como está, tudo bem? Dá vontade de mandar para aquele lugar que ninguém que ir.

 





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