:: 3/jan/2025 . 23:42
CASSIUS, BRUTUS E DECIMUS
Intrigas palacianas, ciúmes, inveja ou em defesa da liberdade e da República contra Julius César, um ditador tirano que almejava ser rei quando retornasse da Guerra Parta? O assassinato mais famoso da história de Roma de um conquistador que cruzou o Rio Rubicão na Gália Italiana, em 49 a.C., contra as ordens do Senado, é cheio de interrogações pelas antigas fontes que narraram o acontecimento.
Cassius, Brutos e Decimus, que serviram a César e por anos lutaram ao seu lado, foram os principais conspiradores que apunhalaram o poderoso em de março de 44 a.C., conforme descreve o historiador Barry Strauss em sua obra “A Morte de César”. Segundo ele, uma das fontes mais confiáveis é o do escritor Nicolaus de Damasco.
Outra versão diz que a clemência e o privilégio dado por César os seus inimigos durante a Guerra Civil, entre 49 a 45 a.C. foram outros motivos que levaram seus algozes a cometerem o terrível assassinato.
Sobre Gaius Cassius Longinus, Barry destaca que em janeiro de 45 a.C. ele aceitou a César como “um velho mestre, relaxado e tolerante”. Pouco mais de um ano depois, em fevereiro de 44 a.C., Cassius decidiu-se por matá-lo. “É improvável que a conspiração pudesse ter acontecido antes de fevereiro. Um dos motivos para isso seria a falta de incentivo: César não depusera os tribunos do povo nem rejeitara a coroa até fevereiro”.
Cassius se orgulhava de ter tido vários cônsules em sua família, inclusive seu pai, um homem que fora derrotado em combate pelo gladiador rebelde Espártaco. Em 53 a.C., ele viveu seu grande momento no Oriente Romano.
Serviu como governador-tenente e comandante substituto para Marcus Licinius Grassus, o governador da Síria. Tal como a maioria dos governantes romanos, ele era um homem ganancioso. Cassius extorquia os provincianos. Ele chegou a invadir a Judéia e dizem que escravizou cerca de trinta mil judeus.
Quando adveio a Guerra Civil, ele apoiou Pompeu. Em 48 a.C., Cassius recebeu o comando de uma frota naval que ele empregou contra as forças de César, na Sicília e no sul da Itália. Sua deserção foi uma grave ofensa e um insulto para os filhos de Pompeu. Mesmo assim, ele pôde dizer que continuava a servir à República ao promover a paz. César deu-lhe boas vindas e fez dele um de seus generais.
Quanto a Marcus Junius Brutus, o autor da obra afirma que ele foi essencial para a conspiração contra Julius César. “Não fosse Brutos, não haveria assassinato. Os conspiradores insistiam em sua presença. Diziam que seria preciso um rei para matar a um rei. Pelo menos, Brutus era praticamente um príncipe republicano”.
Supostamente, ele provinha de uma das mais antigas famílias da República: aquela que destronara reis. Ele contava com um registro público de mais de uma década de defesa da liberdade e oposição à ditadura. Em 54 a.C., por exemplo, ele se pronunciou contra uma proposta de concessão de uma ditadura a Pompeu.
Dois anos mais tarde, ele argumentaria que um homem que cometesse um assassinato pelo bem da República deveria ser considerado inocente. De acordo com Nicolau de Damasco, ele foi respeitado durante toda sua vida pela clareza de sua mente, pela fama de seus ancestrais e por seu caráter supostamente razoável.
Na versão do grego Plutarco, Brutos e Cassius recrutaram Decimus Junius Brutus Albinus. Para Strauss, o historiador da obra, pode ter sido o contrário. “Uma coisa é certa, Decimus desempenhou um papel central. Se Brutus foi o coração da conspiração e Cassius foi o cabeça, Decimus foi seus olhos e ouvidos”.
Decimus era um amigo íntimo e confidencial de César. “ O autor antigo que enfatiza o papel de Decimus na conspiração contra César é Nicolaus de Damasco, ao qual Shakespeare jamais leu. Ele tampouco leu Cassius Dio ou as cartas de Cícero, outras fontes que atribuem importância a Decimus”.
Segundo Barry, foi Decimus quem César escolheu para acompanhá-lo ao jantar na noite de 14 de março. “Decimus era a melhor fonte de informação quanto aos pensamentos e planos do ditador e a melhor esperança de mover César para qualquer direção que fosse necessária. Ele é amplamente reconhecido pelas fontes antigas como um dos principais agentes da conspiração”.
Aos trinta anos de idade, ele tinha um registro brilhante. Era um nobre de pedigree impecável e um dos confidentes de César. Foi um grande comandante na Gália, tanto na Guerra Gaulesa como na Civil. Ele chegou a governar a província para César, entre 48.a.C e 45. Tudo indica que ele também tenha sido pretor em Roma.
DE VERSOS E DE SONHOS
(Chico Ribeiro Neto)
Meu sonho tá escrito
num pergaminho
ou no guardanapo manchado de vinho.
Meu sonho mora num ninho.
Tá escrito nos olhos dos netos,
nas borboletas, nas grutas
e no mais escondido cantinho.
Meu sonho é desafio,
tá no mar ou no rio?
Debaixo da lama ou da cama?
Meu sonho pega um bonde nas Mercês
desce o Elevador Lacerda
e pega um avião pra Xangai.
Está no pião rodando na mão,
na Assunção e na floresta dentro da noite.
Meu sonho é perdido e achado,
por isso eu o guardo.
Meu verso é a matinê da alma
que me acalma.
Passeia no alambrado do estádio de futebol,
entre o dó e o si bemol.
Tá entre o errado e o certo,
entre a corda e a caçamba,
entre o visto e o coberto.
Meu verso é caminho.
Está no movimento do barco ancorado,
no grito do afogado
e na alegria do primeiro mergulho.
Meu verso gosta
do caderno espiral,
da escrita matinal
e da letra bem feita,
igual a roupa nova.
Está no buzo encostado no ouvido,
no grito do porco ao receber a primeira facada,
naquela flor que ninguém sabe o nome
e no choro da criança com fome.
Meu verso mora na lágrima do palhaço,
na cachaça do peão
e no bêbado que canta “Dolores Sierra”.
Meu verso brinca de se esconder
debaixo da saia da morena.
(Um 2025 de paz a todos os meus leitores)
MUNDÃO DO PROGRESSO
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Êta mundão do progresso!
Que deixou meu verso,
Quebrado na beira da estrada,
Só se ouve o ronco do motor,
Valei-nos, oh Deus, Nosso Senhor!
Não passam mais as boiadas,
Nem os tropeiros estradeiros,
Com suas missangas e bruacas,
Abrindo cancelas e estacas,
Subindo e descendo ladeiras,
Nos mata-burros das poeiras.
Êta mundão do progresso!
Está tudo virado pelo avesso,
Entra tecnologia, sai a razão,
Mas ainda sobrou uma nesga,
De crença, amor e religião,
Nesse meu vasto sertão,
E eu aqui só de bobeira,
Vendo gente dando rasteira.
Êta mundão do progresso!
Não se vê mais rezadeira,
Coisa difícil é mulher rendeira,
Estão acabando com nossa tradição,
Mataram até nosso São João,
Está indo nossa cultura do ler,
Trocada pelo celular na mão,
Só se tem tempo para o vil ter,
E esqueceram do nosso ser.
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