:: 14/jan/2025 . 23:59
A PARANOIA DA PRESSA
Todo mundo hoje anda com pressa. Nesta semana estava comprando frutas numa quitanda ou minimercado e entrou uma mulher gritando para um funcionário de que estava com pressa. Só havia um atendente no caixa e dois clientes, incluindo eu, com pouca coisa para registrar.
A colega falou com o outro empregado que estava lá nos fundos, para largar tudo que estava fazendo e vir atender a senhora porque ela estava com pressa. Logo pensei comigo que estamos vivendo numa paranoia da pressa, mesmo com todo avanço tecnológico que veio, segundo os especialistas no assunto, para facilitar a vida das pessoas.
Essa pressa não é contraditória, tendo em vista que com a tecnologia você resolve as coisas com mais rapidez? Nesse caso, não deveria sobrar mais tempo? Só entendo que essa dita correria de que tanto falam e serve de desculpa para não se dar a devida atenção ao outro já é algo automático, maquinal e inconsciente que o ser humano botou na cabeça. Não seria o mal do século?
Outro motivo para essa paranoia da pressa só pode estar no aumento pernicioso da competição do mercado e na ganância para se ganhar mais dinheiro, visando manter cada vez mais alto seu padrão de consumo. O indivíduo fura uma fila e ainda tem a cara de pau de justificar que está com pressa.
– Porra, bicho, estou com uma pressa danada. Depois a gente se fala melhor. E lá vai o cara ou a cara que some na multidão e chega em casa estafado (a) com um nó ou grilo na cabeça. A mania agora é ouvir um áudio de celular no modo acelerado do ponto dois. Não se tem mais paciência.
Outra ilusão ou paranoia é dizer que o tempo passa mais rápido. Ouvi isso hoje da minha dentista e fiquei calado para não gastar meu tempo explicando que o tempo é o mesmo, que uma hora continua com 60 minutos, uma semana sete dias e o ano 365, que nós é que mudamos de comportamento de humano para desumano.
A paranoia da pressa deixou também as pessoas mais grosseiras, violentas e mal-educadas. Após tirar seus produtos do carrinho no estabelecimento e colocar no balcão, a senhora que estava em minha frente no caixa empurrou o carregador em minha direção que por pouco não bateu em mim. Ela também deveria estar com a paranoia da pressa.
Há cerca de pouco mais de 25 anos quando só havia telefone fixo, orelhões nas ruas à base de fichas ou cartões, com filas de espera, nada de internet, notebooks, tabletes e celulares móveis, as pessoas tinham mais paciência – até batiam um papo na rua quando encontravam com um amigo ou amiga – e pouco se queixavam da pressa.
Lembro que até o final dos anos 90 fazer jornalismo requeria um tremendo esforço desde ir até a fonte ou onde estava o fato até a elaboração da matéria numa velha máquina de datilografia ou telex.
A foto era analógica num rolo de 36 poses revelados numa câmara escura. Tudo era mais demorado, as redações eram barulhentas e, mesmo assim, não se tinha essa paranoia da pressa. A cuca era mais fresca. Entre uma coisa e outra se proseava e ainda sobrava tempo para gozações, fazer piadas e “guerrear” com pequenos rolos de papel.
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