Dizem que todo nascer, natural ou artificial, ou vir à luz, como se fala no popular, é uma dádiva divina do supremo arquiteto do universo, não importa se é reencarnação ou qual seja a religião. Falam ser um privilégio. No entanto, esse viver é perigoso e, acima de tudo, uma arte superior, principalmente nos tempos atuais de uma humanidade conturbada, desumana e decadente.

Tem aquela história de que tal pessoa, fulano ou fulana, escolheu viver em perigo quando se entra no mundo da bandidagem, da contravenção, da marginalidade, do tráfico de drogas, do assalto, do roubo, dos confrontos com a polícia, mas o viver fora desse mundo também é perigoso. Temos no planeta terra cerca de oito bilhões de viveres humanos perigosos.

Até o viver em paz é perigoso e conflituoso. Não é apenas a guerra que nos deixa em agonia e aflição. O amor também é perigoso, não apenas o chamado bandido. O sorriso, o olhar, o aperto de mão também podem ser perigosos. A natureza é perigosa quando se invade seu espaço.

Não estou me referindo aqui apenas ao animal ser humano, mas sobre todas as outras coisas, incluindo a nossa fauna e a nossa flora, que vivem ameaçadas pelos desmatamentos e queimadas, sem contar o aquecimento global, consequência da própria ação destruidora humana. O viver dos bichos é também perigoso.

A vida pode até ser bela e maravilhosa, cheia de altos e baixos, angústias e prazeres, emoções e sentimentos, risos e lágrimas, amores e dissabores, encontros e desencontros, mas, antes de mais nada, o esse viver em si é perigoso, especialmente nos grandes centros urbanos porque no rural ainda oferece uma sensação de calmaria, mesmo com suas típicas dificuldades e sofrimentos.

Viver sempre foi perigoso desde o homem da caverna, do neandertal ao sapiens do sapiens. Desde a fase do crescer, a criança tem que começar a aprender a arte da sobrevivência. Talvez seja a arte das artes, a primeira e a mais difícil para se obter as outras.

Viver é perigoso e conflituoso, e cada dia você tem que ser um vencedor das frustrações, das ansiedades, dos estresses, das decepções, dos erros, dos problemas, das coisas não realizadas, dos fracassos e encarar tudo isso se quiser extrair alguma vitória, uma aqui e outra acolá, com perdas e ganhos.

O convívio um com o outro já um modo do viver perigoso conflituoso, mas ainda é a lida na rua, nas cidades grandes, nas empresas, nos escritórios, nas indústrias, nas escolas e no seu trabalho diário o mais ardiloso. Você tem que estar sempre vigilante para os golpes virtuais e presenciais e ficar atento ao transitar nesse mundaréu de carros e de multidões.

Viver é perigoso, quer queira quer não, consciente ou inconsciente, e cada um tem que aprender a driblar do seu jeito, ou dar o passe certo e receber a bola lá na frente. “Os pernas de paus” da vida não conseguem ir muito longe e podem perecer antes do tempo.

Viver é perigoso, dividido em etapas pelo tempo, o nosso rei eterno, até a velhice rumo a um fim natural que é a morte. Todos preferem que ela seja súbita e inesperada, como dizem os próprios filósofos, mas este querer nos é negado. Só os felizardos conseguem.

Diante de toda essa confusão, sempre fica aquela indagação sem explicação convincente: Qual o sentido da vida? Vale a pena o existir? Será que a resposta seja o viver perigoso e conflituoso porque é esse próprio viver perigoso o alimento vital para a alma?