NO BICO DO PAPAGAIO
Autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário
No Bico do Papagaio,
Onde bate a chuva,
O trovão e o raio,
A luta faz sua hora,
E o tempo lento chora,
Ai, ai, ai, ai, ai
Da selva brota a guerrilha,
Lá na região do Araguaia,
Goiás, Maranhão e Pará,
Cada guerreiro em sua trilha,
Da terra, companheiro,
Com sua mente libertária,
Contra a ditadura assassina,
De botas tiranas brutais,
Em plena América Latina,
Dominada pelos generais.
Os sessenta e nove idealistas,
Marcharam com seus bornais,
Na crença de uma vitória:
Mudar a nossa história,
Como nas cartas aos familiares:
Saudades, amores e dores,
Dos mortos desaparecidos,
Que ficaram sem seus rituais.
Eram mais de dez mil,
Helicóptero, metralhadora e fuzil,
Cabeças foram decepadas,
Corpos esquartejados,
Jogados no mar e nos rios,
Insepultos sem lutos,
Para apagar nossa memória,
Meu querido, minha querida!
Do pó continua aberta
Nossa sofrida ferida,
No Bico do Papagaio.