Carlos González – jornalista

Devido à grandiosidade que adquiriu nesses 53 anos, a Copinha se transformou numa feira internacional de negócios, onde o único produto é o Homem, em seus primeiros 20 anos de vida. Esse mercado humano, que funciona sem a fiscalização de nossas autoridades, é oficialmente batizado de Copa São Paulo de Futebol Júnior, popularmente conhecida como Copinha.

Analisada pelo lado esportivo o torneio tem enormes virtudes, sendo a principal delas de trazer aos dias hoje o futuro do futebol brasileiro. Os méritos são da Prefeitura de S. Paulo, com o apoio da Federação Paulista de Futebol (FPF). Em sua 51ª edição, a tradicional competição nacional – deixou de ser disputada em 1987, por desinteresse do então prefeito Jânio Quadros, e, no ano passado, por causa da pandemia – reúne cerca de 3.000 atletas de 128 clubes, representantes dos 27 estados e de Brasília, com jogos em 30 cidades paulistas e final programada para próximo dia 25.

Empresários do mundo do futebol; “olheiros” e “espiões” enviados pelos grandes clubes da Europa, Oriente Médio, China e Japão; organizações comerciais, de entretenimento, educacionais e até a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), estão percorrendo nesses dias o interior paulista, com a finalidade de vender sua mercadoria, ou adquirir jovens talentos, a baixo custo, devido a desvalorização do real.

Aqui na Bahia, em Irecê, foi criado em outubro de 2018 o Canaã F.C., resultado da parceria entre a Igreja Universal e um projeto social da região. Sob o lema “Atletas com Cristo”, obedientes aos pastores e proibidos de dar palavrões, seus jogadores, os primeiros no grupo 31, acreditam que dessa vez “um de nós vai deixar o sertão baiano”.

Além do Canaã, figuram na relação dos participantes da Copinha times desconhecidos do torcedor, como o Perilma (mantido por uma fábrica de bolachas e rapadura de Campina Grande, na Paraíba); Ibrachina (os donos são japoneses). Todos eles apostam chegar ao mesmo nível do Red Bull Bragantino, representante do Brasil na próxima Taça Libertadores, graças ao apoio de uma forte multinacional.

A sanção em 2021 da lei que regulamenta o clube-empresa tem atraído o interesse de empresários nacionais e internacionais em clubes brasileiros, que estão passado por um grande aperto financeiro. Além do Cruzeiro, Cuiabá e Bragantino, estão em processo de negociações, Botafogo (RJ), Atlético (PR), Coritiba, América (MG) e Chapecoense.

Esperança e frustração

O River recebeu na véspera a notícia de que o governo do Piauí desistira de pagar a viagem ao interior de São Paulo. Os dirigentes do clube saíram atrás dos R$ 17 mil pedidos por uma empresa de ônibus. Resolvido o problema, a delegação deixou Teresina na noite de 29 dezembro, chegando a São José dos Campos na madrugada de 2 de janeiro, poucas horas antes da estreia, onde seus atletas foram alvos de cãibras, por força do longo tempo sem atividade física.

Neste momento, o Ríver, desclassificado na fase de grupos, está voltando ao Piauí, numa viagem muito mais espinhosa do que a ida, devido a substituição, na bagagem, da esperança na vitória pela frustração da derrota. O mesmo sentimento deve acompanhar atletas (de Abraão Lincoln a John Kennedy) das 64 equipes que não passaram da 1ª fase. Uma exceção talvez seja o goleiro Tomate, do Assuá (RN), convidado a fazer testes no Atlético Mineiro, após chorar desapontado diante das câmeras de TV

A opção

O desemprego, a fome, a falta de moral entre os homens públicos, o fanatismo religioso e a violência que crescem nas favelas e na periferia das cidades, são fatores que levam o jovem, que está chegando à idade adulta, a mirar o horizonte, pensando no amanhã. O quê o Brasil coloca a sua escolha: correr atrás de uma bola, fazer carreira no tráfico de drogas ou colocar uma Bíblia debaixo do braço e virar pastor.

A fortuna e a vida de prazeres exibidas por poucos brasileiros antes de chegar aos 32 anos servem de exemplo para milhões de jovens. A Copinha ou a “Copa dos Empresários”, como também é chamada, funciona como um vestibular.

Nordestinos

Em 1972, o Bahia se tornava um dos primeiros clubes do País convidado para disputar a Copinha, criada em 1969, com a presença única de representantes paulistas. A melhor campanha do clube baiano ocorreu em 2011, com a conquista do vice-campeonato. O torneio tem como maior vencedor o Corinthians, com 10 títulos, seguido do Fluminense e Internacional, com cinco. A participação de clubes estrangeiros se deu entre 1993 e 1997.

Na edição deste ano foram inscritos 27 clubes do Nordeste, com passagem de 12 para a segunda etapa, incluindo Bahia, Canaã e Jacuipense; Vitória e Camaçariense já estão na estrada. Chamam atenção por sua originalidade, além do Canaã, o Chapadinha (MA), Falcon (SE) e Perilima (PB)