Poema inédito de autoria do jornalista Jeremias Macário

Na minha isolada cabana banana,

Tem a serra, o frio e o calor tropical;

Tem alguma lavoura que ainda restou,

Na lagoa barrenta até uns pés de cana,

Não mais os conflitos cangaços da guerra;

Tem a mulher pegando água na cacimba;

Tem os galhos secos engaços da catinga;

O orvalho poético da manhã como cantiga;

Tem violeiro cantando a canção de amor.

 

Na minha lesa República cabana banana,

Tem minhas lágrimas de ver tanta pobreza,

De ver se espalhar pelo Brasil tanta riqueza,

Nas mãos de um latifúndio cruel capitalista,

De coronéis do poder que fazem do povo,

Um poço social desigual desumano vazio,

Onde o desempregado não passa de vadio,

Alienista político em pleno primeiro de abril,

Numa pátria amada cristã fundamentalista.

 

Na minha cabana choupana consumista,

Recebo da República uma magra banana,

Esperando meu amor que nunca chegou,

Como gladiador sem ver o tempo passar,

Assuntando o vento assoviar pra lá e pra cá,

Nas saudades de estradeiro amante do mar,

Que me ensinou ser um romântico beija-flor,

Mesmo neste Coliseu de passado de breu,

Onde o pobre e o negro tentam curar a dor.

 

Na minha República cabana banana,

Tem a lança da poesia na minha capanga;

Tem o lamento do sertão e a fera da savana;

Como um fantasma do mundo vai meu grito

Entre o nascer, o poente e a fonte do saber.