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:: 12/mar/2020 . 22:25

NOS TEMPOS DE MOLEQUE

Escrafunchando em meu baú de fotos (muitas foram perdidas), me deparei com a imagem da Praça Getúlio Vargas, da minha querida Piritiba, na Bahia, Piemonte da Chapada Diamantina, lá pelas bandas de Miguel Calmon e Morro do Chapéu. Bateu em meu peito a  saudade dos tempos de moleque, quando nessa área, ainda em terra batida, jogava futebol com outros meninos da cidade. Era uma zoeira só quando a bola caia no único bar da praça, e o dono esbravejava que ia furar nossa redonda. Foi nesse lugar onde aprendi os primeiros dribles e a dominar a danada que tanto engana muitos jogadores pernas de pau nos tempos atuais. Tudo era escondido do meu pai que detestava quem jogava futebol. Passávamos um bom tempo naquela peleja de defender e levar a bola até o gol adversário, marcado com algumas pedras e chinelos. Foto divulgação, da Prefeitura Municipal. Pronto: matei a saudade dos tempos de menino que não voltam mais, mas ficou dentro de mim a poesia da infância.

SERRA DO PERIPERI

Poema de autoria do jornalista Jeremias Macário onde retrata a depredação praticada pelos homens contra a Serra do Periperi, em Vitória da Conquista, a qual já foi uma floresta, quando, em torno dela, habitavam os índios nativos. Um louvor ao Cristo, às nações índias e às suas belezas naturais muito tempo antes da exploração predatória.

Deus salve os Mongoiós,

filhos das flechas Camacans,

guerreiros da nação Pataxós,

irmãos dos ferozes Imborés,

com seus disfarces em caracóis,

que levantam no cedo das manhãs,

para ouvir o conselho dos pajés!

 

El Rei mandou soldados bravos,

Guimarães e o capitão Gonçalves,

que na busca do ouro das matas,

fizeram dos índios seus escravos,

num massacre chamado Batalha,

onde correu sangue nas cascatas,

deixando a tribo toda humilhada.

 

Rasgaram trilhas os bandeirantes,

no pulo da onça braba Jaguatirica,

entre o Pau d’arco e a Sucupira,

onde fecunda uma Serra rica,

de fauna e flora que inspira,

a descrição do Príncipe ao sentir,

verdejante floresta do Periperi,

com tantos salves aos habitantes!

 

Desse vasto manto bento protetor,

de cores do Cardeal e de Bem-te-vi,

espiando a abelha fazer sua festa,

entre Angicos e o vôo do Jabuti,

só ficou o Poço Escuro como flor,

de bromélia e outra que ainda resta,

e um olho d´água que virou fiapo,

numa Serra toda rasgada em trapo.

 

O branco com seu pó envenenou,

os irmãos da lua, da terra e do sol;

secou o coração do nativo de dor,

na Pedra do Conselho dos Senhores,

onde cantava o Sabiá e o Rouxinol,

desde Jibóia ao Arraial da Conquista,

cidade que foi chamada das flores,

e inspiração para o Cristo do artista.

 

Máquinas lambem todo o chão;

cortam a Serra norte-sul do sertão,

e todas as raças brancas crioulas,

se esparramam como folhas,

no explorado chão de miséria,

que se vale de cascalhos e areias,

extraindo da flora toda a matéria,

até as últimas raízes de suas veias.

 

Brotam torres com suas propostas,

entre a fumaça de fazer asfalto;

e nos zincos das suas encostas,

o pobre do lixo cata comida e aço,

num pôr-do-sol ainda rajado,

no Cristo de Cravo crucificado,

perdoando os homens de cobalto,

que tiraram da Serra seu espinhaço.

 

O filho da Serra lá nas alturas,

esculpiu solitário suas esculturas;

foi o poeta do metal e da  imagem;

sonhou e morreu sem homenagem,

dos mortais idólatras dos materiais,

que só pensam nos prazeres carnais,

ainda fazendo ao Periperi todo mal,

mesmo com o tal Parque Municipal.

 

 

 





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