maio 2025
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031

:: maio/2025

A MOÇA DA LOJA DE DISCOS

(Chico Ribeiro Neto)

Atendimento em Salvador é uma barra, seja em restaurante, bar, armarinho, shopping, barraca de praia, pizzaria ou açougue. “O pessoal pensa que tá fazendo favor em atender a gente” – comungo dessa opinião juntamente com milhares de pessoas que moram em Salvador, sejam baianos ou não.

Se é no supermercado, você já está cansado na fila e, quando chega a sua hora, a mulher do caixa para pra bater papo com a colega vizinha e você fica ainda mais aporrinhado porque vai ter que, você mesmo, empacotar suas compras nuns saquinhos que cada vez rasgam mais facilmente.

Se é no banco, dos 12 caixas existentes, somente quatro estão funcionando. Se é numa repartição onde você procura resolver um problema, tem quatro mulheres conversando e uma diz: “Aguarde aí por favor, viu, meu senhor, que o encarregado já vem”.

Saber vender é uma arte. Quantas vezes, quando você é bem atendido, entra numa loja pra comprar um sapato e acaba levando uma calça também, graças à boa vontade e ao interesse de servir do vendedor? Quem já conheceu outras capitais sabe que Salvador é um dos piores lugares do Brasil em matéria de atendimento.

Você chega numa lanchonete e pede um sanduíche de queijo. O sujeito diz que não tem queijo, você pede de presunto e ele diz que só sai pão com ovo. Aí você se conforma com o pão com ovo mesmo e pede um suco de laranja, que não tem. Abacaxi também não, nem mamão com leite. “Só sai de melão”, diz o vendedor cujo guarda-pó não tem mais um botão.

Foi por tudo isso que fiquei surpreso ao ver uma vendedora numa loja de discos do Shopping Iguatemi. Ela dançava o tempo todo enquanto atendia às pessoas. E cantava também. Demorei alguns minutos na loja mexendo nuns discos enquanto observava aquela morena magra cujo salário não deve ser lá grande coisa, mas o prazer no trabalho morava naquela moça. Era realmente encantador vê-la ali, colocando discos ou separando fitas, sem parar de dançar e também cantando, pois a feliz rotina já lhe ensinou todas as letras das músicas.

Ela me lembrou a história que um amigo do meu pai contava antigamente. Na Cidade Baixa, no Comércio, havia sempre muita gente pra lanchar por volta das 10 horas. Numa pequena lanchonete, quatro empregados trabalhavam espremidos, mas atendiam a todos com uma presteza incrível. Sobre o balcão ficava uma caixa de sapatos para quem quisesse colocar gorjeta. Os empregados estavam no liquidificador, cortando queijo ou pegando uma coxinha, mas sempre de olho na caixa; quando um deles via alguém depositando uma gorjeta gritava em cima: “Caixinha pingou”, e os outros três respondiam na ponta da língua: “Obrigado sinhô”. Tempos de um bom atendimento.

(Crônica publicada no jornal A Tarde em 29/7/1992)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A

CENAS DAS SECAS

Em minha carreira de cobertura jornalística, muitos fatos me marcaram, mas as cenas das secas por esse sertão sofrido do homem do campo foram as que mais me sensibilizaram. Vez ou outra costumo dar uma espiada em meu computador e lá estão as matérias e as fotografias que me fazem reavivar as lembranças dos tempos em que comia poeira por esse agreste ao lado do meu companheiro repórter fotográfico José Silva. Recordo dessa foto registrada pelas minhas lentes por aquelas bandas da região de Jânio Quadros em plena sequidão de um sol inclemente que castigava as plantações e deixava os tanques e barreiros sem água para o consumo humano e dos animais que lambiam o tacho de lama. Era triste e, ao mesmo tempo, agradável conversar com o sertanejo simples e forte que nunca perdia a fé e as esperanças. A nossa missão era retratar a realidade e mostrar aos governantes a situação de penúria do lavrador que passava um tempo plantando e colhendo e outro a olhar para os céus e rogar a Deus pelo socorro. Lembro muito tempo dos carros-pipas cortando as estradas poeirentas (ainda perduram) que eram e ainda são utilizados como política eleitoreira. Quase nada mudou depois de mais de 20 anos para cá. Apertava nas tintas para dar voz ao clamor do sertanejo quando batiam as estiagens que deixavam feridas abertas no chão.

A TARDE FRIA

Poema de Fernanda Quadros, extraído do livro “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, coletânea organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.

Tardes arrastadas de ausência

Horas que teimam em não passar

Apertando a saudade

No peito frio.

 

Respiro

Olho a janela

O movimento do tempo.

 

Correndo a desbotar as cores

A espera da noite

Escura,

Trazendo você.

 

FASCISTA SÓBRIO E COMUNISTA BÊBADO

Início dos anos 60 do século passado, época da efervescência cultural onde se lia a perder de vista e se discutia de tudo numa pensão pobre, tipo cortiço, situada num velho casarão de Salvador nas imediações do Pelourinho deteriorado, cheio de putas, ratos e malandros. Naquele antro de perdição, estudantes, desempregados, ambulantes e até cafetões se misturavam na mesma igualdade social e racial.

As figuras mais bizarras e folclóricas pareciam sair dos livros de George Orwell, Jorge Amado, Aluísio Azevedo e dos filmes do Cinema Novo de Roberto Pires, Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany, Rodolfo Nanni e Glauber Rocha, nosso baiano conquistense. Dia sim e dia não surgiam brigas de “arranca rabo” e a dona, uma ex-cafetina de bordel, colocava moral na bagunça, quer dizer, mais ou menos.

As noites eram um fuzuê danado no bar do “Zeca Molhado”, e o que mais saia era o chamado cravinho, a cachaça misturada porque a cerveja ficava mais cara e demorava de embebedar. Era um puteiro só e as mulheres entravam na roda das conversas que mais rolavam sobre os movimentos das reformas de base do Governo João Goulart com os sindicatos.

O Brasil estava fervendo literalmente com as greves camponesas de Francisco Julião, as manifestações dos trabalhadores nas portas das fábricas, as revoltas dos marinheiros, os rompantes políticos de Miguel Arraes, em Pernambuco, e Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul.

Quem destoava e desafinava do ritmo musical revolucionário era o oportunista de direita Carlos Lacerda, lá na Guanabara. Sem o celular na mão e essas coisas novas das tecnologias das redes socais, o que mais se fazia naqueles tempos era ler, estudar, questionar, protestar e pesquisar. O país estava pegando fogo, como no pensionato dos malucos, a maioria de duros ou lisos de grana, que vivia de bicos e malandragens.

Na turma dos mulambados, sem eira nem beira, que participava das passeatas do Terreiro, da Rua Chile, avenidas Sete de Setembro e Carlos Gomes, sem falar no Campo Grande, existia um sujeito franzino nordestino de altura mediana e cabeça grande que chamava a atenção pelo seu comportamento estranho, um tanto incoerente e paradoxal. Seu apelido era “Quinta Coluna”.

Outra personalidade exótica era um grandalhão negro musculoso que passava quase todo dia na cama, ora na fossa existencial de Sartre, ora vomitando suas teorias mirabolantes de conspirações de jogar bombas em Brasília. Poderia ser classificado como um terrorista se morasse nos Estados Unidos.

Ele tinha uma amante por nome “Navalha” de coxas grossas e rabo exuberante que sempre passava por lá e fazia aquele alvoroço na rapaziada que não podia ver uma mulher, de tanto tempo que ficava seco sem pegar uma para trocar o óleo. Alguns se viravam como podiam, na base da cultura do jeitinho brasileiro.

“Quinta Coluna” era nossa maior diversão e até “tombamos” o sujeito como patrimônio cultural baiano material e imaterial.  Quando estava sóbrio era um fascista patriota, de raízes nacionalistas, que falava de Mussolini, dos integralistas de Plínio Salgado e admirava os discursos dilacerantes do Lacerda. Era como o gay de armário que quando começa a tomar umas, mostra o seu outro lado frescalhado e a rebolar os quadris.

Às vezes, as discussões terminavam em porrada e tinha um radical de esquerda que arrastava o “Quinta Coluna” até a porta da pensão e o empurrava na rua das prostitutas. Depois de um tempo ele voltava mais manso, calado e se encostava lá num canto.

O pessoal, no entanto, preservava o cabra porque, afinal de contas, era um folclore ideológico, tipo vira folha, uma metamorfose ambulante ao pé da letra. Era só encher a cara de bebida e depois de umas biritas brabas, o fascista virava a casaca, fechava seu punho de valente e começava a fazer discursos comunistas.

Subia nas mesas e, com seu berro forte na garganta, criticava a burguesia, os capitalistas exploradores do trabalho humano; incitava as massas e pregava o marxismo da luta de classe.  Metia o pau na religião, dizendo ser o “ópio do povo”.

O socialismo era sua bandeira de saída para uma humanidade mais digna e justa. Lenin, Stalin e Mao Tsé-Tung eram seus heróis revolucionários. Não demorava muito e soltava seus bordões de “povo unido, jamais será vencido! ”, “Operários do mundo, uni-vos! ”. Às vezes, cantava e declamava a Internacional Socialista.

A impressão era que ele incorporava o espírito de um grande intelectual filósofo socialista científico do passado, como o Friedrich Engels, a polonesa-alemã marxista Rosa Luxemburgo, Antônio Gramsci ou Gyorgy Lukacs. Citava até o anarquista francês Prudhon.

O cara virava uma fera, só que depois de sóbrio ficava uma besta quadrada nazifascista. Cada um fazia uma vaquinha para pagar sua bebida e ver o “Quinta Coluna” comunista de primeira rasgar o verbo contra as elites e os capitalistas. Todo mundo fazia uma roda, gritava, animava-o e metia mais pinga quente em sua goela.

Só que “Quinta Coluna” se lascou e se ferrou quando entrou a ditadura civil-militar de 1964. Naquela época começou a aparecer agentes federais por toda parte. Eram os Comandos de Caça aos Comunistas. Numa dessas suas bebedeiras de comunista, a federal levou nosso patrimônio para o porão do Doi-Codi e deixou o “Quinta Coluna” moído de tanta tortura.

Depois de sóbrio, o moço lá estava em frente do inspetor carrasco, apoiando o regime, elogiando o patriotismo e batendo no peito que era um deles. A princípio, o capitão da ditadura não acreditou no que viu, mas depois de umas duas ou mais passagens pela cadeia, deixaram ele para lá, só que davam uns tabefes e mandavam ir embora.

Investigaram que o nordestino não participava de nenhuma organização comunista, nem de grupo subversivo. Era um inofensivo ao regime. Com esse esquema, o “Quinta Coluna” era o único cidadão brasileiro daquela época com liberdade de ser comunista e meter o pau na burguesia, pelo menos nas bebedeiras. Vez ou outra ia para o xilindró e depois soltavam.

 

O FATÍDICO DIA SEIS DE MAIO QUE CASSOU VITÓRIA DA CONQUISTA EM 64

Naquela manhã frienta de seis de maio de 1964 os conquistenses acordaram com um pressentimento diferente em seus corações. A neblina deslizava como fumaça caída da Serra do Periperi e invadia as principais ruas e periferias da cidade. Esparramava seus fios finos no horizonte entre o Parque de Exposições; na final da Avenida Getúlio Vargas, em direção à Barra do Choça; no ponto do “Gancho” da zona sul, que leva à Itambé; e abraçava o outro lado oeste, na “Boca do Sertão”, com destino a Anagé e Brumado.

A abertura deste texto está no capítulo “O Cerco dos Fuzis na Terra do Frio”, extraído do livro “Uma Conquista Cassada”, do escritor e jornalista Jeremias Macário, que relata o fato histórico, infelizmente esquecido pelos conquistenses, sobre como se deu, logo no início, o desdobramento da ditadura civil-militar- burguesa de 1964, culminando com a cassação do prefeito José Pedral Sampaio, eleito pelo povo, em 1962.

O impedimento arbitrário de Pedral, com a força das armas, na 30ª sessão extraordinária da Câmara Municipal de Vereadores, que está completando 61 anos, interrompeu o avanço econômico e social de Conquista, naquela época com 45 a 50 mil habitantes na zona urbana.  Contra a oligarquia de Gerson Salles e os poderosos da cidade, Pedral venceu Jesus Gomes e se tornou no prefeito mais jovem e popular de Vitória da Conquista.

Logo cedo a cidade foi invadida pelos coturnos da tropa de 100 homens comandados pelo capitão Bendock e cobertura do sargento José Antônio de Oliveira Salles que tomaram o centro da Praça Barão do Rio Branco e suas imediações, como Praça Tancredo Neves (Jardim das Borboletas), Sá Nunes (Clube Social) e transversais Alameda Ramiro Santos (Beco Chico Piloto), Lima Guerra (Beco da Tesoura), Ernesto Dantas (Beco Sujo), Avenida Siqueira Campos (Beco da Moranga), Rua das Sete Casas (Fórum João Mangabeira), Laudicéia Gusmão (Rua do Cobertor), Rua Dois de Julho (Rua da Vagem), Góes Calmon (Rua das Flores) e João Pessoa (Rua da Boiada).

O agente da ditadura já tinha os nomes dos ditos “comunistas e subversivos”, muitos dos quais apontados pelos opositores, com respaldo do jornal “O Sertanejo”, que perderam as eleições e queriam o revanchismo. Era chegada a hora da vingança, e o prefeito, que apoiou a campanha pela legalidade pela posse do vice-presidente João Goulart (1961), liderada por Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, era a peça fundamental.

Logo após a prisão do chefe do executivo, em frente ao Clube Social, quando pela manhã se dirigia ao seu trabalho na Prefeitura Municipal, o capitão e seus coligados apoiadores do regime ditatorial convocaram uma sessão extraordinária dos vereadores, com a finalidade única de cassar o mandato democrático de Pedral, considerado como comunista. A Câmara foi cercada pelos soldados e os parlamentares foram forçados a destituir o chefe do governo. Orlando Leite foi indicado como substituto. Simbolicamente, todo povo de Vitória da Conquista foi cassado e amordaçado.

Outros fatos ocorreram antes, no seis de maio e depois, com várias prisões de companheiros que defendiam a liberdade e um governo progressista, inclusive aconteceu o “suicídio” do vereador Péricles Gusmão, no 9º Batalhão da Polícia Militar. O professor Públio de Castro foi outro visado que mais permaneceu preso em Salvador, cerca de nove meses. Ao todo foram aproximadamente 100 detidos, vistos como inimigos do regime militar.

Todos os fatos históricos que marcaram o fatídico seis de maio estão no livro “Uma Conquista Cassada – cerco e fuzil na cidade do frio”, com detalhes sobre o antes e após o golpe de 64 em pleno período da Guerra Fria entre Estados Unidos e a União Soviética. Era o mundo capitalista contra o socialismo das revoluções russa (1917), chinesa (1949) e a cubana (1954). A obra foca a ditadura em Conquista, mas faz uma contextualização do regime opressor dos generais na Bahia, no Brasil e na América Latina.

O mais lamentável é que esse seis de maio em Vitória da Conquista caiu no esquecimento quase que total, só lembrado por alguns artistas, professores, intelectuais e os da velha geração. O assunto nem é debatido nas escolas entre os nossos jovens. O pior ainda é que a Câmara de Vereadores, que foi obrigada a se curvar e cassar o prefeito Pedral, não faz menção e não registra esse episódio opressivo sofrido pelo município.

Essa perda da nossa memória tem levado os extremistas de direita a irem para as ruas pedir uma intervenção militar, o que significa uma nova ditadura e derrubada da democracia, como ocorreu em oito de janeiro de 2023, em Brasília, com a invasão dos três poderes e até ameaças de assassinato do presidente, do seu vice e de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Como as feridas continuam abertas e os torturadores da ditadura não foram punidos, um bando de traidores da pátria pedem anistia aos golpistas.

 

 

 

 

O CORONEL QUE TENTA SE REDIMIR DO SEU PASSADO MALFEITOR

Como nos tempos antigos das fábulas do lobo mal e estórias de monstros, princesas e reis tiranas, era uma vez um coronel todo poderoso que criou um império com suas negociatas escusas e com capital estrangeiro. Se achava dono do reino, manipulador; excluía as minorias; era homofóbico e racista; nasceu com seu DNA elitista; e derrubava e elegia até governantes.

Durante muito tempo manteve-se em seu pedestal com força maior e sempre passou a imagem de temeroso com suas artimanhas. Logo no início do seu reinado apoiou a ditadura civil-militar-burguesa e perseguiu governantes e candidatos que não comungava de seus ideais direitistas. Em suas empresas, raramente admitia negros e quando contratava colocava-os em cargos inferiores de baixo nível.

Os tempos foram passando e o coronel foi sendo cada vez mais odiado, isolado e contestado por suas ações através de movimentos de cunho social, numa luta de igualdade racial e de gênero. Seu império foi enfraquecendo, sendo minado e corria a notícia que ele estava entrando em falência, cheio de dívidas. Os protestos começaram a brotar em sua porta.

Para recuperar sua reputação perdida e sua decadência, o coronel passou a pedir perdão pelos seus pecados, se redimir da sua arrogância e preconceitos e se aproximar daqueles que tanto foram menosprezados por ele. Passou do seu comportamento de malvadeza para bondade e ternura, tudo para angariar simpatia e adesões.

Depois de tanto tempo praticando discriminações com suas intenções tendenciosas de massacrar os mais fracos, com seu falso moralismo, agora ele resolveu escancarar suas portas para os negros, LGBTs e outras categorias desprezadas, dando uma de santo de pau oco.

– Me engana que eu gosto, quem te viu, quem te vê, só te compra quem não te conhece – disse um amigo meu em referência às suas mudanças. Sua dissimulação não me convence – desabafou, acrescentando que nosso povo é desmemoriado, esquece do passado e se engana com as falsas remissões.

Concordei com seu pensar e sua reflexão racional das coisas, virtudes essas escassas em nossa gente sofrida, submissa, inculta e que se contenta com pouca coisa. De uma forma dissimulada, esse coronel continua explorador, tendencioso e nunca deixou seu DNA elitista burguês.

Esse coronel astuto ainda conserva seus métodos de dominação, mas agora de forma mais sofisticada, de maneira que os excluídos de ontem se sintam acolhidos hoje, mesmo sendo utilizados como massa de manobra para sua capitalização. Com seus métodos enganosos, ele produz cenas esdrúxulas e grotescas.

Com sua esperteza, o coronel do tronco e da chibata, acha que todo mundo é besta, idiota e imbecil que engole suas trapaças. Agora trata os negros dando suas merrecas como se fosse um defensor da raça e aí comete as maiores incoerências e paradoxos.

Nunca deixou sua mania de defender apenas seus próprios interesses quando sente que seu império está sendo ameaçado. Passa por cima dos outros de qualquer forma e mantém suas táticas monopolistas. Mesmo com suas mentiras e falsidades, ele confia em seu reinado, adotando a máxima de que, quem tem fama dorme na cama. O que seria dos sabidos se não fossem os tolos?

 

 

 

UM CAMPEONATO DEFICITÁRIO

Carlos González – jornalista

Mais uma vez faltou senso prático à Federação Baiana de Futebol (FBF) ao organizar o campeonato estadual da série “B” – edição 2025, expondo seus filiados a perdas financeiras. Sem uma campanha de divulgação, culpa dividida com a imprensa esportiva, a entidade programou a primeira rodada para a tarde de um dia útil (30 de abril), em vez de utilizar o feriado do 1º de maio. O resultado não podia ser outro: arquibancadas vazias e despesas para os clubes mandantes.

Ao se transferir para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2021, Ednaldo Rodrigues deixou a presidência da FBF para o seu vice Ricardo Nonato de Lima, que está no segundo mandato, dando a entender que vai seguir a carreira do seu antecessor, ingressando numa enorme relação de cartolas vitalícios do esporte no Brasil..

Torcedor do Flamengo e do Vitória da Bahia, Naldinho, como era conhecido no futebol da várzea em Vitória da Conquista, durante 17 anos (2001 a 2018), um dos andares do antigo prédio da Secretaria de Agricultura, cedido pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães, na praça Castro Alves, em Salvador. Nesse período, o Vitória ganhou 11 títulos estaduais, o Bahia cinco e o Bahia de Feira um.

A FBF concede apenas um período de três meses (30 de abril a 27 de julho) para a disputa da série “B”. Entre os dez participantes paira um silêncio a respeito do vínculo empregatício entre empregadores (clubes) e empregados (jogadores, comissões técnica e médica). Ypiranga e Conquista, beneficiados pela lei de incentivo ao esporte de base do governo federal, estão utilizando atletas do elenco sub 20. Entre os 12 patrocinadores do Conquista observa-se a ausência da Prefeitura Municipal.

Vale ressaltar que essa ajuda governamental (captação de recursos junto a empresas e pessoas físicas com impostos a pagar à Receita Federal) nada tem a ver com o acordo fechado, inicialmente por dez anos, entre o Ypiranga e a Squadra Sports, uma “holding” nacional criada pelo empresário baiano Guilherme Bellintani, ex-presidente do Bahia, padronizada na SAF administrada pelo City. O ex-dirigente tricolor revela que tem “planos ambiciosos” para o auri-negro de Salvador.

Além de cinco campeões baianos (Ypiranga, Galícia, Leônico, Fluminense e Bahia de Feira), a série “B” conta com Teixeira de Freitas, Salvador, Grapiúna (Itabuna), Conquista e Itabuna. Os quatro primeiros colocados da fase inicial disputam as semifinais para escolha dos dois finalistas, que sobem para o grupo de elite em 2026. Os dois últimos caem no esquecimento, porque a FBF não conseguiu formar uma terceira divisão por falta de candidatos.

Com exceção dos representantes de Feira e de Conquista, os demais clubes não dispõem de estádios em suas cidades de origem. O governo do Estado não se manifestou sobre a cessão de Pituaçu como mando de campo de Ypiranga, Leônico e Salvador. Os clubes “ciganos” vão ter que viajar todas as semanas por via rodoviária, atuando inclusive em Jequié e Alagoinhas. Até momento a FBF só divulgou a programação completa das duas primeiras rodadas.

Depois de empatar com o Ypiranga na primeira rodada, o Conquista jogará amanhã, às 15 horas, contra o Fluminense, em Feira, com transmissão da TVE. Próximos jogos no Lomanto Júnior:17 ou 18 de maio – Grapiúna; 31 de maio ou 1º de junho – Salvador; 29 de junho – Leônico. Partidas fora de casa: 10 ou 11 de maio – Itabuna; 24 ou 25 de maio – Teixeira de Freitas; 7 ou 8 de junho – Bahia de Feira; 14 ou 15 de junho – Galícia. As semifinais estão marcadas para 5 ou 6 de julho e 12 ou 13 do mesmo mês, e as finais para 20 e 27 de julho.

O Regulamento não explica se as despesas de viagem, hospedagem e alimentação serão da reponsabilidade dos clubes visitantes ou da FBF. Está escrito que os participantes do campeonato vão arcar com os gastos financeiros na aquisição de sete bolas, pagamento de seis gandulas, de aluguel de ambulância, com médico e dois enfermeiros; com serviço de alto-falante; cotas e despesas com arbitragem quando a renda da bilheteria for insuficiente. Depois da divisão do dinheiro não vai sobrar nem um centavo para pagar o lanche dos policiais.

No artigo 35 há um parágrafo interessante: se um jogo for programado para o turno da manhã e a temperatura passar dos 28 graus, o árbitro determinará a complementação para o dia seguinte.

O Regulamento estabelece que os espaços livres em volta dos campos sejam destinados à colocação de placas de publicidade das empresas patrocinadoras do campeonato. Também não há definição sobre a divisão dos valores do direito de imagem, que serão pagos pela TVE e pela TV do Zé (youtube).

Com relação ao Conquista, não se observa movimentação de torcedores na cidade, cujo futebol – o esporte, de um modo geral – é uma permanente ausência, assim como a cultura, o entretenimento e o turismo. São admiradores – vira-latas, como diria o escritor e jornalista Nélson Rodrigues – do Flamengo.

 

 

O TRABALHADOR BRASILEIRO VAI MUITO BEM, OBRIGADO!

O 1º de Maio sempre foi de manifestações reivindicatórias por melhorias no trabalho, assim é celebrado em praticamente todos países do mundo, menos no Brasil dos últimos anos que é festejado com shows, doações e premiações. A impressão que passa é que o   trabalhador brasileiro vai muito bem, obrigado!

O Dia do Trabalho surgiu em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos, quando os operários industriais saíram às ruas em greve contra a exploração dos patrões, mas é comemorado em setembro. A data foi internacionalizada, em 1889, a partir do Segundo Congresso Internacional Socialista, em Paris, numa reunião com os principais partidos e sindicatos da Europa.

No Brasil foi instituído no Governo de Getúlio Vargas, em 1940, como Dia do Trabalhador e foi comemorado com a criação do salário mínimo. De lá para cá, o 1º de Maio sempre foi marcado por uma série de eventos históricos dos trabalhadores em marchas de protestos contra a exploração da mão-de-obra pelo capital, bem como em homenagem aos mártires que lutaram em favor da classe trabalhadora.

Esses movimentos foram interrompidos e cerceados durante a ditadura civil-militar de 1964, mas após a redemocratização eles voltaram com toda força em todo país, principalmente no chamado ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano) paulista.

Nos governos “lulistas”, as centrais se fortaleceram financeiramente e muitos dirigentes se aproveitaram para fazer suas farras e começaram a esquecer suas bases. Nesse período, ocorreram muitos escândalos de corrupção e desvios de recursos. Para ser realista, os sindicatos se tornaram pelegos como no primeiro Governo de Vargas, também de opressão.

Com a queda do imposto sindical e a reforma trabalhista de escravização do trabalhador, no mandato de Temer, as centrais desapareceram e os sindicatos enfraqueceram. Mesmo assim, no 1º de Maio essas entidades conseguem realizar festas e shows, ao invés de movimentos de protestos, como acontecem na França, no Chile, na Argentina, na Inglaterra, no Uruguai e tantos outros países.

No Brasil, o 1º de Maio é uma vergonha porque esses sindicatos esqueceram a origem histórica da data que foi de muitas lutas, greves e outras manifestações contra a opressão do capital sobre o trabalho. As imagens das celebrações do Brasil em relação a outras nações é um verdadeiro contraste.

Parece que aqui é tudo uma maravilha, que o trabalhador ganha muito bem, que as leis são cumpridas pelos patrões, que não existem desempregados (mais de sete milhões) e que a informalidade monstruosa não existe.

Milhares ainda trabalham sem carteira assinada e não reclamam porque não têm representação sindical forte e temem ser demitidos. O 1º de Maio no Brasil é uma alienação e todos vão para as ruas com a finalidade de curtir, receber cestas básicas ou ganhar um prêmio num sorteio qualquer.

 

AMOR, ABACATE E JORNAL

(Chico Ribeiro Neto)

Menina de uns 4 anos, braço esquerdo engessado, grita para a mãe: “Mamãe, eu te amo, você me ama?”

A mãe, dona de uma barraquinha em Stella Maris, está cortando cocos e colocando-os no gelo. A menina insiste: “Mamãe, você me ama?” E a mãe, completamente suada da tarefa, responde: “Amo, sim, mas só quando eu tenho tempo”.

XXX

O mundo era outro lá de cima do pé de abacate do quintal da casa da Rua 2 de Julho, 25, em Ipiaú, Bahia. As galinhas ficavam menores e os pintos a gente nem via. Da última galha dava pra ver, por cima do muro, um pedaço do Rio de Contas. “Ê vontade de dar um mergulho!” Dava pra ver o quintal todo de uma vez, e pra cima só tinha o céu. “Desce daí, menino!”

Dava pra ver o quintal do vizinho que todo sábado matava um porco pra vender na feira. Via também o triângulo desenhado no chão para se jogar gude. Tinha a gude “dedeira”, aquela que acertava todas.

Tem que ter um pé de abacate no céu.

XXX

NOTÍCIAS DA VIDA

(de 1985)

O convívio do jornalista com o factual torna-o mais habituado às tragédias, do mundo e dele mesmo. Lidando com o perecível – pois geralmente uma notícia de jornal dura apenas 24 horas – o jornalista costuma editar sua própria vida pautado no princípio de que tudo muda. E então, no meio do sofrimento da perda do amor de ontem é necessário preparar a edição de amanhã.

Também diante da morte este sentimento do perecível toma corpo. Tendo, diariamente, às mãos os mortos dos vietnãs, terremotos e enchentes, ele adquire uma maior aceitação da morte diante do rosto de um amigo morto. Até que sua vida se torne uma edição de ontem.

E o humor também nasce daquele perecível que é a notícia. Impossível imaginar uma Redação de jornal fria e carrancuda. Noticiar os homens e sua vida torna-nos risonhos. De dentro da Redação, este núcleo da notícia do mundo, pequeninos olhos brotam de dentro da máquina de escrever para espiar o que acontece lá fora. E o sorriso é inevitável.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

 

SEM ESSA DE “SUÍÇA BAIANA”

É até ridículo e motivo de chacota ficar chamando Vitoria da Conquista de “Suíça Baiana”, uma cidade nordestina sertaneja onde a maior parte do seu território é semiárido e está sempre sofrendo as intempéries da seca, sem falar na pobreza e os altos índices de desigualdade humana, como em todo Brasil. Pior ainda é quando essa denominação é endossada pela mídia local. Recentemente venho observando um aumento de mais pedintes e ambulantes no centro da cidade, sem falar em crianças vendendo balas e doces nos semáforos, o que significa mais pessoas desempregadas que vivem na informalidade. Em minha opinião, chamar Conquista de “Suíça Baiana” é até uma insanidade mental que serve de piada lá fora. Uma “Suíça Baiana” que não tem nem um voo direto para sua capital Salvador. Uma “Suíça Baiana” onde as unidades de saúde são precárias e sempre faltam médicos nos postos. Uma “Suíça Baiana” onde o fornecimento de água pode entrar em colapso se houver uma estiagem mais prolongada porque há quase 20 anos se promete construir uma barragem e o projeto está emperrado. É uma grande cidade, a terceira maior da Bahia com quase 400 mil habitantes, com um desenvolvimento avançado, mas está muito longe de ser uma “Suíça Baiana”, nem no quesito frio, cujas temperaturas mais baixas chegam a 5 ou 7 graus. Nem existe neve na Serra do Periperi. Me dá uma gastura por dentro quando ouço esse papo de “Suíça Baiana”. Trata-se de uma crítica construtiva e de preservação da nossa imagem.





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia