Bilionários passeiam no espaço com seus foguetes e lá de cima dizem que a terra é toda azul, quando, na verdade, ela já está cinzenta e esburacada de tanta destruição. Nela os furacões, os ciclones, as nuvens de poeiras, as tempestades de ventos, os vulcões, as enchentes, os terremotos, a fumaça das queimadas, as secas e a fome estão fazendo dela o planeta em extinção.

Cada um discute e defende sua ideologia do ódio e da intolerância quando todos deveriam se unir em torno de uma só ideologia para combater essa outra pandemia que mata milhões lentamente por ano. Para esta, a ciência nunca vai criar uma vacina que a cure. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas tem 20 milhões passando fome.

De acordo com pesquisas, mais da metade da população, ou seja, mais de 100 milhões estão em insegurança alimentar. O Brasil está no mesmo patamar nutricional de 2004. Diversas organizações e grupos isolados têm procurado atuar em campanhas de doações para auxiliar essas pessoas em vulnerabilidade.

Sabemos que essas ações são paliativas porque, conforme demonstrativo do quadro, o problema só faz aumentar. Essa pandemia não exige intubação, mas tem um kit comprovado de cura que é chamado de comida na mesa de todos, três vezes por dia. Seu protocolo de proteção é bem conhecido e não tem contraindicação. Não precisa de máscara e de álcool, e as pessoas podem se aglomerar quando estão de barriga cheia.

Na terra, que do alto se mostra azul, mas não é bem assim, quase um bilhão passa fome diariamente, principalmente nos continentes africano e sul-americano. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional apontam 17 anos de retrocesso na política de combate à fome. Lamentavelmente ela virou moeda de voto, e esse processo nunca se acaba.

No Nordeste, o índice de insegurança alimentar chega a 72%, muito acima do número nacional que é de 55%. Com tanta miséria, ainda existe o Dia Mundial da Alimentação, ocorrido no último sábado, mas quase ninguém se lembrou disse porque não existe a ideologia da fome.

Enquanto isso, nas redes sociais proliferam os xingamentos, as fake news, os textos cheios de erros de português com “conteúdos” homofóbicos, racistas e de intolerância religiosa. Cada um cria em si o seu Deus moralista, vingativo, de medo, hipócrita, mentiroso, mas nem está aí para os famintos jogados nas sarjetas das ruas. Com suas bíblias surradas pensam apenas em converter os outros. Acham que tudo é desígnio de Deus, outros de Zeus, Javé ou Jheová.