De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, no formato de peça teatral e estilo cordelista, ENTRE ENGAÇOS E BAGAÇOS será publicado nesta coluna Na Rota da Poesia todas as quintas-feiras. Fala do Nordeste e suas riquezas culturais, destacando personagens mais importantes da nossa história, como escritores, poetas, trovadores e repentistas. Aborda diversas linguagens artísticas da nossa região, inclusive a cultura popular. É uma homenagem ao Nordeste.

Peguei estrada por esse mundão nordestino,

De norte a sul, leste oeste de cenário faroeste;

Apertei a mão do matuto ao cara intelectual;

Falei com doutor, escritor, poeta e até Marechal;

Comi poeira e também asfalto ardente em fogo;

Viajei de carona, carro-de-boi e pau-de-arara;

Filmei aves sabiás, assanhaços, papagaios e arara,

Com minha mochila andarilha em meu rumo e tino,

Me chamaram de profeta e vidente dos tempos,

Porque já avisava de um tal vírus mortal corona,

Com cara feia de coroa de olho apertado da china,

O mais tinhoso cabra da peste dessa terra latina.

Que nesse chão rachado chamaram de Severina.

 

Em minhas andanças messiânicas, vulcânicas,

Cortei toda Serra da Capivara e varei o Araripe,

Dessa turca locas místicas Capadócia Nordestina,

De praias paradisíacas rodei pelas dunas de Jipee.

 

Minha primeira paragem foi lá no Maranhão,

Onde me encantei com os azulejos portugueses,

E em São Luis antigo me embriaguei várias vezes,

Nas noites etílicas de expressões bucólicas e líricas;

Entrei no maracatu, no reague e no bumba meu boi,

E até no blues dos negros melaço da cana caiena,

Rolei nas ondas de areias finas e de tantos sóis;

Ardi minha pele com uma bela sensual morena,

Nadei em lagoas lendárias de ondulados lençóis,

E depois fui conversar com o Ferreira Gullar,

Que me ensinou como laçar as palavras no ar.

E a rimar verbo, substantivo com o árido sertão.

 

Ah!, seu moço, não podia deixar de abraçar o poeta

Catulo da Paixão Cearense que é mesmo maranhense,

Gente simples com quem ouvi muitos casos caipiras,

Que eternizou o “Luar do Sertão” onde fez sua festa,

Virou hino dos apaixonados amantes do Brasil ao Japão,

Assim Catulo me ensinou a luarar e apreciar as safiras.