:: 17/out/2024 . 23:37
CASOS E CAUSOS DE TROPEIROS
Bons tempos aqueles onde os tropeiros eram os caminhoneiros de hoje. Não existiam estradas asfaltadas, só de chão, e algumas eram veredas e trilhas pelos matagais e despenhadeiros íngremes. Não haviam postos cobertos de paradas e sim pontos estratégicos de árvores e à beira de riachos, para dar uma arriada nos burros e fazer um rango.
Mesmo assim, existiam os salteadores e roubos de cargas por bandidos nos pontos mais perigosos, como ocorrem nos tempos modernos, se bem que a violência era bem menor, na grande maioria das vezes sem essas crueldades com mortes, sequestros e torturas. Os tropeiros corriam muitos riscos, sem contar as intempéries do tempo.
A comunicação entre uma cidade e outra era difícil e chegava com dias e meses de atraso. Hoje com a internet é tudo instantâneo. Além da grande variedade de gêneros alimentícios, como açúcar mascavo, aguardente, vinagre, vinho, azeite, bacalhau, peixe seco, queijo, produtos importados da Europa e até gado, os tropeiros também transportavam notícias.
Entre as regiões, esses desbravadores ainda comercializavam mulas e cavalos, como faziam os ciganos. Muitas vezes eles se cruzavam nos caminhos e era aquela confusão porque a etnia cigana sempre foi vista, desde os tempos coloniais, com desconfiança e discriminação. Tinham a mancha de ladrões e malfeitores. Entre eles quase não rolavam negócios.
Os tropeiros eram nossos repórteres jornalísticos, e as informações, muitas vezes, chegavam truncadas, deturpadas e com mentiras que iam se espalhando. Eram casos e causos de forma presencial. Atualmente são virtuais que se propagam mais rápidas que rastilhos de pólvoras. As fake news de hoje são mais perigosas, intencionais e ofensivas.
Por falar em casos e causos, quando era menino molecote e morava na roça à beira de uma rodovia de cascalho lá no sertão de Piritiba, lembro muito bem desses grupos de tropeiros que passavam em minha porta. Ah, que saudades daqueles tempos quando ainda se sentia o calor humano!
Final de tarde eles chegavam e pediam o rancho para meu pai que os acolhia com muito prazer porque também adorava prosear e contar estórias e histórias de gentes do mundo dos vivos e dos mortos. Ariavam as bruacas de couro, alforjes e outros pertences dos burros e mulas; soltavam os animais cansados e suados na pastagem e aí cuidavam logo de acender um fogo para assar a carne seca, fazer o café e cozinhar alguma coisa.
Mesmo pobre e roceiro vivendo das adversidades das secas, quando tinha, meu pai entrava na roda com um aipim, a batata e farinha. Estava feito o banquete do fogo a lenha, uma trempe, para começar os casos e causos. Eu adorava ouvir essas conversas até tarde da noite, melhor ainda nas fases de lua cheia que prateava todo terreiro.
Ah, existiam alguns tropeiros que traziam consigo uma viola, uma sanfona ou outro instrumento para cantarolar aquelas músicas antigas de raiz que falavam dos costumes e hábitos do povo, maioria das vezes nordestino. Muitos vinham cortando a Chapada Diamantina e outros eram provenientes de Feira de Santana e até do Recôncavo.
O que eu achava bom mesmo é ouvir os casos e causos dos tropeiros com meu pai. Iam dos coronéis valentões e seus capangas que surravam seus trabalhadores; tomavam terras; e mandavam matar quem resistia suas ordens. Figuravam ainda nos papos, as histórias do cangaço de Lampião, da Coluna Prestes, moças virgens que se perdiam, retirantes das secas, de gente usurária mesquinha, até de visões de fantasmas (assombrações) que apareciam nas bocas das noites.
Não faltavam também as lendas folclóricas brasileiras da mula sem cabeça que tinha fogo no lugar da cabeça e vivia entre cavalos e vacas, o boitatá, curupira, o boto-cor-de-rosa, caboclo d´água, negrinho do pastoreio, o saci pererê, a cuca, a caipora e do lobisomem.
Este último personagem me deixava mais com medo e algum tropeiro contava que conhecia uma pessoa que virava lobisomem em noite de sexta-feira de lua cheia. Bom também era ouvir os fatos escabrosos que aconteciam em outras cidades, de traição de mulheres e famílias que se matavam por questões de terra.
UNS PEQUENO METIDO A KAIKAI
Chico Ribeiro Neto)
é controverso
a traça comeu
o último verso?
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biba esperta
mostra a cara
e entra na fresta
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papagaio sexólogo
foi parar
no fonoaudiólogo
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formiga nenhuma
sai da fila
pra tomar uma
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me conta a vizinha
pinguim na Barra
pediu um Capelinha
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engano
livro pequeno
orelha de abano
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dessa dor do lado
só depois da morte
fico sossegado
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tá na cara
gente feliz
coisa rara
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olha lá
perto de morrer
quis ver o mar
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não deixa, não
senão tartaruga
vira gavião
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toma jeito, rapaz
assim não vai pra frente
nem pra trás
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vixe
jiló
virou maxixe
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onde já se viu?
ela deixou aqui
e sumiu
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ficou rouco
viu o santo
do pau oco
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você não entende
o que se ama
se compreende
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porra
o céu
tá uma zorra
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veja só
aquela cara
dá dó
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escrita pequena
ponta da Bic
palavra serena
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sopra, dona Maria
caiu um cisco
na poesia
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pintor, calma
toda cor
tem alma
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meleca problema
embaixo da poltrona
do cinema
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
O VELHO E O TEMPO
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Sinto aquele aperto
De tristeza em meu peito,
Como rio seco em seu leito!
Angústia de arrebentar,
Quando você tomba ferido,
E ninguém aparece,
Para sua mão levantar.
É uma pontada doída,
Um alarido sofrido,
Sem vontade de amar,
Nem o velho e o tempo,
Que não dá pra sentir
O balanço do vento,
E as ondas do mar.
O velho e o tempo,
De derrotas e melancolias,
Vitórias e alegrias,
Amores que magoei:
Dizem que ele tem sabedoria,
O velho, ou o tempo?
O velho roga ao tempo,
Com lágrimas clementes,
Que apague as más recordações,
De tanta coisa que você estragou,
Mas o tempo vil carrasco,
Cruel inquisidor,
Impiedoso responde:
Está colhendo o que plantou.
O velho e o tempo:
Um procura curar sua dor,
O outro só lhe mostra
A flor que você machucou.
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