USO CONDENÁVEL DAS EMENDAS
Carlos González – jornalista
Tenho plena certeza, amigo e colega Jeremias Macário, que a ferida causada pela punhalada nas costas que você recebeu no domingo (6) não iniciou ainda o processo de cicatrização, porque não existe um medicamento para a cura de uma traição. Você carregará essa cicatriz, infelizmente, para o resto da vida, mesmo que vá residir, como pretende, no meio do mato, trocando a companhia dos “civilizados” pelos bichos.
Sem recursos, mas com um discurso objetivo, mostrando o porquê de querer ampliar sua ajuda ao município, você colocou os pés nas ruas sem calçamento da periferia, a cata dos votos de uma parcela da população esquecida pelo poder público de Vitória da Conquista. Você recebeu tapas nas costas, junto com promessas e pedidos de ajuda, mas também foi alvo da revolta dos menos favorecidos contra a classe política.
Você partiu para essa luta desigual, consciente de que ia enfrentar uma corja que briga sujo, usando o dinheiro como arma. Foi sua estreia e, ao mesmo tempo, sua despedida da política. Na verdade, a convite da sociedade civil conquistense você já deveria estar ocupando uma cadeira na Câmara de Vereadores, ou numa outra casa parlamentar de maior projeção, logo após se aposentar.
Sem um mandato, salvo a indicação do jornal “A Tarde”, Jeremias dedicou mais de 30 anos de vida a serviço de Conquista, sem obedecer a horário. Na condição de chefe de uma sucursal de um grande periódico, o jornalista é um plantonista 24 horas. Líder de um poder virtual, – a Imprensa -, na época, o quarto da República, Jeremias fez mais por este município do que muitos prefeitos e vereadores.
Há 50 anos, quando “A Tarde” deixou a Praça Castro Alves, no Centro de Salvador, mudando-se para a Avenida Tancredo Neves, seu único vizinho era, na margem esquerda, a sede e a pista de corridas do Jóquei Clube. Hoje, a avenida, com seus prédios, restaurantes, bancos e escritórios luxuosos, e o maior shopping da Capital, é considerada como o centro financeiro da cidade.
A Sucursal de “A Tarde” foi um polo de desenvolvimento, não só de Conquista, como de todo o Sudoeste. Exerceu aqui a mesma função que a sede do jornal empreendeu nas regiões do Iguatemi, Caminho das Árvores e Pituba. Pessoas e instituições procuravam o jornalista quando precisavam da divulgação de um evento, de uma ajuda ou de uma denúncia contra o poder público. Hoje, Jeré, essa gente nem lhe cumprimenta com um “bom dia”.
Assistimos a uma das mais vergonhosas eleições neste país, onde o dinheiro correu solto, sem o menor rubor no rosto dos políticos, que usaram as emendas parlamentares – cerca de 70 bi este ano -, para eleger ou reeleger seus afilhados. Veículos carregados com maços de notas de 50 e 100 reais foram apreendidos pela Polícia Federal (PF) em estradas carroçáveis, para serem usadas na compra de votos nas periferias das cidades, onde a fome é um dos maiores flagelos.
Essas emendas, objeto da pressão do Congresso sobre o presidente Lula, distorcem a disputa eleitoral. Um exemplo é Campo Formoso (71 mil habitantes), no norte da Bahia, governado por Elmo Nascimento (União), irmão do deputado federal e presidente do União Brasil, Elmar Nascimento.
Campo Formoso recebeu este ano 53 mi “derramados” pelo filho dileto, que usou de sua influência política na estatal Codevasf para presentear seu mano com máquinas, tratores e caixas-d’água. Conquista, com quase 400 mil habitantes, obteve 23 mi em emendas. E o Elmo, que aqui teve 7.189 votos nas eleições de 2022, com o apoio declarado da prefeita Sheila Lemos (União), não nos reservou nem uma caixa–d’água.











