O mundo animal tem suas especificidades e cada um age à sua maneira na luta pela sobrevivência, como o homem que o chamam de racional. Este mata por matar e não para se alimentar do outro. As hienas, os lobos e raposas, por exemplo, atacam os animais mais fortes, como a onça e o leão, em bandos e têm suas próprias estratégias e técnicas para dominá-los e saciar sua fome.

Neste final de semana estava em meu quintal e observei por horas o ataque das formiguinhas chatas miúdas, que surgiram das mínimas frestas e gretas, contra uma lagarta daquela grande de coqueiro. Notei que ela estava parada e enfraquecida no chão porque cortei o coqueiro de tanto elas terem roído as palhas. Foi a única saída para eliminar a praga diante do desperdício de colocar veneno. Essas formiguinhas têm um faro inacreditável.

De repente apareceu um batalhão delas e foram para cima da lagarta. Ela se estrebuchava, se virava, se enrolava em forma de caracol e se arrastava lentamente, mas as formigas não desistiam das picadas, não davam trégua. Dei uma de cientista biólogo e fiquei acompanhando aquele embate infernal.

De certo ponto fui até masoquista, pois poderia muito bem ter separado a lagarta das formigas e lá estaria eu como salvador herói e benfeitor, mas resolvi ver até onde ia a resistência do bicho. Na tentativa de desvencilhar das miudinhas, ela se arrastou por um metro toda ferida das picadas, mas nada de falecer.

Caramba, pensei comigo, ela tem sete vidas dos gatos e é mais dura na queda do que as baratas que resistem até a bomba nuclear! Imaginei um bando de formigas ou abelhas de ferrão me atacando. Ficaria desesperado de tanta dor e poderia parar no hospital.

Tão miúdas contra uma gigante! No entanto, o que estava contando ali era a união de dezenas delas e a persistência para conseguirem seu objetivo final. Já era final de tarde esfriando e as formiguinhas sumiram. Avaliei que elas detestam a frieza da noite.

Depois dessa luta, lá ficou a lagarta inerte, mas ainda com um resto de vida, como um ser em estado terminal. Deixei em seu mesmo lugar. No outro dia, já no ambiente mais quente, apareceram as mesmas formiguinhas e aí foram só fazer a refeição.

Existe aquele ditado na política, no setor empresarial e na vida social de “trabalho de formiguinhas” quando a situação ou o quadro está difícil de se reverter, como o avanço da extrema direita no Brasil. A esquerda, por exemplo, esqueceu desse trabalho das “formiguinhas” para manter e ampliar seu espaço de conscientização política do povo.

Contra um monstro dragão, um só não tem condições de combater, mas um conjunto unido e determinado pode fazer a diferença e a tarefa de eliminá-lo. O mal é que nos tempos atuais, principalmente, a humanidade se tornou mais ainda individualista e egoísta, do cada um que se vire e o resto que se dane.

Por onde andam as manifestações e as mobilizações populares para reverter essa decadência e comodismo? A banda está tocando desafinada, meu amigo! Uma formiguinha só jamais iria paralisar a lagarta, mas o bando, sim, cada uma fazendo a sua parte. Isso poderia ser uma fábula e dela tirarmos as lições, no bom sentido.