VOCÊ ME EMPRESTA ESSE LIVRO?
(Chico Ribeiro Neto)
“Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos. Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças” (Fabrício Carpinejar).
“Ela nunca me devolveu “O Pequeno Príncipe”. “O essencial é invisível para os olhos”.
A última vez em que vi o grande jornalista baiano Jorginho Ramos (que nos deixou em abril deste ano) foi na saída do Bom Preço do Chame-Chame. Ele, que era diretor da biblioteca do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, me convidou para ir lá. Falei que iria ao IGHB para conhecer os livros raros. Não deu tempo. Falamos também do saudoso historiador Cid Teixeira e Jorginho lembrou uma frase dele: “Burro não é quem empresta o livro; burro é quem devolve”.
– Você me empresta esse livro? Prometo lhe devolver em 15 dias, no máximo. (Já se vão 8 anos).
Um amigo tinha um recibo impresso (tipo de biblioteca) onde constavam nome do livro, de quem pegou emprestado e a data de devolução.
“Livro de empresta
Se vai não volta
Se volta não presta
Triste do livro que se empresta!” (Tarcísio Araújo).
“Quem empresta, nem para si presta” (ditado popular).
Tem gente que não pega o livro emprestado, rouba mesmo. Um colega do Colégio Central, na década de 60, roubava livros na antiga Civilização Brasileira, na Rua da Ajuda, em Salvador. Na hora em que a livraria estava com muito movimento, ele pegava um livro numa mesa que ficava pelo meio, entre as estantes, folheava-o com toda a calma, como quem lê o prefácio, assinava o nome rapidamente na primeira página e colocava o livro na mochila. Caso fosse apanhado no flagra ele reagiria: “O livro é meu, veja que já está assinado!” Nesse dia em que o acompanhei, deu tudo certo, mas fiquei apenas de olheiro. Acho que Deus deve perdoar quem rouba livros para ler.
Outro amigo costumava surrupiar livros da Biblioteca Pública do Estado, mas não sei qual era a tática. Por falar em biblioteca, o jornalista Alberto Oliveira resolveu recentemente doar cerca de mil livros, alguns raros. Diz ele: “Não vi destino melhor que uma biblioteca pública. Fui à Juracy Magalhães, no Rio Vermelho. Fizeram-me uma exigência: enviar, por email, uma lista de todos os livros, fotografando-os um a um, para que pudessem decidir se aceitam a doação. É evidente que não insistirei em levar livros a quem, aparentemente, deles não precisa”.
As pessoas também emprestam dinheiro, mais difícil de devolver do que o livro.
“Antes de emprestar dinheiro a alguém, verifique de qual dos dois você gosta mais” (ditado popular).
“Um banco é um lugar que te empresta dinheiro se conseguires provar que não necessitas dele” (Bob Hope).
Vamos emprestar mais beleza à nossa alma. Tomara que ela não devolva.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)











