junho 2024
D S T Q Q S S
 1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
30  

:: jun/2024

“CRISE CLIMÁTICA E SEUS IMPACTOS NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA”

A canalização subterrânea do rio Verruga que nasce no Poço Escuro e atravessa a cidade, a liberação de condomínios em suas margens e nascentes, entre outras agressões ao meio ambiente, poderão no futuro próximo provocar grandes enchentes e estragos materiais e humanos em vitória da Conquista.

A advertência é do professor Altemar Amaral Rocha, doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona e pesquisador da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em palestra feita ontem à noite (10/06), na Câmara de Vereadores, promovida pelo partido Rede, que compõe a Federação junto ao PSOL.

Com o tema “Crise Climática e seus Impactos no Município de Vitória da Conquista”, os trabalhos foram abertos pelo presidente da Rede, professor José Itamário, quando, na ocasião, lembrou das tragédias ocorridas pelas chuvas no estado do Rio Grande do Sul onde as tempestades e enxurradas ceifaram a vida de mais de 200 pessoas e provocaram prejuízos incalculáveis na economia local.

Em sua palestra, o pesquisador da Uesb fez um relato histórico da fundação do Arraial de Nossa Senhora das Vitórias até se tornar em Vila Imperial pelo fundador João Gonçalves da Costa, quando aqui chegou no meado do século XVIII, desbravou o Sertão da Ressaca e abriu várias estradas para o sul e para o norte de forma predatória, inclusive exterminando os índios descentes dos Pataxós (Mangoiós e Imborés).

Com relação aos tempos mais atuais, fez duras críticas ao relaxamento dos governantes municipais quanto à liberação de projetos imobiliários próximos às margens do rio Verruga, especificamente na parte leste da cidade, alertando para o acontecimento de desastres se Conquista receber pesadas chuvas num volume de 100 milímetros,

De acordo com ele, na situação de 50 milímetros ou mais, já está ocorrendo alagamentos e fortes enxurradas, principalmente nas ruas São Geraldo, Ascendino Melo e na Praça Victor Brito onde as águas caem no canal do rio Verruga até as imediações do Gancho em direção a Itambé.

A partir dali, até as imediações da Uesb, a prefeitura, transgredindo o código ambiental, concedeu autorização para construção de condomínios às margens do rio que no futuro podem ser inundados e causar vários estragos no futuro – ressaltou o professor.

Sobre o aterramento de nascentes em outras partes da cidade, justamente nas encostas da Serra do Periperi e adjacências, afirmou que essas mudanças climáticas vão afetar mais os pobres, constituídos por cerca de dois terços da nossa população de mais de 300 mil habitantes.

Altemar citou também os constantes alagamentos que já vêm acontecendo no Bairro Lagoa das Flores em decorrência de agressões cometidas à nascente do rio Catolé. Sobre todo esse cenário, nada animador, disse que vem empreendendo pesquisas há 30 anos e observando o desrespeito às leis contra o meio ambiente.

A depredação da Serra do Periperi, desde a abertura da Rio-Bahia (BR-116), na década de 1960, quando se deu a exploração predatória de pedras e areias para obras de construção civil, durante mais de 30 anos, foi outro ponto questionado. Quando chove, todo material restante da Serra desce dos bairros mais altos e provoca sérios estragos nas ruas da cidade.

Durante o vento, que contou com as presenças de membros do PSOL e de outros partidos, vários pronunciamentos condenaram a atual gestão da prefeita Sheila Lemos, dizendo ser um governo corrupto e que vem passando por cima da legislação ambiental, colocando a cidade em risco.

CÂMARA REALIZA SESSÃO ESPECIAL SOBRE MATRIZES DO NOSSO FORRÓ

A ausência de representantes da Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer – Sectel foi criticada pela maioria dos participantes da sessão especial sobre matrizes do forró, proposta pela vereadora Lúcia Rocha, e realizada na Câmara Municipal de Vereadores. Muitos parlamentares não se fizeram presentes ao ato, o que foi também lamentável, tratando-se da importância do assunto para valorização da nossa cultura nordestina.

Essa sessão é promovida todos os anos pela vereadora no mês de junho, dedicado aos santos São João, Santo Antônio e São Pedro, buscando o resgate das festas juninas. Lúcia Rocha destacou a identidade cultural que representa o São João para o povo nordestino. Ela disse ser fundamental preservar e valorizar essas tradições e manter o senso de pertencimento das comunidades.

Segundo Lúcia, as matrizes do forró formam a base desse rico mosaico cultural, cada um trazendo suas características únicas e contribuindo para a pluralidade do forró como um todo. Como todos outros membros da mesa, a parlamentar cobrou mais valorização aos artistas da terra e pontuou sobre a ausência da Sectel.

O jornalista, escritor e ativista cultural do Sarau A Estrada, Jeremias Macário também usou da palavra quando fez duras críticas sobre a descaracterização que vem ocorrendo no forró nos últimos anos com a introdução de artistas e bandas de fora que tocam outros ritmos. Citou a lamentável ausência de prepostos da Secretaria de Cultura e afirmou que estão trocando o Gonzagão pelo Safadão.

Na ocasião, parabenizou a vereadora pela realização anual da sessão matrizes do forró, que envolve muito além da música, passando pela alimentação, moda e linguagem. Apontou que governos e prefeituras trocam forrozeiros e bandas tradicionais por outros ritmos alheios à cultura junina, como no caso específico do Governo do Estado e do município de Vitória da Conquista, especificando as contratações de Safadão e de Amado Batista.

Falou ainda o instrutor de forró Vinícius Gomes que cobrou avanços na valorização do forró e da dança para além do projeto junino, quando o forró ganha maior notoriedade, “A gente dança forró o ano inteiro”. Ele cobrou mais projetos culturais relacionados ao forró e à dança fora do período junino.

O produtor cultural Vadinho Barreto afirmou que os festejos juninos são uma expressão de fé do povo nordestino e profunda manifestação cultural. No Nordeste, em sua avaliação, os festejos são também expressões de devoção a Santo Antônio, São João e São Pedro.

O representante do Grupo de Quadrilha Junina Flor de Panela, Thiago, indagou aos presentes quantas pessoas sabem responder o número de grupos de quadrilhas em Vitória da Conquista. “ É algo difícil de se responder, pois pouco se comenta sobre os grupos de quadrilhas”. Adiantou que, em se tratando da terceira maior cidade da Bahia, Conquista deixa muito a desejar no que se refere ao incentivo aos grupos e movimentos juninos.

Assinalou as dificuldades enfrentadas pelos grupos de quadrilhas no sentido de realizar suas atividades e, como exemplo, citou o seu. Declarou que praticamente não existe apoio do poder público. Relatou que para manter os eventos muitos realizam pedágios em semáforos da cidade para arrecadar recursos.

O vereador Marcus Vinícius (PODE) se declarou apaixonado pelo forró e informou sobre o projeto do Festival de Música que ele pretende implantar em Conquista, com objetivo de promover a valorização da cultura conquistense. O seu colega Augusto Cândido, MDB, criticou a ausência de representantes do poder executivo na sessão e declarou que a Secretaria de Cultura foi convidada. Deveria se fazer presente, respeitando a Câmara e o município”.

 

 

“DA VIRTUDE GENEROSA”

“Quanto mais você cresce, mais você sente sofrimento” – disse Nietzsche em seu livro “Assim Falava Zaratustra”. No capítulo “Da virtude generosa”, Zaratustra deixou seus discípulos na cidade de nome “Vaca Malhada” e falou que queria prosseguir sozinho porque era amigo das caminhadas solitárias.

Antes disso, indagou por que o ouro tinha alcançado o seu mais alto valor. “Por ser raro e inútil, de brilho cintilante e brando. É somente por ser imagem de virtude suprema que o ouro se tornou o valor supremo. A virtude suprema é uma virtude generosa”.

Ao pregar sobre o amor, assinalou que, na verdade, é preciso que esse amor generoso se faça de todos os valores sua presa, “mas eu chamo sadio e sagrado esse egoísmo”.  Ele se referia à ambição da pessoa querer se converter em vítima e oferenda. “Por isso tendes a sede de acumular todas as riquezas em vossas almas”.

Nietzsche falou sobre outro egoísmo, aquele ”demasiado pobre que morre de fome, que quer roubar sempre, o egoísmo dos doentes, o egoísmo doente”.

“Com olhos de ladrão olha tudo o que reluz, com a avidez da fome mede aquele que tem abundantemente do que comer e sempre gira em torno da mesa dos que dão”. Ele perguntou aos discípulos qual coisa parecia pior de todas, e respondeu ser a degenerescência quando falta generosidade à alma.

“Caminhamos para as alturas, ultrapassando a espécie para atingir a espécie superior, temos horror ao sentido degenerado, o sentido que diz: Tudo para mim”. Para o filósofo, o sentido quando voa para o alto, torna-se imagem do nosso corpo, imagem de uma ascensão.

“Assim caminha o corpo, ao longo da história, evoluindo e lutando. E o espírito? Que é ele para o corpo? É arauto, companheiro e eco de suas lutas e vitórias”. Prosseguiu afirmando que todos os nomes do bem e do mal são imagens. Louco é aquele que delas (imagens) quer receber o conhecimento. Recomendou ter atenção a qualquer um dos momentos em que vosso espírito quer falar em imagens. “Ali está a fonte da virtude”.

Ao dirigir-se novamente aos seus discípulos, aconselhou que permanecessem fiéis à terra com todo poder de vossas virtudes. “Que vosso amor generoso e vosso conhecimento estejam a serviço da terra”.

“O espírito, bem como a virtude, tem-se extraviado e enganado assim de mil maneiras até agora em seu voo. Ai! Ainda agora habita em nosso corpo toda essa loucura e esse desvio: Tornaram-se corpo e vontade”

“Lutamos ainda passo a passo com o gigante Acaso e sobre a humanidade inteira reinou até hoje o absurdo, a falta de sentido”. Ensinou que o espírito e a virtude sirvam para o sentido da terra. Deveis ser lutadores e criadores. De acordo com Nietzsche, o corpo se purifica pelo saber e se eleva com as tentativas conscientes. Para aqueles que conhece, todos os instintos se santificam.

Em sua visão, a terra ainda deverá se tornar um lugar de cura. O homem que busca o conhecimento não só deve poder amar seus inimigos, mas também odiar seus amigos.

Ele fala também em festejar com seus discípulos o meio-dia, fazendo uma alusão à vida. “E o grande meio-dia será quando o homem estiver na metade de seu trajeto, entre o animal e o super-homem, se mantiver firme, como sua esperança suprema, e festeja seu caminho para o ocaso, porquanto será o caminho para uma nova manhã”.

O que declina, em sua opinião, se abençoará a si mesmo por estar passando para outra esfera. E o sol de seu conhecimento atingirá o zênite. Para Nietzsche, todos os deuses morreram. Agora queremos que viva o super-homem.

FESTAS JUNINAS EM TORCA DE VOTOS

Carlos González – jornalista

A última relação divulgada pelo jornal “A Tarde”, com base em dados fornecidos pelo Painel da Transparência nos Gastos Públicos com Festejos Juninos, mais de 300 municípios, de um total de 417 na Bahia, ainda não tinham enviados a programação das festas populares deste mês. Em ano de eleições, não há como fugir à regra, os prefeitos, em busca de um novo mandato, utilizando de artifícios na contabilidade, gastam o que não podem em festas e publicidade.

O Painel foi criado pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP/BA). Trata-se de mais uma ferramenta de fiscalização, apropriada para este período do ano, que, em parceria com os tribunais de contas e outros órgãos estaduais e federais, está acompanhando a gestão eficiente dos recursos públicos.

Os gestores municipais estão obrigados a informar a natureza dos recursos empregados nos eventos artísticos promovidos entre 1º de maio e 31 de julho. Os primeiros 171 informes já foram encaminhados ao MP, revelando investimentos acima de R$ 195 milhões, empregados na contratação de 1.615 atrações, o que dá R$ 1,1 milhão para cada um, valor que não corresponde à realidade dos gastos, confessados pelos próprios prefeitos..

A consulta pública aos dados enviados pelo Estado e pelos municípios foi aberta esta semana pelos órgãos fiscalizadores. Além dos valores dos cachês pagos aos cantores e bandas contratados, os interessados terão acesso aos horários e locais das apresentações. O “Transparetômetro” será atualizado diariamente.

O Painel não menciona quais as punições previstas para aqueles que agirem fraudulentamente, uma prática tão comum, subentendida nas licitações públicas, ou no desvio de verbas destinadas à educação e à saúde.

Vamos nos afastar um pouco do calor da fogueira junina, lá no interior do Nordeste, para entrar no arraial dos políticos, todos de olho nas eleições de outubro. Nossa primeira visita é a Vitória da Conquista, cuja prefeitura foi alvo recentemente de investigações da Controladoria Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF), com o objetivo de desarticular uma organização criminosa que atuava na Secretaria de Saúde do município, no período mais agudo da pandemia.

A “Operação Dropout” constatou irregularidades na aquisição de testes rápidos para detecção de Covid-19, no valor total de R$2.030.000,00. As licitações foram dispensadas porque havia urgência em evitar o avanço da doença e, consequentemente, promover a preservação de mais vidas. A empresa escolhida pelo município em duas compras foi a que apresentou o preço mais alto, gerando um superfaturamento de R$ 677.600,00. No ano eleitoral de 2020, Conquista recebeu mais de 31 milhões em recursos federais, destinados exclusivamente às ações de enfrentamento ao coronavírus.

Voltando aos festejos em homenagem aos santos de junho, notamos que a prefeita Sheila Lemos, candidata à reeleição, tem priorizado o entretenimento, ao contrário do seu antecessor e padrinho político, o evangélico Herzem Gusmão.

Em anos anteriores, no único palco montado na cidade, desfilavam artistas da região. Este ano, acompanhando a sistemática de governo de Bruno Reis, seu companheiro do União Brasil e prefeito de Salvador, Sheila apostou nos shows ao ar livre, com artistas conhecidos no país (Elba Ramalho, Ivete Sangalo, Targino Gondim e outros), pagando cachês altos.

Neste primeiro semestre, os conquistenses curtiram uma micareta; no momento, visitam e assistem shows na 53ª Exposição Agropecuária, no Parque Teopompo de Almeida, instalada com recursos do município; e, nos próximos dias, participarão da programação musical do São João, no centro da cidade e na zona rural. Portões abertos para o povo em todos os eventos.

Se não há cobrança por parte daqueles que foram eleitos com a finalidade de fiscalizar os atos do Executivo, no caso, a Câmara de Vereadores, a plebe permanece sem saber quanto seu alcaide está “torrando” em festas, com a agravante de que, segundo pesquisa, entre dez bandas que vão subir ao palco no interior da Bahia apenas duas cultivam o ritmo que consagrou Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

Em Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, a prefeitura calcula gastar R$ 10 milhões com ornamentação da cidade e contratação de artistas; em Tucano, no nordeste baiano, o prefeito Ricardo Maia Filho pretende gastar R$ 3 milhões com pagamento aos artistas. A título de exemplo, Wesley Safadão vai faturar a bagatela de R$ 1,9 milhão para se apresentar nas duas cidades.

No século 27 aC, o imperador romano Otávio Augusto criou a política do “pão e circo”, que consistia em distribuir entre os miseráveis pão e trigo e em promover espetáculos no Coliseu.

O objetivo era manter os plebeus alienados, evitando qualquer possibilidade de revolta social contra os privilégios da burguesia.

Cientistas políticos afirmam que no Brasil, desde o período colonial, os gestores públicos mantêm viva a prática do “pão e circo”.

A doutrina assistencialista seria o “pão”; os festejos populares simbolizariam o “circo”. A finalidade é despolitizar a classe pobre para que ela continue votando nos tiriricas, negacionistas e corruptos; para que ela se afaste dos veículos sérios de comunicação e se apegue aos “fake news” distribuídos pelas redes sociais.

 

 

 

 

O CAFÉ ACABOU DE ACABAR

(Chico Ribeiro Neto)

A gente sofre várias chateações domésticas. O coador de papel, quando você puxa um, sempre vem dois.

Dizem que “o pão do pobre só cai com a manteiga pra baixo”.

Você tá todo ensaboado e a água vai embora. Coisa muito chata: acordar de manhã e ver a pia cheia de pratos e panelas sem lavar. E ainda deixaram aberto o tubo da pasta de dente.

Aprendi com os antigos: nunca guarde roupa pelo avesso e nunca deixe sandálias e sapatos virados para baixo. Dá azar.

Faxineira quase sempre dá problema. Ela muda a ordem dos móveis da casa sem lhe consultar: “Ah, Seu Chico, o sofá aqui fica melhor”. Tenho um amigo que a faxineira resolveu arrumar os livros dele por tamanho.

Não gosto que coloquem comida no meu prato. Meu avô Chico Ribeiro tinha essa mania: “Esse menino não tá comendo nada. Chiquinho, coma mais um pouquinho de ensopado”, e tascava duas colheres cheias no meu prato. Tia Nina dava o arremate final e lascava três pedaços de abóbora no meu prato: “Abóbora é vitamina pura!”

Pior ainda é quando você vai na casa de alguém e servem uma torta horrível. Você tá fazendo esforço pra engolir e a dona da casa avisa: “Se quiser mais, é só pedir”.

Morei alguns anos em pensão quando estudante. Tinha uma nos Barris que não servia leite, cada hóspede que comprasse sua lata de leite e a levasse para o café da manhã. Começaram a roubar as latas nos quartos, Você escrevia seu nome no rótulo de papel que era arrancado pelo larápio. O jeito era gravar com canivete seu nome na própria lata. Depois do almoço serviam uma xícara de cafezinho. Um procurava distrair você numa conversa enquanto outro colocava uma colher de molho de pimenta no seu cafezinho.

Graças a Deus, nunca tive vizinho pidão, mas minha amiga já teve. Sua vizinha pidona toda semana faltava café na casa dela. Quando ela sentia o cheirinho de café pela área de serviço, corria logo pra lá com a garrafa térmica (o quente-frio) em punho: “Ô, boa tarde, você pode me arranhar um pouquinho de café, porque o meu acabou agora”. Um dia, minha amiga, já calejada de tanta pidição, respondeu: “Que coincidência, o daqui de casa também acabou de acabar!”

Mamãe Cleonice vem da cozinha da nossa casa, em Ipiaú (BA), com uma panela de café com leite, mexendo com uma colher para esfriar e colocar na xícara de cada um dos meninos: Luiz, Zé Carlos, Cleomar e Chico. Até hoje ouço o barulho da colher girando na panela e lembro o cheiro e o gosto desse café da infância que enchia minha xícara de amor.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

A CAATINGA E O MEIO-AMBIENTE

Cinco de junho foi comemorado o Dia do Meio-Ambiente e a nossa caatinga tem sido um dos biomas mais castigados pela ação predadora do ser humano. O Conselheiro disse que um dia o sertão iria virar mar. Contrariando sua profecia, diria o contrário, que o sertão está se tornando num deserto. Em algumas partes do nosso Nordeste, mais de 60% no semiárido, em algumas regiões a terra está se transformando em sal. Um vasto deserto já é visto em outras áreas. A seca tem sido um fenômeno que tem contribuído para isso, mas a mão do homem é mais pesada através da retirada da sua vegetação para as carvoarias, sem falar na ação predatória do solo. Muito tem se falado dos pampas, do pantanal, da Amazônia e do cerrado, e pouco da nossa caatinga, o único bioma existente na face da terra, esquecido pelos governantes. Com o aquecimento global, a caatinga cada ano fica mais quente, com temperaturas que chegam até 50 graus. As imagens clicadas da nossa máquina dizem tudo.

MEU BEM-TE-VI AMIGO

Do poeta e cordelista José Walter Pires, do seu livro “Crepusculares” – Sonetos

Sinto que, aos poucos, flui uma amizade

Com o meu bem-te-vi, que, confiante,

Desce de uma mangueira, e, saltitante,

Pousa no meu quintal com liberdade.

 

Esvoaça com sua agilidade,

De um lado ao outro, olhando o circunstante,

No seu trilar festivo e cativante,

Sem demonstrar qualquer temeridade.

 

Que volte sempre e pouse sem receio,

Pois não irei fazer-lhe nenhum mal

Com essa relação que tanto anseio.

 

Assim, nessa constância, robustece,

O apego que, de forma natural,

Nasce desse avoar que me embevece.

 

ESSA NOVELA DO TELEMARKETING NUNCA SE ACABA E NÃO TERÁ FINAL FELIZ

Há muito tempo, os órgãos do governo e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) anunciam medidas para as empresas de telemarketings pararem de atanazar as pessoas com ligações e mensagens indevidas nos celulares. Elas se fazem de ouvidos moucos e passam por cima das tais leis nos tirando do sério e nos estressando.

Os representantes desses organismos recomendam que os usuários e consumidores façam suas reclamações e notificações junto à Anatel, aos Procons e juizados de primeiras causas. Ameaçam com multas pesadas, como se fosse mesmo para valer. É tudo um faz de conta. Mais parece uma novela sem final.

Ora, neste país, sabemos muito bem que os poderosos não pagam multas, só os pobres que não têm advogados para recorrer. Contra agressores do meio ambiente, por exemplo, “aplicam” multas de milhões de reais, mas sabemos que não pagam. Isso também é fake news. Se fosse tudo verdade, a empresa entraria em falência. Nos fazem de bestas e subestimam nossa inteligência.

As pessoas hoje vivem em correrias, preocupadas com seus problemas e preferem a simples ação do recusar e deletar do que passar mais raiva se deslocando de seus lugares para dar queixas, sabendo que o processo é lento, burocrático e termina apenas numa advertência à empresa abusadora. Além do mais, nossa Justiça continua sendo morosa para os mais pobres e cega para os ricos.

Na verdade, poucos se atrevem a fazer suas reclamações e terminam se decepcionando porque não conseguem os resultados esperados depois de tanta perda de tempo e se irritar. Por sua vez, fazer uma reclamação virtual à Anatel via internet é um terror. O sistema não funciona e a pessoas passa horas para ser atendida. Depois de muito tempo, seu protocolo fica lá esquecido no sistema, ou no lixo como antigamente.

Na grande maioria, funcionário público no Brasil presta um péssimo serviço ao usuário por causa da maldita estabilidade vitalícia. Por que muita gente tira um diploma somente com intuito de fazer um concurso público? A resposta está na ponta da língua.

Depois de um determinado tempo, o servidor concursado se acomoda e trata o consumidor em geral com desdém e menosprezo. Ainda existe uma lei onde o brasileiro não pode “desacatar” quem está do outro lado do balcão, mas quem está fora para resolver seu problema tem que ficar calado e aguentar a falta de humor do estabilizado no emprego, que só pode ser demitido por justa causa, em casos raros.

Nem todos, mas muitos optam pelo concurso público porque não têm coragem de enfrentar uma empresa privada onde o empregado tem que mostrar produtividade e se for relapso pode ser demitido. Terminei enveredando por outro assunto, mas uma coisa puxa outra.

O profissional do telemarketing só cumpre ordens do patrão para no final do mês dar resultados, senão vai para o olho da rua. Com seu corpo de advogados, a empresa sabe muito bem como burlar as leis, feitas para os poderosos. Os representantes dos órgãos governamentais falam duro para ficarem bem na fita e nós ficamos com caras de abestalhados acreditando neles.

UMA SOCIEDADE FÚTIL E IMBECIL

Há noventa anos nascia o escritor e filósofo italiano Umberto Eco e, em uma de suas tantas entrevistas, disse que, com o advento da internet, do celular e das redes sociais, a nossa sociedade se tornaria mais fútil e superficial. Ele era também um estudioso da comunicação midiática.

A sua visão não pode ser considerada como uma profecia, mas uma reflexão sobre os rumos do ser humano e sua decadência mental frente ao avanço da revolução tecnológica da informática, não que ela não seja benéfica se bem utilizada.

Sobre a internet, ele afirmou que produz muito ruído, pois há muita gente a falar ao mesmo tempo. “Faz-me lembrar quando na ópera italiana é necessário imitar o ruído da multidão e o que todos pronunciam é a palavra “rabarbaro”.

“As mídias sociais deram o direito à fala de legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito a fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.

Bem, citei aqui alguns pensamentos de Eco sobre internet e redes sociais, para colocar meu ponto de vista sobre como eu vejo o mundo de hoje sobre esta questão. Como uma onda de besteirol consegue arrastar milhões de seguidores imbecis?  Como chegamos a este nível? Será o vazio humano espiritual?

Uma “blogueirinha” consegue atrair mais público numa plateia de qualquer evento cultural do que um Prêmio Nobel de Literatura, ou o maior pensador filosófico. O tal do influenciador digital se tornou numa “profissão” mais admirada. Se Cristo surgisse na era atual com seus ensinamentos profundos, será que teria tantos seguidores na internet?

Entendo que a revolução da informática, como a industrial, pegou a humanidade desprevenida, isto é, numa curva descendente do ler e saber pensar em termos de conhecimento, principalmente em se tratando da nossa juventude, ainda uma criança entusiasmada com seu brinquedinho, ou um adolescente eufórico quando se depara com coisas novas. Quando a internet chegará à sua idade de maturidade? Ainda vivemos na adolescência.

A internet tornou-se o mundo da fantasia para uma grande maioria que, sem sentido para a vida, ou pelo menos para sua existência como criatura, viu nela o seu deus material para realizar suas ilusões, sem perceber que tudo é efêmero e passageiro.

Por esse prisma, na ponga de uma humanidade em decadência de saber e de lideranças espirituais e políticas, a inversão de valores ocupou sua supremacia na história onde o fútil passou a ser o mais admirado e seguido.

Dia desses estava vendo na tv um lutador, que fica nos ringues tirando sangue e dando pancadas na cabeça e por todo corpo do seu adversário, como dois selvagens primitivos dos tempos dos gladiadores romanos, se glorificar que teve 250 mil visualizações nas redes sócias enquanto fazia uma tatuagem no braço, no formato de uma mordida humana.

O mais irônico é que a nossa grande mídia, a qual se coloca como combatente da linha de frente contra as mentiras e fake news nas redes sociais, é a maior incentivadora e divulgadora desses fúteis influenciadores digitais que deixam nossos jovens mais histéricos e até se tornam imorais. É essa mesma mídia a maior criadora dessa sociedade fútil, que faz questão de manchetar o besteirol.

COMO PARTICIPAR DESSA POLÍTICA?

O NOSSO SISTEMA ELEITORAL É COMO SE FOSSE UM VELHO BARCO CHEIO DE BURACOS POR TODOS OS LADOS EM ALTO MAR.

Na minha concepção, política deveria ser, acima de tudo, seriedade, lealdade e compromisso para com a população, com a sociedade e sua comunidade. No entanto, infelizmente, não tem sido assim que funciona. Sempre é feita de conchavos, negociatas escusas e traição contra o povo porque não se cumpre as promessas feitas em campanhas.

Por tudo isso, as pessoas boas têm procurado se afastar da política e tem muitos que nem querem falar nesse assunto, quando ela poderia ser a mola propulsora para a solução dos problemas do país. Nos bons tempo, nas décadas de 50 e 60, os jovens já começavam cedo a fazer política nas escolas através dos grêmios, das associações dos estudantes secundaristas e da própria UNE (União Nacional dos Estudantes).

Nos tempos atuais, esta categoria está afastada por vários fatores, como alienação, em decorrência do baixo nível educacional, e consequente rebaixamento cultural (falta de leitura com o advento do celular), mas, sobretudo, porque nossos políticos, a partir da redemocratização do Brasil após a ditadura civil-militar-burguesa, transformaram a política em jogo de interesses particulares, fizeram do público coisa privado e deram as costas para o povo.

Os partidos políticos cresceram como uma praga do Egito e muitos viraram barrigas de aluguel. Dentro dessas agremiações políticas existe uma espécie de ditadura interna, tanto da direita como da esquerda, e o pior, com várias correntes e tendências de pensamento “ideológico” que só fazem separar ao invés de unir os membros em torno do seu princípio programático.

Pertenço, por exemplo, ao PSOL de Vitória da Conquista, mas não estou aqui falando em nome do partido que está enfraquecido, desorganizado (muitos caíram fora) e agora vem sendo teleguiado pela estadual, cujo presidente quer impor sua ditadura e mandar no diretório municipal. Isso desgosta, decepciona e frustra as pessoas sérias que intencionam dar sua contribuição como militante.

A esquerda de hoje não faz mais política em suas bases de origens, como junto aos estudantes, ao operariado e dentro dos movimentos sociais que foram abandonados pela militância que passou da cachaça para o uísque escocês. Ela hoje se enroscou com a burguesia e a elite para se manter no poder. Dá apenas umas cestas e uns auxílios como caridade.

A esquerda condena tanto a ditadura, mas entra em contradição quando seus dirigentes e diretórios usam esses métodos condenáveis dentro do próprio partido, como se fossem donos. Na maioria das vezes, quando dos apoios a determinados candidatos, as decisões saem de cima para baixo sem ouvir seus membros filiados. Passam o rolo compressor nas representações regionais e até intervém quando não aceitam o que eles querem.

É aí que as pessoas mais sérias e bem-intencionadas caem fora dessa bandalheira, dessa falta de respeito com as bases onde a democracia é alijada do processo. Temos um Congresso Nacional conservador, dominado pelas maracutais, penduricalhos e interesses próprios. Diante desse cenário nada alentador, os jovens, os honestos e éticos se afastam dessa política, ou politicagem. Esse cesto de frutas podres deixa de fora quem tem pretensão de entrar na política.

Temos ainda um sistema político eleitoral arcaico, desleal, desproporcional, burocrático, que se requer muitos milhões de reais para se eleger. É outro fator negativo para o afastamento da política. É difícil para quem está de fora, com boas intenções, entrar nesse esquema bruto e competir de igual a igual contra aqueles que já estão lá dentro com a máquina na mão, sem contar ainda com esse negócio de cotas que só faz criar mais ódio e intolerância.

Não estou aqui para ser o arauto da verdade, do exemplo de pessoa correta que tem a razão como única e absoluta, mas meu propósito é só fazer uma reflexão e indagar do porquê a quase maioria não quer mais saber de política e nem se engajar nela? Confesso que eu mesmo me sinto decepcionado e desestimulado com o que vejo e tenho consciência de que minha voz não tem eco nesse árido deserto.

Agora mesmo vem aí mais uma eleição municipal e já começaram as negociatas por cargos, as mentiras, as imposições de nomes, os xingamentos, as propagandas falsas e os esquemas inescrupulosos.

O mais desrespeitado é o eleitor, embora continue a ir à urna votar por favores, sem consciência política e manipulado como nos tempos dos coronéis. Na verdade, meu amigo e amiga, o voto ainda é comprado e vendido.

Permanece o voto de cabresto, e nossos jovens não estão preparados para escolhas conscientes e livres.  Sei que é difícil dizer isso, e posso ser execrado com antiquado, mas não tenho medo de falar o que penso, mesmo com o risco dos julgamentos contrários.

Nessa nossa democracia, repleta de falhas e vulnerável, é pura balela se falar em eleições livres neste nosso país. O eleitor que vota por um favor recebido, por simpatia ou porque o candidato ou candidata são bonitos, não está sendo livre, mas induzido por uma ilusão de que está exercendo sua cidadania de liberdade democrática.

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia