COMO PARTICIPAR DESSA POLÍTICA?
O NOSSO SISTEMA ELEITORAL É COMO SE FOSSE UM VELHO BARCO CHEIO DE BURACOS POR TODOS OS LADOS EM ALTO MAR.
Na minha concepção, política deveria ser, acima de tudo, seriedade, lealdade e compromisso para com a população, com a sociedade e sua comunidade. No entanto, infelizmente, não tem sido assim que funciona. Sempre é feita de conchavos, negociatas escusas e traição contra o povo porque não se cumpre as promessas feitas em campanhas.
Por tudo isso, as pessoas boas têm procurado se afastar da política e tem muitos que nem querem falar nesse assunto, quando ela poderia ser a mola propulsora para a solução dos problemas do país. Nos bons tempo, nas décadas de 50 e 60, os jovens já começavam cedo a fazer política nas escolas através dos grêmios, das associações dos estudantes secundaristas e da própria UNE (União Nacional dos Estudantes).
Nos tempos atuais, esta categoria está afastada por vários fatores, como alienação, em decorrência do baixo nível educacional, e consequente rebaixamento cultural (falta de leitura com o advento do celular), mas, sobretudo, porque nossos políticos, a partir da redemocratização do Brasil após a ditadura civil-militar-burguesa, transformaram a política em jogo de interesses particulares, fizeram do público coisa privado e deram as costas para o povo.
Os partidos políticos cresceram como uma praga do Egito e muitos viraram barrigas de aluguel. Dentro dessas agremiações políticas existe uma espécie de ditadura interna, tanto da direita como da esquerda, e o pior, com várias correntes e tendências de pensamento “ideológico” que só fazem separar ao invés de unir os membros em torno do seu princípio programático.
Pertenço, por exemplo, ao PSOL de Vitória da Conquista, mas não estou aqui falando em nome do partido que está enfraquecido, desorganizado (muitos caíram fora) e agora vem sendo teleguiado pela estadual, cujo presidente quer impor sua ditadura e mandar no diretório municipal. Isso desgosta, decepciona e frustra as pessoas sérias que intencionam dar sua contribuição como militante.
A esquerda de hoje não faz mais política em suas bases de origens, como junto aos estudantes, ao operariado e dentro dos movimentos sociais que foram abandonados pela militância que passou da cachaça para o uísque escocês. Ela hoje se enroscou com a burguesia e a elite para se manter no poder. Dá apenas umas cestas e uns auxílios como caridade.
A esquerda condena tanto a ditadura, mas entra em contradição quando seus dirigentes e diretórios usam esses métodos condenáveis dentro do próprio partido, como se fossem donos. Na maioria das vezes, quando dos apoios a determinados candidatos, as decisões saem de cima para baixo sem ouvir seus membros filiados. Passam o rolo compressor nas representações regionais e até intervém quando não aceitam o que eles querem.
É aí que as pessoas mais sérias e bem-intencionadas caem fora dessa bandalheira, dessa falta de respeito com as bases onde a democracia é alijada do processo. Temos um Congresso Nacional conservador, dominado pelas maracutais, penduricalhos e interesses próprios. Diante desse cenário nada alentador, os jovens, os honestos e éticos se afastam dessa política, ou politicagem. Esse cesto de frutas podres deixa de fora quem tem pretensão de entrar na política.
Temos ainda um sistema político eleitoral arcaico, desleal, desproporcional, burocrático, que se requer muitos milhões de reais para se eleger. É outro fator negativo para o afastamento da política. É difícil para quem está de fora, com boas intenções, entrar nesse esquema bruto e competir de igual a igual contra aqueles que já estão lá dentro com a máquina na mão, sem contar ainda com esse negócio de cotas que só faz criar mais ódio e intolerância.
Não estou aqui para ser o arauto da verdade, do exemplo de pessoa correta que tem a razão como única e absoluta, mas meu propósito é só fazer uma reflexão e indagar do porquê a quase maioria não quer mais saber de política e nem se engajar nela? Confesso que eu mesmo me sinto decepcionado e desestimulado com o que vejo e tenho consciência de que minha voz não tem eco nesse árido deserto.
Agora mesmo vem aí mais uma eleição municipal e já começaram as negociatas por cargos, as mentiras, as imposições de nomes, os xingamentos, as propagandas falsas e os esquemas inescrupulosos.
O mais desrespeitado é o eleitor, embora continue a ir à urna votar por favores, sem consciência política e manipulado como nos tempos dos coronéis. Na verdade, meu amigo e amiga, o voto ainda é comprado e vendido.
Permanece o voto de cabresto, e nossos jovens não estão preparados para escolhas conscientes e livres. Sei que é difícil dizer isso, e posso ser execrado com antiquado, mas não tenho medo de falar o que penso, mesmo com o risco dos julgamentos contrários.
Nessa nossa democracia, repleta de falhas e vulnerável, é pura balela se falar em eleições livres neste nosso país. O eleitor que vota por um favor recebido, por simpatia ou porque o candidato ou candidata são bonitos, não está sendo livre, mas induzido por uma ilusão de que está exercendo sua cidadania de liberdade democrática.