Os berberes muçulmanos de Túnis, Argel e Trípoli tiravam mais proveito em termos de espólios do que de escravos quando invadiam navios mercantes em alto mar na região do Mediterrâneo. De um modo geral eram nobres e bispos da Igreja Católica que transportavam bens de valor, principalmente joias preciosas. Em terra, os escravos eram em sua maior parte camponeses e pescadores, sem muito valor de resgates.

Quando uma embarcação estava prestes a ser atacada geralmente os passageiros mais notáveis procuravam se disfarçar com roupas mais simples e até com aventais de marujos, mas muitos terminavam confessando suas identidades por intermédio de espancamentos e torturas. Outros jogavam seus pertences no mar e fugiam em barcos. Porém, muitos eram pegos de surpresa e apanhados como escravos.

Carpinteiros, oficiais da marinha e armadores eram valiosos no mercado de escravos para os serviços dos reis corsários e sultões, tanto que nem eram vendidos pelo que valorizavam. Outros eram levados para o mercado denominado de “badistão” para serem comercializados ou resgatados pelos seus reis. Cada traficante tinha direito a uma cota das apreensões de acordo com a função e o financiamento investido na incursão.

Havia algumas semelhanças nos métodos adotados entre a escravidão africana no Atlântico e a muçulmana contra os cristãos, mas nada que se iguale em dimensão dos empreendimentos e aos sofrimentos impostos aos africanos. Haviam correntes, trancas e até chibatadas, mas muitos brancos eram até bem tratados e melhor alimentados quando tinham boa serventia no mercado.

Essas descrições da escravidão branca entre os séculos XVI até final do século XVIII estão no livro “Escravos Cristão, Senhores Muçulmanos”, do historiador Robert C. Davis, quando ele deixa claro que a escravidão branca ou de cristãos se tratava mais de uma represália religiosa sofrida pelos mouros quando foram perseguidos pelas Cruzadas e expulsos da Península Ibérica. Os países mais atingidos foram a Espanha, França Itália e Portugal.

Na Itália, por exemplo, por volta de 1566, os corsários acabaram se apossando de uma imensa faixa litorânea que eles conquistaram sem a menor resistência. Naquela época, as autoridades recomendavam a evacuação da população. Muitas cidades e vilarejos eram abandonados.

Mais tarde, quando os corsários piratas voltavam para novos saques encontravam largos territórios litorâneos desabitados. De acordo com testemunhas, foi assim que eles assolaram e deixaram em ruínas a Sardenha, a Córsega, Sicília, a Calábria, as costas de Nápoles, Roma, Gênova e litorais da Espanha.

A estudiosa Mirella Mafrici, por exemplo, forneceu vasto material para fundamentar as alegações feitas por observadores sobre o despovoamento levado a cabo por essas incursões escravistas por terra. Diz o autor ser mais provável que as mulheres de haréns e casas de famílias na Berbéria tenham vindo de vilarejos costeiros do que de navios capturados.

Quando os invasores levavam um grande grupo de mulheres reprodutivas, isso se tornava um duro golpe para as comunidades que já estavam em crise demográfica, dificultando sua recuperação populacional. Diversas cidades de médio porte ficavam abarrotadas de refugiados. Isso ainda era melhor para os corsários e reis atacarem porque levavam uma maior quantidade de escravos.

No entanto, pelos meados do século XVII, esses locais foram mais reforçados e as investidas dos muçulmanos se tornaram mais raras. As incursões ficaram mais arriscadas. Quando as cidades de médio porte passaram a construir muralhas e torres de proteção, os corsários passaram a focar em presas mais frágeis, como habitações isoladas, monastérios e até indivíduos sozinhos. Eles procuravam disfarçar suas embarcações como se fossem de cristãos. Os remadores eram amordaçados para não entregar o jogo.