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:: 15/dez/2023 . 23:42

A COMERCIALIZAÇÃO DOS ESCRAVOS CRISTÃOS, RESGATES E A CONVERSÃO AO ISLÃ

As investidas dos muçulmanos da Berbéria (Argel, Túnis e Tripoli) na captura de escravos brancos ou cristãos na costa da Espanha e da Itália, por mar e por terra, tiveram seus picos durante o século XVI e uma queda a partir dos séculos seguintes porque as províncias costeiras se estruturaram melhor para combater os corsários reis, sem contar a queda populacional dessas regiões.

Muitos cristãos escravizados se convertiam ao islã, livremente ou forçados pelos turcos muçulmanos. Outros, por vingança contra os nobres da terra retornavam como renegados traidores se integrando o grupo de captores. Os corsários em terra, às vezes, optavam em pedir os regates nos próprios locais das apreensões. Como a maioria não tinha dinheiro para pagar, terminava recorrendo a intermediários que se apossavam dos bens dos capturados.

Esses relatos estão no livro “Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos”, do historiador e escritor Robert Davis, especialmente no capítulo “Captura e Comercialização dos Escravos” onde ele cita que nos tempos do cônsul inglês em Trípoli, Thomas Baker, o rapto de escravos no Mediterrâneo era de fato algo como uma “vocação legítima”.

“Ao longo de todo século anterior (XVI), essa foi uma prática desempenhada em larga escala por cristãos e muçulmanos (hostilidade imperial entre os Habsburgos e Otomanos), para quem a captura de prisioneiros escravos em campo de batalha era a recompensa tradicional em razão da vitória nos conflitos inter-religiosos armados”.

Os confrontos armados entre os turcos e seus aliados e as forças cristãs da Espanha, Itália e Portugal levaram milhares de cativos para os mercados de escravos em Fez, Argel, Constantinopla, Malta, Livorno, Lisboa e Marselha. Por parte turca, segundo ele, a prática de escravização de cristãos foi elevada a uma espécie de política estatal, principalmente entre os anos 1530 e 1570, quando Kheir-ed-din Barbarosa e Dragut Reis foram nomeados pelo sultão de Constantinopla e os vice-reis da Berbéria como almirantes de suas frotas.

Eles podiam atacar o Mediterrâneo quando bem quisessem, bloqueando portos, como Gênova e Nápolis, ameaçando Roma e saqueando dezenas de cidades litorâneas de médio porte na Espanha e na Itália. As incursões eram praticamente anuais, como a do Hassan Pasha, em 1582, um renegado Veneziano, paxá de Argel, e comandante de 22 galés e galeotas com pelo menos 1500 janízaros soldados.

De acordo com Robert, “os traficantes de escravos do Atlântico se especializaram em transportar e vender cativos, mas raramente se envolviam em outros tipos de comércio ou no trabalho sujo e potencialmente perigoso de capturar sua própria mercadoria para despachar na Passagem do Meio”.  Em sua visão, essa atividade era deixada para Estados Africanos rivais ávidos para vender negros cativos, capturados em batalhas ou incursões.

No entanto, não era isso que os historiadores narravam. Os capitães de navios e armadores de escravos africanos também se envolviam em outras negociatas arriscadas na venda de produtos clandestinos e até armas.  Quanto aos berberes, conforme o autor do livro, nunca conseguiram criar uma logística tão diversificada de abastecimento ou distribuição.

Na questão da escravidão branca, existia um clima de conflito imperial e jihad que predominou na Bacia do Mediterrâneo ao longo do século XVI, bem como pela liberdade individual de empreender durante o século XVII. Quando o comércio era frutífero, não era difícil atrair uma boa tripulação. Muitos homens entravam na empreitada até mesmo sem salário.

Uma viagem bem-sucedida que trazia navios, bens e escravos podia transformar todas as partes envolvidas em pessoas ricas, até mesmo os escravos que recebiam uma quantia suficiente para depois comprar suas liberdades.

O historiador conta que a grande maioria dos cristãos escravizados na Berbéria era apanhada quando os corsários tomavam os navios em que eles viajavam ou raptados durante as incursões nas ilhas mediterrâneas ou nas costas da Espanha, Itália e na Grécia.

No século XVI os ataques terrestres eram mais frequentes e deixavam os povoados e cidades em pânico. Muitos fugiam para as montanhas deixando bens para trás. Províncias ficaram despovoadas por muitos anos. Milhares de aldeões começaram um grande êxodo para as grandes cidades, como Nápoles e Palermo. Muitas vezes, as investidas litorâneas costumavam render mais do que os ataques às embarcações. As defesas costeiras eram pouco guarnecidas.

 

 

 





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