novembro 2021
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  

:: 18/nov/2021 . 23:50

GRUPO “APODIO” DISCUTE SITUAÇÃO DO TEATRO CARLOS JEHOVAH

Desde outubro, um grupo de jovens denominado de “Apodio” vem discutindo e chamando a atenção da sociedade conquistense para a situação do Teatro Carlos Jehovah. O movimento tem realizado reuniões presenciais em frente ao equipamento cultural, colocando em pauta vários assuntos e produzindo vídeos, desenhos e imagens, inclusive com proposta de uma ação judicial em defesa do teatro.

O grupo tem mantido contatos com artistas e influenciadores da cidade, inclusive com a diretoria do Conselho Municipal de Cultura. De acordo com os participantes, o local onde está o mercado popular é de bastante visibilidade, sendo necessário saber como a prefeita está se articulando com relação ao espaço, pois existem conversas de uma possível demolição.

CONSULTA POPULAR

Qualquer decisão, segundo o grupo, precisa haver uma consulta popular, argumentando não ser a primeira vez que há a intenção de mudar a cultura para um lugar menos visível. “Não há investimento em cultura e na história da cidade. Tinha um grupo que contava a história de Conquista em uma peça de teatro e passei a entender a cidade através dessas pessoas” – diz um integrante do grupo.

Eles relatam que o teatro foi construído, em 1982, (tecnicamente bem planejado em termos de luz, espaço e acústica) como parte de um movimento do próprio Carlos Jeovah, que promovia festivais e elaborava espaços artísticos, influenciando muito no cenário cultural da cidade. Lembram que 20 anos depois, o teatro foi desativado por falta de iluminação e deficiência em suas instalações físicas.

Agora, conforme assinala o grupo, O teatro volta à mesma situação, e muitos nem sabem que existe. O “Apodio” defende a melhoria do espaço (existem poucos equipamentos) e a não demolição como se tem cogitado. Entre as melhorias, apontam a necessidade de mais mesas com canais e placa de sinalização mais visível onde está situado o estacionamento. “A cultura não precisa só de talentos e amor à arte, mas também de políticas públicas para continuar a existir”.

Para o grupo, ampliar o Carlos Jehovah não é uma boa ideia, pois a estrutura dele proporciona uma relação única com o público. A proposta é que o teatro esteja sempre aberto durante o dia para que as pessoas possam visitá-lo. Outra sugestão é melhorar o mercado de artesanato. Os membros do grupo querem saber sobre a proposta concreta do poder executivo sobre o destino do espaço, criticando as outras administrações que não deram importância para o teatro.

RESPONSABILIDADE E TOMBAMENTO

O grupo “Apodio” defende uma agenda construída pela sociedade onde o poder público assuma a responsabilidade pelo seu funcionamento, porque se trata de um espaço público. “Ficamos num ciclo em que os movimentos se formam, as pessoas vão para fora em busca de novas oportunidades, e o movimento morre de novo”.

A presidente do Conselho de Cultura, Hendye Graciele, presente em um dos encontros, parabenizou o trabalho do grupo e prestou seu apoio a todos que estão nessa articulação de reativar o teatro. “O espaço tem uma dimensão simbólica, econômica e cidadã, e é importante por estar no centro da cidade. O teatro e o Centro de Cultura não anulam um ao outro. Ele tem sua função para outros tipos de apresentação, necessária para os artistas. Não precisa destruir um equipamento cultural para construir outro. Temos que caminhar no sentido da utopia de ter um teatro em cada esquina” – afirmou.

Hendye assinalou que a gestão anterior do Conselho se aproximou muito dos artistas, “e eu acompanhei muito o trabalho de implementação da Lei Aldir Blanc e outras ações. Estamos atentos para dar continuidade a este trabalho”. Declarou ser importante levar essa discussão para dentro do Conselho de Cultura no sentido de que a Secretaria de Cultura abrace essa causa do grupo. Na ocasião, comunicou que foi enviado um ofício à prefeita solicitando informações sobre a situação do teatro.

O grupo imagina que a prefeitura pode argumentar que o espaço é subutilizado, mas isso não justifica sua possível desativação, rebatendo que a relação com o poder executivo tem sido difícil. Alega falta de apoio suficiente para que os artistas possam sobreviver. “A estrutura física do músico para trabalhar é mais simples do que a do pessoal que atua com teatro. Cada expressão artística precisa de instrumentos diferentes”.

Para Eduardo Nunes, quando um espaço público não tem política pública de manutenção, como equipamentos, circulação de obras/fomento (espaço de ensaios, por exemplo) e formação de novos artistas, fortalecimento da formação dos que já tem experiência/conhecimento e de formação de plateia, fica-se refém desse processo que não avança.

Gustavo Cirino considera que se perdeu uma boa oportunidade de reformar o espaço durante a pandemia. “Foram meses sem poder reunir as pessoas para assistir espetáculos naquele espaço”. Na oportunidade, Eduardo lembrou que o Cine Madrigal está sob a gestão da Secretaria de Educação, quando o aparelho deveria estar com a Secretaria de Cultura. Em sua opinião, o movimento deve ser ampliado para a retomada dos espaços públicos culturais.

Nas falas, comentou-se que a antiga gestão do Conselho de Cultura construiu um diálogo com a associação dos artesãos, e que o momento é oportuno para se pensar em conjunto com o setor para que o mercado de artesanato seja também contemplado nas mobilizações. O tombamento de vários espaços seria um instrumento de proteção para evitar qualquer derrubada de um equipamento cultural da importância como é a do Teatro Carlos Jheováh – destacou integrantes do grupo.

 

“O ÚLTIMO DOS MOICANOS”

Fotos de Jeremias Macário

Por que o Cine Madrigal, o último dos moicanos dos cinemas de rua de Vitória da Conquista, dentre tantos outros que fizeram história na cidade e na Bahia, está sob a gestão da Secretaria de Educação e não com a Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer? É uma pergunta que somente o poder público municipal pode responder, porque não tem cabimento se o equipamento tem tudo para estar no setor da cultura. Quando aqui cheguei era o último que ainda resistia à crise provocada pelos DVDs, onde as pessoas passaram a preferir assistir filmes no conforto de suas casas. Assisti grandes filmes no saudoso Cine Madrigal, que há anos está fechado, mesmo depois da aquisição do equipamento pela Prefeitura Municipal. Soube que seria reativado nos festejos dos 181 anos do aniversário de Conquista, o que não ocorreu. A sociedade continua na expectativa sobre o seu destino o quanto antes. Lamentável que essas decisões não contam com uma consulta popular, inclusive dos segmentos que representam a arte e cultura.

ENTRE ENGAÇOS E BAGAÇOS (VI)

Pelo sertão rachado me embreei em direção a Palmeira dos Índios,

Perto de Quebrângulo onde nasceu um menino calado um Aladim,

Até avistar a escultura do mestre das palavras, “sejam bem-vindos”;

Bateu emoção entrevistar o prefeito-escritor Graciliano Ramos,

De “São Bernardo”, preso em “Cárceres” e viu as “Vidas Secas”,

Onde deixou dar uns pitacos no seu personagem andante Fabiano,

E no enredo coloquei seu encontro com um bando de cigano;

Ainda me convidou para em sua ceia comer cuscuz com aipim;

Mostrar o mapa da sequidão da peste bem ao lado da sua Baleia;

Contar suas histórias nordestinas de gente esquelética crucificada,

Tangida como boiada pela estrada pau-de-arara na rota escravista.

 

Do comunista ateu, bom e justo que dessa gente se compadeceu,

Detido por Getúlio porque tentou socializar nas escolas o ensino;

Anotei tudo como jornalista em meus anais na terra dos marechais;

Dei um nó na alparcata e toquei para a capital Maceió da Pajuçara,

Onde visitei o velho Teodoro da Fonseca, da República dantesca,

E mostrou sua espada que proclamou a coisa pública ser privada.

 

De Alagoas, fui de barco e Jeep pra abraçar meu Sergipe,

E ver a foz do irmão São Francisco reduzido a um cisco,

Engolido pelo voraz mar, empurrando sal que só faz secar;

Visitei ribeirinhos desolados com seus feixes de redes vazias,

Porque os peixes sumiram do rio nessa vastidão de areias,

E pelo agreste triste viajei pelas veias do litoral até Aracaju,

Pra conversar com o intelectual escritor Tobias Barreto,

Com Calazans Neto comi caranguejos na praia de Atalaia,

Onde tomei mais umas pingas com uma moqueca de arraia,

Para pegar estrada até a histórica cidade de São Cristóvão,

Que foi pedida para entrar de vez na minha querida Bahia,

E beber no cantil de Castro Alves, o maior poeta do Brasil,

Condoreiro das espumas que escreveu o “Navio Negreiros”;

Curti com ele a boemia, com mulheres do mal do século;

Aprendi ser romântico realista falando de deuses e escravos,

E vi Castro declamar pra tribos ao lado de reis e guerreiros.

 

Nos engaços bagaços galhos de aço entrei na mística Salvador,

A África brasileira que deu bravos heróis para libertar o Brasil

Do jugo português que dessas plagas toda riqueza nos roubou.

Com Ruy Barbosa, o Águia de Haia das palavras, o maior doutor,

Estive e me disse que de ver o homem prevaricar, viria o tempo,

Com seu vento da desonestidade zunindo virar uma brisa normal;

Do mal ser um bem num país sem decência, vergonhoso e imoral.

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia